Capítulo 5

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Miles

Ajeito meu terno, não conseguindo parar de rir da situação que ocorreu há alguns minutos. Muitos poderiam ter ficado com raiva, mas eu tento manter tudo o mais leve e calmo. Não valeria a pena me estressar, sei que Blue não fez por mal.

Saio da minha sala, encontrando Blue dormindo em sua cadeira. Franzo o cenho confuso; ela não é de dormir no trabalho.

— Blue? — a chamo, pegando em seu rosto que aparenta estar mais pálido do que o normal. — Blue?

Começo a me preocupar quando não obtenho resposta. A chamo por mais um tempo, mas a loira permanece desmaiada.

— Puta merda. — a pego no colo, seu corpo está fraco e quase não pesa.

Chamo o elevador, que não demorar muito para chegar. Entro com Blue dentro da caixa de metal, me sentindo aflito com o que pode ter acontecido com a mesma.

Corro até meu carro, a deixando bem presa no banco de trás. Em seguida, sigo para o volante, começando o trajeto até o hospital.

Dou graças ao universo por ele não ficar muito longe, e, assim que estaciono no local certo, pego novamente Blue nos braços e caminho até a recepção.

— Bom dia. É uma emergência, minha amiga desmaiou e não sei o porquê. — falo angustiado, recebendo um aceno da recepcionista.

Logo, dois médicos aparecem, avisando que vão levá-la para realizar alguns exames. Preencho seu cadastro, na pressa, não peguei sua bolsa, então não sei qual o seu contado de emergência. Apenas que seu sobrenome é Faulkner/Sanchez.

Estranhamente, esse nome me é familiar...

Um tempo depois, um médico vem ao meu encontro, sorrindo formalmente.

— A senhorita apresenta sinais de anemia grave e desidratação. Há falta de açúcar no sangue e muito provavelmente a paciente enfrenta algum transtorno alimentar. Ela está tomando soro, e aconselho ajudá-la a se alimentar quando acordar. Pode vê-la se quiser, no quarto 130 no primeiro andar.

Ele sai, me deixando atordoado.

A Blue sofre de algum transtorno alimentar? Mas... por que ela nunca me contou?

Ainda com os pensamentos a mil, trato de seguir para o quarto indicado, esperando que Blue esteja acordada para se alimentar e poder conversar.

Ao entrar no quarto, observo Blue encarar a janela com a expressão indecifrável. Assim que ela repara na minha presença, tenta sorrir, o que não dar muito certo.

— O médico explicou sua situação? — pergunto, recebendo um aceno de cabeça. — Quer me falar sobre seu transtorno?

Blue suspira, mexendo as mãos de forma nervosa.

— Tenho bulimia e anorexia... — sua voz não passa de um sussurro, e pego em suas mãos nervosas, tentando reconfortá-la.

— Desde quando?

— Desde os treze anos.

Porra...

— O que aconteceu? Para gerar tudo isso? — volto a perguntar.

— Eu... acho que foi minha mãe. Ela não é... digamos, a pessoa mais materna. Mas sei que ela não faz por mal, apenas quer me livrar de todos os olhares julgadores. — tenta explicar, mas não me interessa o que a mesma fale para defender a mãe; nesse momento, sinto muita raiva dessa mulher.

— Quem ama e quer o bem, não faz isso, Blue. Ela fez uma lavagem cerebral em você. — tento não soar rude, afinal, não quero chateá-la.

— Não. Minha mãe me ama, ela nunca faria isso. — afirma, me fazendo soltar um suspiro.

— Quais outras coisas que ela falou para você? Quais mentiras?

— Ela... — Blue me encara. Seus olhos azuis como safiras transmitem confusão e dor. — Sabe o que é melhor para mim, Miles. O que Morgana disser, eu acredito.

Espera, o que?

Morgana?

Sanchez...

— Qual o nome da sua mãe? — questiono devagar. Blue parece se dar conta da sua frase, e, por algum motivo, tampa a boca assustada. — Sua mãe se chama Morgana?

Não deve ser a mesma da história que mamãe contou certa vez para mim, certo?

— Não. — Blue nega freneticamente, posso perceber pequenas lágrimas se formarem em seus olhos. — Você ouviu errado.

— Seus cabelos... o seu sobrenome. — compressão passa pela minha cabeça. — O que você quer com a minha família?

Acabo gritando, sem me importar no pequeno corpo de Blue que se encolhe ainda mais.

— Não quero nada! Por que pensa mal de mim? — ela pergunta, gritando de volta.

— Porque seus pais são monstros, obviamente você também é um. — digo, sem me importar com seu olhar magoado.

— Eles não são! Os seus sim! Seu pai matou o meu e fodeu com a vida da minha mãe.

Mas que porra é essa?

— Quem te contou essa história? Sua mãe? — pergunto, deixando claro minha ironia.

— Eu acredito nela! — Blue chora, não sei se de tristeza ou de raiva, mas também não me importo.

— Então é tão idiota quando ela.

Limpo a garganta.

Não está certo. Estou julgando Blue pelos erros dos pais dela. Não sei as coisas que ela passava dentro de casa, pelo o que minha mãe contou, Morgana pode ser bem manipuladora.

— Desculpe. — peço, me sentando ao seu lado. — Não deveria ter me exaltado sem ao menos perguntar seu lado da história. Mas preciso saber se posso confiar em você, que não se aproximou de mim a pedido da sua mãe, e que não irá fazer mal para minha família.

Observo suas reações, recebendo uma confirmação.

— Você pode confiar em mim. Não quero fazer nada com você e sua família, muito menos minha mãe. Ela é uma boa pessoa.

Que merda de lavagem cerebral aquela vadia fez?

— Temos muita conversa pela frente. Muita coisa precisa ser explicada. Mas, agora, você vai se alimentar corretamente. Vou pedir comida, ninguém merece essa do hospital. — aviso, pegando meu celular.

Por que sempre tem que haver um problema atrás do outro?

⇷ ⇸ ⇹ ⇺

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora