Capítulo 16

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Blue

Pisco várias vezes ao avistar a figura sentada na poltrona a alguns metros. Minha mãe sorri de um jeito diferente, de um jeito como nunca vi. Quase como se fosse... um sorriso verdadeiro.

Ela veste uma roupa simples, pouca maquiagem lhe enfeita o rosto e me pergunto o que levou Morgana Faulkner a se vestir assim.

A mesma sempre foi tão elegante.

— Ah, meu amor. — ela vem até mim, passando os braços a minha volta em um abraço apertado. — Temos tantas coisas para conversar.

— O que... o que faz aqui? Por que voltou? — pergunto, assustada. — Mamãe, por favor, aquela família... eles não são pessoas ruins.

— Sobre tudo... você tinha razão. Eu passei metade da vida nutrindo um ódio por Alicia e William Salvatore pelo o que eles fizeram ao seu pai, mas vi que não havia necessidade. Seu pai errou, infelizmente, então pagou caro por isso.

— O que?

Agora estou confusa.

Essa mulher a minha frente não se parece nem um pouco com mamãe.

Por que mudou de opinião?

Ela sempre nutriu um ódio mortal pelos Salvatore.

— Estou doente, Blue. — ela conta, soltando um suspiro.

— Doente?

Ela assente tristemente.

— Tumor maligno no cérebro. O médico informou que tenho entre seis a oito meses de vida.

Sinto meu chão cair. É muita informação descarregada em menos de dois minutos. Me sento no sofá, abraçando o próprio corpo enquanto soluços me escapam.

Sei que Morgana não foi a melhor figura materna no mundo, mas ainda sim é minha mãe, e saber que tem poucos meses de vida, me deixa arrasada.

— Oh, mamãe... eu sinto muito! — choro novamente, logo sendo acalentada por ela.

Nunca recebi um abraço assim de sua parte.

É... bom.

— Pensei muito esses últimos meses. Quero esquecer todo esse ódio e recuperar o tempo perdido com minha filhinha. Desculpa a mamãe, Blue. — ela também chora.

— Claro que eu perdoo você, mãe.

Morgana me fez muito mal. Carrego sequelas até hoje, mas finalmente tenho o que sempre quis. O arrependimento e amor de sua parte.

Mas agora, só poderei aproveitar por pouco tempo.

— A senhora tem certeza que nada pode ser feito? — pergunto aflita, segurando suas mãos. — Podemos buscar os melhores médicos e cirurgiões do país.

Ela sorri, acariciando meu rosto com carinho.

— Infelizmente, não. Mas não se preocupe, está tudo bem.

Lhe abraço mais uma vez, chorando como uma garotinha perdida.

— Tudo bem, Blue. Mamãe está aqui. — ela repete, enviando um sentimento bom para meu coração. — Agora chega de chorar. Vamos aproveitar esse pouco tempo.

Abro um sorriso, afirmando várias vezes com a cabeça. Meu celular toca dentro na bolsa, retiro o objeto rapidamente na esperança que seja Miles.

— Seu namorado? — mamãe pergunta, interessada.

— Sim! Nós brigamos agora pouco, mas vai ficar tudo bem. — levanto para atender a ligação e me afasto. — Um minuto.

Blue? — ele chama, parecendo desesperado.

Oi, Miles...

Merda, amor. Me desculpe. — sua voz embargada me deixa preocupada. — Não devia ter ido embora. Eu estava, estou na verdade, frustrado com tudo, principalmente comigo por não consegui te ajudar.

— Mas você me ajuda, Miles. Mais do que imagina. Não carregue uma culpa que não é sua.

— Eu te amo, minha Blue.

— Eu também te amo.

— Estou subindo.

Subindo?

Merda.

— Está no meu apartamento?

Sim, comprei besteiras que você gosta e não quero que se preocupe com nada. Você é a mulher mais linda e perfeita do universo.

— Você não pode vir... — digo, andando de um lado para o outro.

Por quê?

— Eu... você não pode.

Fico na dúvida entre contar ou não, tenho medo que Miles não entenda meu lado e entregue mamãe para William.

A campainha soa e me sinto ainda mais nervosa. Antes que eu faça algo para impedir, minha mãe abre a porta onde Miles arregala levemente os olhos ao vê-la.

— Blue, por que ela está aqui? — ele questiona, parecendo se segurar para não demonstrar a raiva.

— Amor, vamos conversar no quarto, okay?

— Blue, ela odeia minha família e quer matar os meus pais! Vai defendê-la?! — sua voz alterada sempre me causa um desconforto.

— Ela está doente, Miles. Não quer mais vingança, apenas aproveitar o tempo perdido.

— Acreditou nessa lorota? Porra, Blue, ela mente! — ele grita, bagunçando o cabelo com uma das mãos.

— Olhe, sei que tenho um passado ruim com seus pais, garoto. Mas tudo o que falei é verdade, então espero que me dê a chance de resolver tudo. — mamãe se pronuncia calmamente.

Miles solta um riso de escárnio.

— Blue, não acredita nela. Ela não ama você, nunca amou. Tudo de ruim que você passou na vida, foi por culpa dessa vadia!

Me sinto confusa e nervosa. Não sei o que fazer ou pensar. E se Miles estiver certo? Mas também, e se minha mãe realmente mudou?

Não quero machucar ninguém.

— Miles... eu preciso pensar. — murmuro, passando os braços a minha volta. — Por favor, entenda o meu lado.

— Você é mais esperta do que isso, Blue.

Seu olhar de decepção me quebra, mas não posso tomar nenhuma decisão agora.

⇷ ⇸ ⇹ ⇺

A Blue é tão inocente...
Ela só queria o amor da mãe :(

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora