Capítulo Extra 7 - Tormenta

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- Está com fome? Guardei pão velho para você - disse Chronos alheio à sensação horrível que percorria os ossos de Ariane - Vem - disse jogando o braço em volta dela - Cal vai querer saber tudo e se o Nikolai se comportou.

Nikolai.

O nome amargou na boca de Tadeu ao pronunciá-lo como se estivesse comendo o mais puro e pesado ferro. Sabia que tinha algo de errado com sua herdeira, mas não imaginava que pudesse ser algo como aquilo. Era imperdoável.

Havia dado uma simples tarefa para Taz quando as suspeitas ficaram mais fortes e o infeliz não tinha conseguido executá-la, nem ao menos chegado perto de algum sucesso. O Domador pediu mais uns dias, mas o rei decidiu ele mesmo dar um jeito em suas desconfianças. Ficou de tocaia e seguiu Chronos naquela manhã, encoberto pelas sombras no mais mortal e perfeito silêncio. O filho se achava tão melhor do que ele, mas não percebeu a presença estranha espreitando na escuridão e quando fez, seja lá o que foi aquilo, para silenciar suas palavras dos outros ao redor, ele estava lá. Um grave descuido, notou Tadeu. Era outro imprestável. Nunca seria um rei no que dependesse dele. Nunca!

Esperou ansioso na alcova e quando a filha se aproximou pôde ouvir toda a curta conversa entre os irmãos. Não precisou ouvir mais nada para decifrar a que povo o tal de Nikolai pertencia. Se estavam se encontrando às escondidas só podia ser um... As entranhas do rei ferveram no ácido que era seu ódio. Como Ariane ousava se envolver com o Povo de Luz?

Saiu das sombras pisando firme, ponderou se os seguia para descobrir mais informações, mas acabou seguindo em direção à sala do trono. Estava ficando transtornado e poderia começar um inferno naquele lugar.

A filha havia se esgueirado para festejar e se divertir e fazer sabe-se lá mais o que com um... Argh! Nojo estampou a carranca do rei. Ele não conseguia nem imaginar a cena de uma princesa sombria no meio daqueles vermes e a cada passo que dava sua raiva e ódio cresciam quase incontrolavelmente. Suas sombras serpenteavam agitadas por seus ombros, loucas para despedaçar Ariane em vários pedacinhos. Ignorou a rainha e qualquer idiota pelo caminho e entrou na sala como se houvesse toneladas em suas botas com ponteiras de aço. Sentou ao trono e tentou se controlar. Sentiu os lábios tremerem de raiva, espasmos nos músculos percorreram seu corpo. As sombras sibilaram alto. Fechou os olhos e respirou fundo. Com os punhos serrados com tanta força que seus dedos reclamaram. Precisava pensar em um castigo adequado para o tamanho da decepção que recebeu da filha. Aquilo era quase uma declaração de guerra se já não estivesse em uma.

- TAZ! - berrou sem cerimônia e logo o servo surgiu em sua frente.

- Sim, meu rei? - disse ele com uma rápida reverência.

- Não precisa mais tentar descobrir o que Ariane esconde - disse o rei entre dentes.

Surpresa sobressaltou os olhos do homem.

- Você já descobriu, soberano?

- Sim. E não foi graças a sua competência, pelo contrário.

- Sinto muito, meu rei - respondeu o servo fingindo vergonha e humilhação, mas na verdade estava aliviado por não ter mais que investigar Ariane e arriscar perder o pescoço no processo. A garota já tinha descoberto que ele a espionava em nome do pai e o mataria se chegasse mais perto.

- A princesa está envolvida com um deles - murmurou o rei ainda digerindo o peso que aquilo tinha.

Taz nem precisou perguntar para saber do que ele falava.

- Um rapaz do povo de luz - completou com aquela expressão de repulsa.

- Como descobriu? - perguntou o rapaz com cautela - Se é que posso saber - acrescentou rapidamente.

A Luz e a EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora