Capítulo 2

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Blue

Observo Miles conversar com o desgraçado do William Salvatore. Eles parecem preocupados, mas acima de tudo aparentam ter uma boa relação. Finjo me concentrar no computador, tentando escutar alguma coisa.

— Nenhuma notícia dela? — Miles questiona, passando as mãos pelos cabelos de forma nervosa. — Já faz um ano.

— Sua irmã está em São Francisco. Você sabe o quanto foi difícil para ela ao menos sair da cama depois que... — William responde.

— Que a Angel morreu. — Miles finaliza com a cabeça baixa.

— Dê um tempo pra ela. — ele pede, pegando no ombro do filho. — Sua mãe que não está nada bem com a distância de Felicity.

Reviro os olhos com a simples menção de Alicia Salvatore. Os dois homens olham para mim, e foco rapidamente em algum papel aleatório. Eles se afastam, caminhando até a sala de Miles.

Provavelmente ambos estavam falando de Felicity. Fiquei sabendo por meio de algumas investigações que a sua namorada morreu no ano passado. Apesar de odiar essa família, não posso deixar de sentir compaixão por ela. Eu não aguentaria a dor de perder alguém que eu amo.

Um tempo depois, William sai da sala. Ele me cumprimenta com a cabeça e retribuo com um sorriso falso.

— Blue? — Miles chama com um sorriso. Levanto minha cabeça, mostrando que estou ouvindo. — O que acha de almoçarmos juntos?

Penso um pouco a respeito. Não que eu tenha a mínima vontade de ficar perto dele, mas, pode ser útil para nossa aproximação.

— Claro.

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— O que vai pedir? — Miles pergunta e olho para o cardápio com um pouco de receio.

— Pode ser um sanduíche natural e uma água. — respondo para o garçom que veio anotar nossos pedidos. — Obrigada.

Logo estamos apenas eu e Miles sozinhos na mesa, sentados um de frente para o outro.

— Então, Miles, você sempre quis administrar a empresa? — pergunto como quem não quer nada.

— Na verdade sim. Na minha família há pessoas que exercem outras profissões, mas eu sempre me dei bem com os assuntos da empresa. Meu pai me treinou, e agora estou assumindo o lugar dele. — responde com um sorriso orgulho no rosto.

Me seguro para não revirar os olhos.

— Interessante. Eu nunca conheci meu pai... ele morreu antes de eu nascer. — falo simples, olhando novamente para o cardápio.

— Nossa... eu sinto muito, Blue. — Miles pega na minha mão e encaro esse toque com o cenho franzido.

— Tudo bem. Foi um desgraçado que o matou, mas eu lido bem com as coisas. — respondo, retirando minha mão debaixo da sua.

Miles coça a garganta, desviando seu olhar do meu. Ficamos em um silêncio confortável até os nossos pedidos chegarem. Miles pediu uma lasanha e logo começa a se alimentar enquanto eu encaro meu prato com dúvida.

— Não vai comer? — ele questiona e balanço a cabeça indicando sim.

Mordo um pedaço do sanduíche que pesa na minha barriga quando engulo. Tomo um gole de água, segurando a careta de desconforto. Respiro fundo, voltando a comer devagar.

O almoço foi feito tranquilamente. Eu e Miles conversamos sobre coisas aleatórias como família, faculdade, amigos... Pelo o que percebi, ele não é tão ruim quanto os pais. Mas nunca vou saber de verdade, afinal, ele pode muito bem estar fingindo e não vou cair no seu papinho de bom cavalheiro.

Voltamos para empresa e torço para chegarmos logo no nosso andar. Miles pede para que eu entregue uma planilha até o fim da tarde e assinto com a cabeça, correndo para o banheiro quando ele entra em sua sala.

Ponho a mão bem no fundo da garganta, sentindo a ânsia tomar conta de mim. Alguns lágrimas se formam em meus olhos e continuo com o processo até vomitar todo o meu almoço no vaso sanitário. Quando meu estômago está completamente vazio, deito a cabeça na parede tentando recuperar o fôlego.

Depois de um tempo, dou descarga e me levanto. Observo meu reflexo no espelho e respiro fundo, limpando a mancha preta do rímel que sujou boa parte do meu rosto.

Quando estou no mínimo apresentavel, volto para minha mesa e me concentro em fazer as coisas que Miles pediu.

Estou tão envolvida no trabalho que nem percebo o tempo passar. Apenas me desligo um pouco dos afazeres quando Miles aparece e avisa que meu turno terminou.

— Você quer que eu te dê uma carona ou está com carro? — ele pergunta gentil.

— Eu aceito a carona. — lhe dou um sorriso. Quanto tento me levantar, sinto uma tontura e só não caio no chão porque Miles me segura.

— Opa. — solto uma risada. — Acho que levantei muito rápido e tive um queda de pressão.

Falo e mesmo assim ele me observa preocupado. Reforço que está tudo bem e pego minhas coisas, seguindo para o elevador.

— Confesso que estou impressionado com seu desempenho hoje, Blue. — Miles comenta enquanto a caixa de metal desce até o estacionamento.

— Eu te disse que sou capaz. — respondo piscando um olho.

Nós rimos e sigo Miles até seu carro. Até que é um carro bom. Mas também, sua família sempre foi rica graças ao trabalho sujo.

— Me fale sobre você. Se mudou recentemente, não é? — ele pergunta enquanto dirige até meu apartamento. Afirmo com a cabeça com os olhos focados na estrada. — Mora com alguém?

— Apenas com minha gata. — respondo. — Ela é minha melhor amiga.

— Então você é a senhora dos gatos? _ ele brinca e dou risada.

— Quase isso.

Chegamos em frente ao prédio onde moro e ficamos sem saber o que dizer.

— Bom, obrigada pelo almoço e pela carona. — falo por fim, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

— Não precisa agradecer. Foi um prazer estar em sua companhia. — constata com um sorriso irritantemente bonito.

Assinto com cabeça, retirando o sinto e abrindo a porta do carro. Quando a fecho, ajeito minha bolsa no ombro e mordo o lábio inferior.

— Até amanhã, Blue. — Miles deseja.

— Até amanhã, Miles. — digo, dando as costas e seguindo para o meu prédio.

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Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora