Capítulo XXVI

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O aposento ainda estava cinzento quando Isabella acordou sentindo seus músculos doloridos. Algo quente e pesado estava em cima dela, pressionando-a para baixo. Ela tentou se virar, dando de cara com Alexandre ao seu lado, trajado como quando viera ao mundo, dormindo feito uma pedra com seus braços ao redor de si. Sua Alteza piscou os olhos confusa, tentando assimilar sua realidade. Era verdade, os dois haviam dormido juntos na noite anterior. As memórias giravam na mente de Isabella enquanto seu rosto tornava-se afogueado. Ela conseguia se lembrar de tudo com clara lucidez. Tudo mesmo. A garota sugou o ar. Usava tantas roupas quanto o Imperador, no caso, nenhuma. Pelo menos fora a primeira a acordar, isso poupava-lhe um pouco. Teria tempo suficiente de se acalmar mentalmente. Isabella olhou-o novamente. Parecia extremamente tranquilo. Ela começou a se perguntar com o que exatamente ele sonhava. Será que tem sonhos bons? Ou pesadelos? Talvez sonhos singulares e sem sentido? Será que sonha comigo? Esse último pensamento fez com que seu coração batesse em descompasso.

Isabella sonhava com Alexandre, com certa frequência inclusive. Geralmente não se lembrava dos sonhos, contudo a sensação em seu peito sempre indicava com quem havia sonhado.

Seus olhos desceram um pouco pousando em seu peitoral. Uma cicatriz enorme se projetava ali, vinha do seu ombro e rasgava sua pele pela clavícula de maneira irregular, passando por seu peito, perigosamente perto de seu coração, e descia até perto de suas costelas. Era o maior entre todos ao seus talhos, o mais profundo também. Ela passou os dedos pela cesura, sentindo aquela parte de pele excessivamente macia. Pele nova. Demorou-se ali, subindo, descendo e fazendo semicírculos com a ponta do indicador.

- Está se divertindo, aí? – Isabella retraiu a mão assustado.

Ela ergueu a cabeça, deparando-se com Alexandre de olhos bem abertos.

- Eu te acordei? – indagou, forçando-se a parecer natural.

- Não – murmurou sonolento.

Ele uniu as pálpebras por alguns segundos e afastou-as arrastadamente, perdido entre o mundo onírico e a realidade. Então apertou a jovem sob o seu enlace cálido, sufocando-a.

- Eu não quero me levantar – resmungou.

- Então fique aqui comigo – propôs.

Alexandre parou. Parecia estar pensando seriamente no assunto.

- Não posso. Eu sou um Imperador – disse por fim.

Isabella se aninhou nele. – Parece que não tem jeito, então.

- Não há nada de bom em ser um Imperador. Se eu fosse um pescador eu poderia passar o dia na cama com você.

Sua Alteza soltou um tinido baixo. – Você realmente cismou com essa coisa de pescador!

Todavia ela conseguia imaginar. Talvez não uma vida de pescadora, mas uma vida simples com Alexandre. Um chalezinho no bosque, onde toda a floresta seria seu jardim. Ambos poderiam acordar com o som de pássaros e poderiam se enrolar debaixo das cobertas e deitar-se perto de uma lareira rústica e crepitante nos dias de inverno.

O Imperador separou-se da garota, sentando-se na cama e passando a mão pelos cabelos negros.

- Posso usar seu banheiro? – inquiriu repentinamente.

- Vá em frente, mas tem certeza de que não quer ficar aqui comigo?

- Eu quero – sibilou melancolicamente –, mas não posso.

Ele levantou-se e seguiu em direção ao lavabo sem se incomodar com a nudez. Isabella o acompanhou com o olhar curiosamente. Havia cicatrizes em toda a extensão de seu corpo, mas inesperadamente, não em suas costas.

O Imperador VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora