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(Maya POV)

Eu organizei mais uma caixa de ferramentas que estava no galpão que havia alugado no estaleiro e limpei minhas mãos no pano pendurado no bolso frontal da minha calça. Desde que eu decidi voltar a cidade, prometi a mim mesma que não iria mais privar minha vida em função dos outros e a empresa de fabricação de veleiros era a prova viva disso. Eu sempre gostei de mar, sempre gostei de velejar, sempre gostei de sentir o vento sobre o meu rosto e as gotas salgadas do mar tocarem a minha pele, mas por algum motivo, meu pai nunca gostou. Quando eu passei para o time de remo do ensino médio, meu pai decidiu não assinar a autorização porque segundo ele, iria tirar o foco do atletismo e que ele, como meu pai e treinador, não poderia contribuir para isso. Eu gostava do atletismo, gostava de esportes no geral, mas naquele momento, eu percebi que não poderia escolher nada além do que meu pai exigia. Aquilo me quebrou. Aos poucos eu fui sendo podada. Meu pai conseguia controlar desde os esportes que eu fazia, passando pela faculdade e até mesmo meus relacionamentos. Bom, até eu conseguir dar um basta, sair da cidade e viver por mim mesma.

— Maya? – Eu virei ao escutar a voz grossa me despertar dos pensamentos que rondavam a minha cabeça.

—Mason! O que faz por aqui? – Eu perguntei surpresa, enquanto ia até ele.

— A Reunião com alguns clientes acabou mais cedo e imaginei que você estivesse por aqui, resolvi fazer uma visita. – Ele disse me dando um abraço rápido. – Trouxe cerveja. – Ele comentou erguendo a sacola que segurava em uma das mãos.

— Bom, não vou negar uma cerveja. – Eu disse com um sorriso. – Vem, vou te mostrar o estaleiro. – Eu fiz um sinal com a cabeça para que ele me seguisse.

Durante alguns minutos nós caminhamos pelo local. Eu aproveitei para lhe mostrar alguns veleiros que estavam em produção e como o processo funcionava, enquanto ele observava tudo atentamente. Eu e Mason sempre tivemos uma boa relação como irmãos, apesar de termos nos afastado nos últimos anos. Ele sempre foi mais quieto e complacente em relação aos meus pais, então, quando eu resolvi ir embora, ele apenas observou em silêncio. Eu sabia que ele estava triste com a situação, mas ao mesmo tempo não teve coragem de esboçar alguma opinião.

— Estou impressionado, de verdade, May... esse lugar está incrível. – Ele confessou assim que nos sentamos em duas cadeiras de praia no deque do lago.

— Não é? Me custou muitas coisas... você sabe... mas valeu cada parte. – Eu concordei abrindo uma cerveja e entregando a ele.

— Obrigado... – Ele disse antes de dar um gole na cerveja e afrouxar no nó da gravata que usava. – Agora eu entendo porque a Carina quer uma casa por aqui... O lugar realmente é bonito. – Ele comentou observando o lago rodeado pelas montanhas verdes e as casas em volta.

— Ela quer? – Eu perguntei bebendo a minha cerveja e ele assentiu soltando uma risada.

— Ela só fala disso desde o churrasco na sua casa. – Ele comentou dando de ombros.

— Ela sabe que você não sabe nadar? Vou te dar duas boias de braço para você nadar aqui no lago quando comprarem uma casa. – Eu o provoquei e ele empurrou levemente meu ombro.

— Fica quieta... – Ele exclamou imitando um tom irritadiço. – E não, ela não sabe e não vamos comprar uma casa aqui. – Ele afirmou observando o lago.

— E porque não? Está com medo de ser meu vizinho? – Eu brinquei e ele soltou uma risada.

— Eu adoraria ter você como vizinha, mas... – Ele travou parecendo pensativo.

The Other BishopOnde histórias criam vida. Descubra agora