Capítulo XXXVI

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A caçada anual de primavera finalmente teve o seu início. Muitos pensaram que ela seria cancelada – e Isabella torcia secretamente por isso –, no entanto fora somente adiada devido aos ataques recentes ao palácio de Licrya.

O evento foi realizado na terceira semana de primavera na província de Schuts, uma cidade majoritariamente rural do Império. Eles organizavam o evento em uma cidade diferente todos os anos, e naquele ano Schuts fora a escolhida.

Ninguém queria que Isabella fosse à caçada, entretanto ela insistiu que deveria cumprir com suas responsabilidades independentemente do que acontecera e ninguém conseguiu dissuadi-la da ideia. Talvez pela preocupação de seus colegas, ela ganhara um sinalizador para o caso de encontrar algum perigo, um novo revólver e mais uma porção de colares e balas mágicas – apesar de que sua arma estava carregada com munição comum já que não pretendia lutar com nenhum monstro. – Entretanto, agora ela começava se arrepender de sua teimosia. Não possuía talento algum para caça. Tinha encontrado algumas boas presas, entretanto deixara-as escapar pois não conseguia juntar a coragem para puxar o gatilho. Os animais sempre a fitavam com olhos brilhantes e inocentes, e ao mesmo tempo inteligentes, como se perguntassem com melancolia 'vai atirar em mim, humana? Por quê? O que eu fiz para você?', e ela acabava abaixando o revólver e os deixava partir.

- Que saco! – praguejou quando o sol estava quase a pico.

Ela fez uma pequena marca em uma árvore próxima e foi se sentar em uma pedra relativamente limpa – o quão limpa uma pedra em uma floresta poderia ser.

Isabela olhou para arvores cobertas de líquens avermelhados crescendo em seus troncos e se lembrou de quando Creta lhe ensinou a como não se perder na floresta:

- Não vai conseguir se lembrar do caminho logo de cara – disse durante a hora do almoço. – O melhor que você pode fazer é observar a posição do sol, a posição do musgo nas árvores e deixar marcas em lugares visíveis. Não se esqueça que o lado mais musguento das arvores aponta para o sul.

Foi um bom conselho.

Isabella cruzou os braços e franziu os sobrolhos. Se perguntava se deveria voltar para tenda ou tentar mais um pouco quando uma flecha passou assoviando por sua bochecha e se prendeu em um tronco de árvore. Seus olhos se arregalaram e sua respiração tornou-se irregular. A primeira coisa de que se lembrou foram dos obskurs. Ela pegou seu revólver em um reflexo e substituiu as balas comuns por balas mágicas, apontando para a direção de onde a flecha se projetou.

- Que merda, perdi de novo! – praguejou uma voz aguda e feminina.

Falava a sua língua, então não era um obskur, e aparentemente a flecha não fora proposital, ainda assim Sua Alteza não abaixou seu revólver até ver a silhueta de uma garota frustrada se arrastar para fora de alguns arbustos.

Ela também percebeu uma presença estranha, mirando seu arco em Isabella e, quase que de imediato, soltando um som meio exasperado de constatação.

- Ah, Sua Alteza... – exclamou alternando seu olhar da arma para a flecha presa no tronco – ... Não foi de propósito.

Isabella cerrou os olhos, reconhecendo a garota e guardando o revólver. – Cecilia Mayer, a segunda pessoa que gostaria de ter como sua dama de companhia. – A jovem passou de um olhar afiado a um sorriso em segundos.

- Eu compreendo, só seja mais cuidadosa da próxima vez – alertou em um tom que não era nem gentil, nem severo.

Ela assentiu. – Eu vou pegar minha flecha e me retirar...

- Sente-se aqui comigo por um tempo – pediu Isabella com um sorriso deslumbrante.

- Eu não quero te incomodar, Vossa Alteza.

O Imperador VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora