Capítulo 19

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Aviso de possíveis gatilhos: abuso sexual.

Blue

Sinto como se mil facas perfurassem minha cabeça e tento abrir os olhos com certa dificuldade. Tudo anda confuso, ainda mais quando me vejo presa em um... avião?

O que aconteceu?

Me levanto da cama, me controlando para não cair e ignorar o enjoo forte que me atinge.

Avisto Morgana com uma taça de vinho na mão enquanto conversa com alguém pelo celular. Ela revira os olhos ao me ver, causando certa dor em meu coração.

Mais uma vez sendo idiota, Blue.

— Para onde estamos indo? — pergunto com raiva.

— Verá quando chegarmos, Blue. — responde, balançando a mão em descaso.

— Me fala agora! — quase grito, escondendo todo medo que sinto.

— Calada, idiota. — ela se levanta, pegando meu rosto com a mão e cravando as unhas na minha bochecha. Solto um gemido de dor, tentando me afastar. — Eu te mataria agora mesmo, mas você é meu potinho de ouro.

— O que você quer comigo?

Ela se afasta e toco onde suas unhas estavam agora à pouco, sentindo o sangue melar meus dedos. Ignoro a ardência e permaneço de pé, pronta para revidar qualquer coisa que Morgana faça.

— Dinheiro. — é tudo o que ela diz, me deixando ainda mais confusa. — Tenho um amigo, ele comentou que estava à procura de uma esposa... — ela ri, mas não vejo graça. — Como bem sabe, sou uma pessoa bastante generosa, então ofereci minha querida e solteira filha.

— Solteira? — exclamo, meu estômago se contraindo cada vez mais. — Eu tenho um namorado.

— Ele não serve para você. Félix é um homem solteiro e rico, membro da alta sociedade e quer muito uma esposa que o ame e carregue seus filhos. — Morgana fala como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Seu pai não estaria orgulhoso das suas atitudes.

— Foda-se você e meu pai! — grito, correndo até a cabine de controle. — Onde estou? — grito, mas ninguém responde. — Me deixa ir...

— Por que todo esse drama? — questiona, se sentando de forma despreocupada. — Nós duas saímos ganhando nessa história.

— Como eu poderia sair ganhando?!

— Apenas cale a boca e se sente. — Morgana ordena, retirando uma arma de sua bolsa. — Quando terminar com você, vou até William e Alicia para acabar com a vida inútil deles. Até penso em brincar um pouquinho com Miles, ele é muito bonito, não acha? Já trepou com ele?

Fico calada, horrorizada com suas palavras. Como tentei defendê-la por todo esse tempo? Como fui tão cega?

Tudo por amor.

Tudo por alguém que me mataria no primeiro segundo, sem dor ou remorso.

— Ainda é virgem? — ela ri. — Ah não, querida, Félix quer alguém experiente. Se souber que é virgem, vai ficar decepcionado e não receberei meu dinheiro.

Ela se levanta novamente, pegando no meu braço com força e me arrastando até o quarto.

— O que vai fazer? — questiono angústiada.

Morgana me joga na cama, mas não desisto e tento procurar alguma forma de defesa. Acabo recebendo uma coronhada na cabeça, o que causa um certo desligamento em meu consciente.

— Me solta! — grito o máximo que consigo. — Mamãe, para com isso!

Ela não para.

Sinto seus dedos adentrarem em mim de uma vez e tudo o que me resta é chorar. Esperei tanto pela pessoa certa para que eu pudesse entregar meu corpo...
Mesmo parecendo algo bobo e clichê, eu gostaria que minha primeira vez fosse especial.

Ao lado de alguém que amo.

Agora estou aqui, sentindo minha própria mãe tirar algo que era meu por direito.

Não sei muito bem o que ela introduziu em mim, parei de resistir quando a vi pegar a própria arma e direcionar na minha vagina. Ela ria com minha dor, com meu desespero ao pensar que aquela arma poderia disparar a qualquer momento em meu interior.

Eu mereço isso?

Por que uma pessoa, que nunca prejudicou ninguém, passaria por uma situação dessas?

Onde aquele Deus, que muitos alegavam ser bondoso e superior, está?

Bem, agora eu sei a resposta.

Ele está morto.

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Miles

Blue...

Sinto um aperto no peito de repente e automaticamente penso na minha Blue. Sem esperar mais um segundo, corro até meu carro que está estacionado em frente a mansão e dou partida.

Por favor, amor, esteja bem.

Em menos de dez minutos chego no apartamento de Blue. Não me preocupo que infligi mil leis de trânsito, tudo o que preciso é saber se ela está bem.

Fui um idiota.

Não deveria tê-la deixado.

Se algo acontecer, nunca vou me perdoar.

O porteiro me conhece, então não impede minha entrada. Quase atropelo duas senhoras ao correr até o elevador, gritando um pedido de desculpas.

Meu coração acelera quando não encontro ninguém no apartamento. Tudo está intacto, mas sei que algo está errado.

— Blue! — grito pela minha garota, não obtendo respostas. — Querida, aparece, por favor.

Nada.

Onde você está, minha Blue?

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Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora