Grimório

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Amber enfiou as mãos dentro dos bolsos do seu sobretudo e caminhou pelos corredores úmidos e silenciosos do seu castelo. As velhas paredes rachadas estavam cheias de teias de aranhas repletas de insetos mortos ou esperando para serem devorados. O fogo vindo das tochas crepitava devagar e era o único som que se ouvia pelo lugar. Amber ignorou as armaduras velhas e enferrujadas expostas nos corredores como troféus que um dia tiveram algum valor e bufou em deboche dos seus antepassados caídos.

Viu ratos correrem pelos cantos e sumirem na direção da cozinha certamente em busca de comida. Aquele lugar estava caindo aos pedaços. Não havia a mesma glória dos dias em que a Tríplice comandava suas tropas e tomava reinos e suas riquezas em nome do rei. Tadeu tinha deixando tudo ruir aos poucos. Tomar para si o centro do Arco de Lux e matar a família real era o que o Mediun mais queria e era o que Amber deveria fazer.

Com as palavras da serva martelando em sua mente, ela subiu os quebrados degraus até a parte superior onde ficavam os quartos e quase esbarrou em Raven que caminhava distraída.

- Perdão alteza - disse a velha bruxa.

- Tome mais cuidado - Amber respondeu com um olhar de superioridade.

Uma ruga de curiosidade surgiu entre as sobrancelhas da mulher.

- Seu rosto está sujo de sangue - ela comentou apontando.

Rapidamente a herdeira dos Mediun levou a mão ao rosto e o limpou.

- O que estava fazendo?

- Não é da sua conta - Amber respondeu rapidamente voltando a andar.

- O que estava fazendo? - a bruxa repetiu a pergunta usando sua magia sobre a garota.

Amber parou e virou-se para trás.

- Estava nas masmorras castigando uma serva.

- Por quê? - Raven queria e precisava saber todos os passos de Amber. Não podia deixá-la à vontade. A bruxa sabia muito bem do à Mediun era capaz e mesmo brincando com fogo, não permitiria que ela fizesse o que bem entendesse.

- A moça invadiu meu quarto falando asneiras - Amber respondeu cruzando os braços - Disse que eu matei o rei e não a princesa dragão como você me contou.

Raven sentiu um frio subir pela espinha e enrijeceu a postura.

- Uma lunática.

- Provavelmente.

- Você a matou, certo? - Raven perguntou fingindo o máximo de desinteresse ao se colocar ao lado da rainha.

- Não - Amber respondeu voltando a andar.

- Por que não?

- Não sei Raven! Por que eu não quis! O que quer? Me ver sem paciência? Por que está conseguindo com essas perguntas.

- Desculpe soberana. Só fiquei preocupada que ela possa ter colocado dúvidas na sua cabeça.

- Não colocou.

- Ótimo - disse a bruxa.

Raven precisava ir até as masmorras dar fim a vida da tal serva. Em hipótese alguma iria tolerar conspirações contra ela e seus planos.

- O que faz fora do quarto a essa hora?

A pergunta da rainha a tirou do seu devaneio maléfico.

- Estava lhe procurando para mostrar isso - Raven respondeu movendo as mãos e fazendo um livro aparecer entre elas.

Amber parou na porta do seu quarto observando o objeto estranho em posse da bruxa. As amareladas e ressecadas folhas pareciam querer escapar por entre a capa escura feita de algo que a rainha não identificou, era como pedra, vidro e couro. Havia uma caveira no centro e uma tranca amassada o fechando.

A Luz e a EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora