Capítulo 24

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Miles

Sinto uma movimentação do meu lado e abro os olhos com dificuldade, encontrando Blue com a chupeta na mão e o cenho franzido.

— Querida?

Ela se vira para mim, o olhar vago e sem aquele brilho que tanto amo.

— Oi, Miles.

Suspiro, sabendo que a mesma voltou ao normal. Preciso ser forte para ajudá-la com tudo, mas não sei se estou preparado para isso.

— Você está bem? — faço uma pergunta boba. — Sente alguma coisa?

— Eu não me lembro muito bem do que aconteceu. — Blue murmura, tocando a cabeça como se estivesse com dor. — Por que eu estava usando uma chupeta?

Respiro fundo, começando a lhe explicar tudo o que aconteceu até agora. Blue presta atenção em cada detalhe, ficando calada assim que termino de falar.

— Desculpe por dar trabalho. — ela sussurra, abraçando o próprio corpo. — Eu sou toda errada.

Nego rapidamente, trazendo minha menina para os meus braços de forma protetora.

— Não deu trabalho nenhum, meu amor. Não quero que pense isso de você. — digo, acariciando seu rosto. — Você é tão forte, Blue Faulkner. Tenho muito orgulho da mulher que você é, então, por favor, não se menospreze.

— Ela me estuprou.

Fico inerte por alguns segundos assim que as palavras saem de sua boca. Meu corpo trava. Sinto minha boca seca e todos os sentimentos de ódio e revolta voltam com tudo.

Não consigo acreditar no acabei de ouvir.

Não.

Deus, não.

Não minha Blue.

— Blue...

— Sabe com o que? Com a porra de uma arma. — sua voz é como um sussurro esquecido no espaço. — Até isso ela tirou de mim.

— Meu amor, eu sinto tanto. — não consigo evitar as lágrimas grossas que enchem meus olhos. — Lamento não ter te protegido.

— A culpa foi minha. Fui ingênua demais em acreditar nela, na mulher que sempre demonstrou ódio por mim.

Blue não mostra quase nenhuma reação e isso me preocupa.

— Você é boa demais para esse mundo, Blue.

— Eu não mereço estar viva. — fala e sinto meu coração doer com a mínima possibilidade do meu amor morta.

— Pare! — digo firme, a fazendo olhar para mim. — Não deixe as palavras de Morgana entrarem na sua cabeça. É tudo mentira! Blue, o maior presente que recebi foi ter você na minha vida. Você merece estar viva, não por mim, mas por você! Não desista, meu amor.

Blue apenas me observa.

Calada.

Apagada.

— Podemos voltar a dormir? — ela pergunta e penso em negar, mas está tarde e não quero que Blue vivencie as lembranças ruins.

— Tudo bem, querida.

Me deito novamente, esperando Blue voltar para os meus braços. Mas não acontece e penso que ela pode estar com medo.

O simples pensamento me quebra.

Sem falar nada, a trago para perto, deixando sua cabeça encostada no meu peito.

— Pode mamar. — digo, sabendo muito bem que isso vai acalmá-la. — Eu te amo, minha Blue. Nunca se esqueça disso.

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— Bom dia. — cumprimento minha família assim que entro na cozinha.

— Bom dia. — eles respondem juntos.

— Onde Blue está? — mamãe pergunta.

— Dormindo. Ontem, de madrugada, ela voltou ao normal. — conto, recebendo olhares surpresos e preocupados. — Estou preocupado com ela. — admito, deixando meus ombros caírem.

— Vamos ajudá-la no que for preciso. — meu pai afirma, pegando na mão da mamãe. — Estamos aqui.

— Obrigado, gente. Por toda ajuda e apoio. — sorrio, mas logo esse sorriso some ao lembrar do que Blue me revelou ontem à noite. — A Morgana ela...

Não consigo dizer.

Não quero revelar algo que talvez Blue não esteja pronta para contar, mas é necessário.

— Estuprou a Blue.

A mesa é preenchida por um silêncio mortal. Minha mãe deixa o talher cair no prato e olha para mim como se o diabo estivesse na sua frente.

— Como? — ela pergunta, mas sei que entendeu muito bem.

Não consigo falar nada, somos interrompidos por Blue que aparece na cozinha e vem até mim. Ela é rápida em levantar minha blusa e começar a mamar, o que me leva a crer que voltou ao seu estado infantil.

— Falamos disso depois. — alerto, me concentrando em Blue que mantém os olhos fechados.

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— Fala assim, Blue: Miles é um cabeça de vento. — Eros brinca com Blue, fazendo minha menina rir com suas palhaçadas.

— Não sei quem é a criança, você ou a Blue. — provoco, recebendo um polvo de pelúcia no rosto.

— Não pode chamar o papai de bobo, Eros. — Blue repreende, a carinha brava adorável. — Assim ele deixa sem o mama.

— Bem, eu não mamo. Depende da ocasião, mas... — jogo de volta a pelúcia no seu rosto.

— Por que não mama o tempo todo? É tão bom o leitinho! — Blue grita, de forma inocente.

Meu irmão começa a rir descontroladamente e nego com a cabeça, pegando Blue que antes estava no chão.

— Deixa brincar, papai. — ela tenta ir para o chão, mas a seguro bem. — Deixa!

— Agora precisa tomar as vitaminas. — lhe entrego dois comprimidos, agradecendo por Blue não ter dificuldade para engolí-los.

— É ruim. — ela vira a cabeça. — Posso ganhar moranguinho depois?

— Pode sim, amor.

Blue toma direitinho os remédios e a coloco no chão novamente, onde ela volta a brincar com seus brinquedos ao lado de Eros.

— O que acha de sair para jantarmos? — pergunto a Eros que entrega o bloquinho para Blue. Flor está dormindo do meu lado enquanto acaricio seu pelo. — Blue vai adorar aquele restaurante.

— Tendo comida, vou até jupiter.

Dou risada, gostando da aproximação que estamos tendo nos últimos dias. É bom saber que sempre posso contar com a minha família.

Tenho muito sorte em tê-los.

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Notas da autora:

Quatro capítulos em um dia? Isso foi realmente bom! Espero que tenham gostado dessa pequena maratona, vou tentar manter o nível de postagens diárias 💗

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora