Capítulo 6

5.8K 568 65
                                    

1/3

Blue

Presto atenção em cada parte da história que Miles conta para mim, desde o momento em que William conheceu Alicia até todas as coisas ruins que meu pai, Nathan, e minha mãe, Morgana, fizeram.

Eu não posso acreditar nisso...

Preciso seguir os planos que minha mãe planejou, assim ela vai sentir orgulho de mim e quem saber... me amar.

Mas, eu gosto de Miles, gosto muito para dizer a verdade. Não quero machucá-lo, não depois na promessa que fiz.

O que eu faço?

— Seu pai agredia e abusava da minha mãe, Blue. Quase a matou quando ela estava grávida de mim. — Miles conta com pesar.

Meus olhos dobram de tamanho e sinto meu corpo tremer.

Meu pai... foi mesmo essa pessoa horrível?

— Não estou mentindo, se é isso que pensa. Tudo o que Nathan fez, causou grandes sequelas para minha mãe.

— Eu... eu... — as palavras parecem perder o som e apenas encaro Miles.

Tudo está tão confuso.

Uma batida na porta soa. Um mulher alta, cabelos negros e olhos verdes entra no quarto. Ela não aparentar ter mais de cinquenta anos, sua elegância é de se admirar, junto com o lindo sorriso que brilha no rosto da mesma.

— Boa tarde. — ela cumprimenta, caminhando até mim. Por reflexo, acabo recuando. — Sou Alicia, mãe do Miles.

Eu sei quem você é.

— Eu trouxe algo para vocês comerem. Liguei para essa criatura e ele me disse que estavam no hospital.

Continuo calada, observando a sacola que Alicia deixou na pequena mesa ao lado da cama.

— Prometo que minha comida é deliciosa. Fiz algo leve e que tenho certeza que vai gostar. — comenta, sorrindo amigável.

— É verdade, a comida da mamãe é maravilhosa. — Miles constata, encorajando.

— Está melhor, querida? — Alicia pergunta, pegando em minhas mãos. — Você é muito linda.

Sorrio mínimo com o elogio, minha mãe nunca falou algo assim.

É... bom.

— Obrigada. — sussurro envergonhada.

— Posso te abraçar?

— O abraço da minha mãe cura qualquer dor. — Miles comenta, enquanto come.

Assinto lentamente, me assustando um pouco ao sentir os braços de Alicia a minha volta.

É quentinho e... acolhedor.

— Agora, a senhorita tem que comer.

Nego com a cabeça.

— Meu bem, é preciso. Ouviu o que o médico disse, não é? Se quer perder peso, o que por sinal não precisa, esse não é o caminho. Coma e se hidrate, okay?

— Tudo bem. — suspiro derrotada.

Sempre que coloco uma comida na boca, ou tenho vontade de vomitar, ou quero comer mais e mais.

Observo a comida dentro do recipiente, sorrindo com seu cuidado. Tem arroz, frango e legumes cortados em cubinhos, e purê de batatas. Também um suco de caixinha, o que me faz querer chorar.

Me sinto como uma criança...

Mas quase não tive a oportunidade de aproveitar essa fase. Precisei amadurecer rápido demais.

Como um pouco, me preparando para a ânsia. Mas me surpreendo quando ela não vem, a comida ao invés de pesar no estômago, descansa pedindo mais.

Pela primeira vez, como sem me preocupar com calorias, estética e inseguranças.

Ao terminar, Alicia me ajuda com tudo. Fui liberada do hospital, e Miles insistiu em me dar dois dias de folga, o que não vi necessidade.

— Venha jantar conosco hoje à noite. — Alicia convida, enquanto caminhamos até o estacionamento. — Quero que conheça minha família.

Não pise na bola, Blue.

As palavras da minha mãe ecoam na minha cabeça como uma tortura infinita. Não quero fazer mal a família das duas primeiras pessoas que cuidaram de mim e demonstraram tanto carinho e afeto para uma desconhecida.

— Eu... adoraria. — respondo, recebendo um sorriso em troca.

— Preciso ir agora. — Alicia informa, me deixando um pouco chateada. — Se cuida, querida. E lembre-se que você é linda do jeito que é.

Ela me abraça novamente, e sinto vontade de permanecer nesse abraço por um bom tempo.

Em seguida, ela segue até seu carro. Miles faz o mesmo, abrindo a porta para mim.

— Sua mãe sabe? Sobre mim? — pergunto. Ele nega com a cabeça. — Pode não contar por hoje? Mesmo não querendo admitir, gostei da forma carinhosa que ela me tratou. Gostaria de aproveitar um pouco antes que sua mãe me olhe com nojo.

— Minha mãe nunca faria isso, Blue. Ela é a melhor pessoa que conheço. Além do mais, você não tem culpa dos pais que tem. O importante é não agir como eles.

Não digo mais nada, me sentindo culpada. Miles confia em mim, e, de certa forma, continuo quebrando sua confiança ao não contar sobre o que pretendo fazer com seu pai.

Ou pretendia...

Se tudo o que Miles falou for verdade, talvez a parte de William ser uma boa pessoa também seja. Afinal, estou começando a acreditar que meus pais não eram boas pessoas.

⇷ ⇸ ⇹ ⇺

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora