Capítulo XXIX

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Como era suposto, Isabella iniciou suas preparações para se tornar uma Imperatriz. Agora, além de suas aulas com Rowa, tinha lições de autodefesa com a general de divisão, Creta, e aulas de políticas com Eleanor – inclusive começou a frequentar a sala do primeiro conselho com regularidade.

A general de divisão Creta era estrangeira, tinha pele de ébano e cabelos verdes. Cabelos naturalmente verdes, imagina só. Possuía olhos brilhantes e alaranjados, além de uma estatura realmente baixa, provavelmente em torno dos cento e quarenta centímetros. Esse era um contraste gigantesco com os soldados licryanos que corriam, pulavam, lutavam, flexionavam e tensionavam no campo de treinamento.

Na primeira vez que Isabella se encontrou com Creta, não soube dizer se ela era real ou apenas uma criatura mística que escapara de sua imaginação.

Se recordava de estar usando calças aquele dia, coisa que nunca mais fizera desde que adentrara aquele mundo. De alguma forma, dava-lhe um sentimento de conforto. Já sabia que sua tutora seria uma general de divisão, uma mulher, mas ainda não sabia quem especificamente. Quando chegou ao campo de treinamento, Creta ainda não estava presente, isso era raro, afinal, pela etiqueta, as pessoas deveriam estar presentes para recebê-la. Pessoalmente, Isabella não se importava muito com esse tipo de costume, contudo não podia deixar que as pessoas a vissem como uma futura Imperatriz patética. Aquela seria uma exceção, afinal a general de divisão seria sua tutora e merecia respeito.

Depois de alguns poucos minutos, uma mulher entre vinte cinco e trinta anos começou a correr em sua direção. Suada e ofegante. Os vapores de inverno emanavam de seu corpo como se esta fosse um grande caldeirão. Ela se aproximou, cumprimentando de um jeito bem desajeitado e se apresentou.

- Vossa Alteza, eu sou a general de divisão, Creta! Sinto muito pelo atraso, eu estarei sob seus cuidados! – Ela era animada e, pelas roupas desalinhadas, talvez um pouco distraída.

Isabella a fitou de relance. Três de seus botões estavam postos no lugar errada, tanto seus sapatos quanto suas meias não eram do mesmo par e sua crina era um harmonioso caos. Combinava com Creta, de certa forma.

- Sou eu que estarei sob seus cuidados – replicou sorridente.

Apesar de sua aparência, ela não era uma general de divisão por nada. Creta era uma lutadora implacável e uma professora exigente. Isabella perdeu a conta de quantos vezes foi derrubada por ela, ou quantas vezes ela lhe fez correr ao redor do campo com os soldados.

- Vossa Alteza, sua força é mediana na melhor das possibilidades – dizia constantemente de forma severa. – Mesmo que você treine muito, seu poder nunca será comparável ao dos licryanos. Por isso você precisa usar qualquer coisa que esteja a seu favor.

Em seguida, a mandava fazer tantas flexões quanto seus braços permitissem, o que geralmente não eram muitas.

A parte boa de estar vindo muito frequentemente ao campo de treinamento, era que Isabela podia ver Alexandre treinar com seus soldados de tempos em tempos, ou melhor, massacrá-los. Todas as suas lutas amistosas acabavam com um guerreiro no chão dizendo eu desisto repetidas vezes.

Próximo, ordenava o Imperador friamente enquanto os soldados tremiam e empurravam uns aos outros.

Ademais, Isabella finalmente fora capaz de se encontrar com Goliak, o único dos representantes dos pilares com quem ela ainda não havia se deparado. Ele era exatamente como Eleanor descrevera. Feições assustadoras, mas um coração gentil.

A jovem estava em uma pequena pausa do treinamento quando o viu pela primeira vez; ele veio se aproximando aos poucos, envolto em uma longa sombra disforme. Era um homem gigantesco, ainda maior do que Abedel. Por muito tempo Isabella se perguntou se o homem que se aproximava era realmente um ser humano ou apenas um carvalho que criou pernas. Quando se achegou o suficiente, seu semblante escondido pela escuridão tornou-se visível. Não era necessariamente feio, poderia ser inclusive bonito. Possuía um nariz empinado, lábios delicados e olhos que se assemelhavam à duas perolas negras. No entanto parecia que toda a sua pele fora escaldada em uma panela de óleo fervente. Havia cicatrizes, bolhas e uma tez que descia tal qual uma espécie de magma seco espalhado por sua face.

O Imperador VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora