O céu começava a escurecer e algumas estrelas despontavam aqui e ali.
As empregadas preparavam-se para dormir e planejavam o dia de amanhã. Vagavam pelos corredores apressadas, com toalhas, escovas, travesseiros, pijamas, sabonetes, uniformes, cobertores, lençóis e pentes, e lutavam pelo direito de conseguir um espaço nos banheiros.
Isabella dividia a pia com uma empregada de quase 1,90 de altura. Escovar os dentes com uma pessoa que ela mal conhecia não era seu momento preferido do dia, mas era impossível negar que não havia muito o que pudesse ser feito. Claro que a jovem de olhos azuis ainda podia esperar até as coisas se acalmarem, contudo se o fizesse poderia acabar indo dormir muito tarde. E para alguém que acordava tão cedo, tal situação não era das mais adequadas.
A jovem terminou sua escovação rapidamente e foi para seu quarto. Não demorou muito para as luzes do aposento estarem bem apagadas e os olhos de Isabella estarem bem cerrados.
Naquela noite, a jovem de olhos azuis teve um sonho anômalo, para dizer o mínimo, ela estava novamente sob a árvore frondosa com Sua Majestade, aproveitando a sombra com seu vestido azul e suas botas gastas. Era a mesma cena daquela tarde. Querido voava no céu exibindo suas manobras. O Imperador tinha sua expressão, ou falta dela, habitual. E Isabella fingia se concentrar no voo do pássaro quando na verdade estava extremamente consciente do homem ao seu lado. As engrenagens começavam a girar. Sua Majestade tocou os cabelos da garota que virou-se balbuciando "O que você está fazendo?". Tudo se repetia, exceto que Isabella não gaguejou, nem esqueceu as palavras no meio do caminho.
O Imperador também não recuou, ao invés disso inclinou-se para frente e segurou Isabella pelos ombros, os olhos de ambos se encontraram produzindo faíscas. Alexandre vergou-se ainda mais, seus narizes quase se tocavam e a jovem já começava a fazer um muxoxo. Em um ímpeto, a expressão de Sua Majestade tornou-se dura e ele sacudiu a jovem empregada pelos ombros enquanto dizia autoritário 'acorde Isabella, acorde!".
Isabella respirou profundamente e abriu os olhos chorando por dentro. Sua visão estava meio embaçada e ela estava meio grogue, então não deu atenção a Madame Luza prostrada ao pé de sua cama parecendo a um passo de um colapso.
- Isabella, vamos, levante-se!
- Não... – resmungou sonolenta, girando nos lençóis e tentando esconder-se no canto mais extremo do colchão. – Eu estava na melhor parte.
- ISABELLA! – berrou fazendo-a despertar aturdida.
A garota de olhos azuis fitou Madame, a senhora tinha marcas vermelhas abaixo dos cílios como se estivesse próxima a cair em prantos. Ainda vestia sua camisola amarelada pelo tempo e os cabelos cinzentos pulavam em todas as direções devido a uma presumível arrumação às pressas.
O céu ainda estava escuro, tão escuro quanto era possível. O ponteiro menor do relógio na parede apontava para as doze horas da noite.
- Menina, o que você fez? – Inquiriu Luza agarrando Isabella pelos braços finos.
"O que eu fiz?" perguntou para si mesma, então um medo súbito subiu por sua espinha "Será que finalmente descobriram que eu tomei o emprego de uma outra pessoa para estar aqui?".
Aquele pensamento atormentou sua mente por longos minutos. Ela começou a suar frio e seu estomago pareceu afundar. O dia de pagar por seus atos irresponsáveis finalmente havia chegado.
As meninas no quarto começaram a acordar uma a uma devido ao barulho intenso ao ínterim que Isabella tinha um ataque cardíaco. Parecia que ela não só ia ser expulsa das acomodações no meio da noite como também teria direito a plateia. A garota começou a fazer cálculos em sua cabeça para saber quanto dinheiro tinha, e por quanto tempo poderia pagar para ficar em uma pensão na capital, tentando lembrar de todos os lugares que ofereciam vagas de empregos com salários minimamente dignos ante o seu torpor.
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O Imperador Vermelho
Romance"Ele ascendeu ao trono em degraus de sangue". Quando Isabella foi misteriosamente teletransportada para uma realidade completamente distinta daquela a qual a jovem conhecia e que, como regalo, estava sob o constante ataque de bestas mágicas, ela não...