Capítulo 15

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Crianças para sempre, crianças para sempre
Pele macia de bebê se transforma em couro
Não seja dramática, é só uma plástica
Ninguém irá te amar se você não for atraente.

Blue

Vomito tudo o que comi no dia e fecho os olhos sentindo meu estômago se contrair. Tento buscar o ar que falta nos meus pulmões, deitando a cabeça na parede.

A família está no jardim numa pequena festa, incluindo na piscina. Eu estava bem, mas vi o corpo de Alicia e Lily - filha do Cole e Jaque. - e comecei a me sentir mal.

É impossível não se comparar.

Não devia ter comido tanto...

Coloco o dedo no fundo da garganta, forçando o vomito mais uma vez.

Vai ficar tudo bem.

Vai valer a pena.

Depois de estar completamente vazia, me obrigo a levantar. Dou descarca, lavo o rosto e escovo os dentes, caminhando em seguida até o espelho do closet de Miles.

Alicia informou que preciso comer, pois meu peso está abaixo do ideal. Mas... por que me vejo tão gorda?

Lágrimas deslizam pelo meu rosto e coloco a mão na boca quando os soluços tomam conta do quarto. Eu só queria ser bonita.

Por que a beleza dói tanto?

Odeio tanto isso...

— Blue? — ouço Miles me chamar e enxugo rapidamente as lágrimas, forçando a abrir um sorriso. — Querida?

— Estou aqui. — respondo ao seu chamado, colocando meu vestido.

— Tudo bem?

— Ah, sim... tenho que ir para casa. Esqueci de dar comida para minha gata e não é uma desculpa. — conto, sorrindo levemente.

— Tem certeza? Eu posso ir no seu lugar. — nego, pegando minha bolsa. — Blue, o que aconteceu?

— Nada. Quero ir para casa, apenas.

Calço os sapatos, beijando a bochecha do meu namorado antes de sair do quarto.

— Espere, Blue. Vou levar você. — ele pega uma blusa, vestindo em seguida.

Desço as escadas, odiando esse mal estar que me consome. Achei que estava um pouco melhor, que ao menos poderia manter uma dieta saudável sem me sentir um lixo.

— Vão embora? — Alicia pergunta com o cenho franzido. — Aconteceu algo?

— Blue não está se sentindo muito bem e vou levá-la para casa. — Miles responde antes que eu consiga e olho brava para ele.

— O que sente, querida? — ela pergunta, acariciando meu rosto. — Precisa ir ao hospital?

— Não, obrigada. É apenas um mal estar, devo ter comido algo estragado. — minto, vendo um sorriso se abrir no rosto de Alicia.

— Não está grávida, né? — arregalo os olhos com sua fala e nego freneticamente.

— Não! E-eu e Miles nunca... eu nunca. — me perco nas palavras, sentindo meu rosto queimar.

— Oh! Entendo. — ela parece envergonhada, beijando minha testa. — Fica bem, okay? Qualquer coisa estamos aqui.

— Obrigada, Alicia.

Miles pede para mãe se despedir de todos por mim, em seguida saímos de casa em silêncio.

Será que ele está bravo?

— Está com raiva? — questiono em um sussurro.

— O que? Claro que não, Blue. — ele vem até mim. — Apenas pensando.

Entramos no carro e seguimos até meu apartamento. Me sinto tonta e um pouco fraca, bebo água tentando focar minha visão em algo.

— Blue, você está pálida. — Miles repara, apertando com força o volante.

— Eu vomitei... Vou ficar bem, não se preocupe. — murmuro.

— Você vomitou? Porra, Blue, por que não me contou?! — sua voz se eleva e me encolho levemente no banco.

— Não queria te preocupar...

— A questão é que você me preocupa, Blue. Constantemente!

— Bem, eu não pedi isso! Não quero ser um peso para você, então. — grito, ignorando as lágrimas.

— Por que não deixa as pessoas cuidarem de você pelo menos uma vez na vida?!

— Porque ninguém nunca fez isso por mim!

Miles respira fundo, voltando a ficar calado. Minutos depois, chegamos no meu apartamento e ele destrava a porta, ainda sentado no volante. Levo isso como um sinal para sair e assim o faço, me esforçando para manter o corpo em pé.

— Olha, Miles...

Ele fecha a porta com força, alavancando com o carro logo depois. Choro ainda mais, odiando ser uma pessoa que afasta todo mundo.

Talvez ele só precise pensar, certo?

Ele não vai me deixar.

Ele prometeu.

Sigo para dentro, cambaleando alguns passos até conseguir alcançar o elevador. Minhas vitaminas e outros remédios estão em casa, sempre esqueço de tomá-los...

— Tudo bem? — uma senhora gentil pergunta, aparentemente preocupada.

— Sim... — sussurro, saindo daquela caixa de mental que estava começando a me sufocar.

Procuro minhas chaves pela bolsa, entrando em casa quase desesperada. Minha cabeça gira e engulo o bile que subiu pela garganta, Tinker repara em minha presença e logo se enrosca na minha perna.

— Olá, querida. Sentiu falta da mamãe?

⇷ ⇸ ⇹ ⇺

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora