Capítulo 26

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Blue

1 semana depois

Estou magra.

Mais do que o normal.

Há uma semana não consigo comer bem. Também não voltei com meu lado infantil, o que agradeço por isso. Miles permanece o tempo todo do meu lado, parecendo receoso em me deixar sozinha nem que seja por alguns minutos.

— Querida? Trouxe o seu almoço. — Miles entra no quarto, segurando uma bandeja. — Pedi para o cozinheiro preparar algo leve.

— Não estou com fome.

Ele suspira, deixando a bandeja na mesa.

— Precisa comer, Blue. Sua anemia ainda está presente e sabe que isso pode ser grave.

Sua fala me deixa com raiva.

Muita raiva.

— Eu sei disso! — grito, o assustando. — Mas não me importo. Você pode voltar com sua vida e me deixar em paz. Pode ter uma namorada sem todo esse peso e muito mais bonita. Pode se livrar de mim. Então, por que não o faz? Por pena?

Eu não sei muito bem o que estou falando.

Apenas penso em liberar toda essa raiva, que no fundo, não passa de tristeza.

— Não quero outra pessoa, apenas você. Não entende isso? Não estou com você por causa da beleza exterior, Blue. — Miles se aproxima. — Eu te amo pela pessoa forte e incrível que você é.

— Não sou incrível. Eu me sinto sufocada aqui. — choro, sentindo um aperto no peito. — Eu...

Não termino a frase, tento puxar o ar para dentro mas isso parece falhar. É como se as paredes diminuíssem pouco a pouco e todo medo tomasse conta dos meus pensamentos.

— Ei, querida. — Miles vem até mim, devagar como se pedisse permissão. — Venha aqui.

— Eu-eu mereço tudo isso, Miles? Não sou uma pessoa perfeita, mas nunca causei mau a ninguém. Nem pensei, na verdade. Quando vim até aqui para matar seu pai, não era porque eu queria. Eu juro! — coloco as mãos no rosto, sentindo vergonha. — Me perdoa por ter entrado na sua vida.

Sinto seus braços me envolverem, mas não acalma muito a agitação que se forma dentro de mim.

— Você tem um coração puro e bom, minha Blue. Nunca esqueça disso. — Miles me leva até a cama. — Não peça desculpas por entrar na minha vida, eu que agradeço todos os dias por isso ter acontecido.

— Meu coração dói. — sussurro, ainda agarrada a Miles como se os seus braços fossem uma espécie de casulo protetor.

— Eu prometo que vou te ajudar a curá-lo. Sempre que ameaçar cair, eu estarei aqui para te segurar. Para todo o sempre, Blue.

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Miles termina de pentear meu cabelo, depositando um beijo casto na minha testa.

— Eu tenho mesmo que fazer isso? — pergunto baixinho.

— Você não é obrigada a nada, meu amor. Mas acho que seria bom sair desse quarto, está uma noite linda.

Afirmo com a cabeça, pegando na mão de Miles que me guia até a sala de jantar, onde sua família se encontra.

— Blue. — Alicia sorri, vindo até mim. — Posso te abraçar, querida?

— Pode sim.

Seu abraço aconchegante me traz calma e tranquilidade, o que ajuda no nervosismo que estou sentindo. Alicia Salvatore é como uma fada, porque não é possível alguém transmitir tanta luz.

— Se sente melhor, meu bem? — ela pergunta, carinhosa como sempre.

Balanço a cabeça em afirmação, me sentando ao lado de Eros. Ele bate no meu braço com o cotovelo, abrindo um sorriso cheio de saudade.

— Senti sua falta, loira. — sorrio pro meu amigo.

— Olá, Blue. — Will cumprimenta gentil. — Fico feliz que tenha se juntado a nós.

O jantar foi regado de conversas e risadas, que me ajudaram a distrair um pouco. Eros teve a ideia de sairmos para o jardim com o objetivo de apreciar a noite, então agora, estou nos braços de Miles enquanto contemplamos o céu repleto de estrelas.

— Uma estrela cadente. — aponto rapidamente para o céu. — Faça um pedido.

Ele sorri, fechando os olhos.

— O que pediu? — pergunto curiosa.

— Se eu contar, o desejo não se realiza. — Miles me beija, em seguida descanso a cabeça no seu peito e relaxo. — Você é linda.

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— Como você fica fofa assim! — Miles enche meu rosto de beijos.

— Para. — resmungo, a voz saindo abafada por conta do peito na minha boca. — Quero dormir.

— Desculpe, é que não resisto a perfeição que tenho como namorada. — reviro os olhos, continuando a mamar. — Meu bezerrinho.

Ficamos um tempo em silêncio, apenas aproveitando a compainha um do outro. Meus olhos pesam, mas não consigo dormir. Sei que, quando isso acontecer, as lembranças voltaram com tudo em forma de pesadelo.

— Pode dormir, amor. — Miles toca a ponta do meu nariz com o dedo indicador. — Não vou sair do seu lado.

— Tenho medo dos pesadelos. — admito, me afastando. — Eu durmo, mas me sinto cansada.

— Se eu pudesse, traria todos os pesadelos para mim. — Miles fala , me encarando tristemente. — O que acha de frequentar um psicólogo? Pode te fazer bem. O especialista vai te ajudar com tudo, incluindo os pesadelos.

Nego com a cabeça, não querendo contar meus problemas para um estranho.

— Meu amor, pense sobre o assunto.

— Acho que não vou me sentir confortável. Eu sinto medo até de sair do quarto! — declaro, sentindo novamente aquela vontade de chorar.

— Você aceitaria uma consulta a domicílio? Não precisaria nem sair do quarto, por mais que eu não aprove essa escolha de ficar o dia inteiro presa aqui.

Penso sobre o assunto. Eu quero me livrar da dor que sinto. Quero ser alguém melhor, não apenas por mim, mas por Miles. Mandar embora essa garota frágil que se desmonta como areia no vento.

Quero ser uma pessoa digna de orgulho.

— Tudo bem. — respondo, sabendo do longo caminho que terei de enfrentar pela frente. — Eu posso fazer isso!

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Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora