Isabella bateu três vezes na porta.
- Entre – entoou a voz do Imperador.
Uma cabeça amarela se projetou das portas marrons tal qual um milho brotando da terra.
- Você ainda não terminou – constatou ao ver Alexandre debruçado sobre uma pequena pilha de papéis em sua escrivaninha.
- Eu já vou acabar, você pode se sentar e me esperar.
- Eu meio que já sabia – murmurou enquanto apontava para o livro de capa rosa que havia trazido consigo.
Isabella andou até o assento acolchoado e sentou-se elegantemente deixando que a porta rangente atrás de si se fechasse sozinha. Não havia mais ninguém no escritório além dos dois, nem mesmo os gêmeos.
- Eu sinto muito, apesar de eu ter combinado que iria andar de barco com você, eu ainda não consegui terminar com essa papelada.
- Não se preocupe com isso, eu sei que você é uma pessoa ocupada – confortou enquanto procurava a página onde havia parado em 'sussurros do coração', a continuação de 'Batidas Incoerentes do Coração'.
Há algum tempo atrás, em uma das caminhadas de Isabella pelo jardim, ela avistou um lago brilhando em laranja sob o arrebol. Nos arredores do lago, diversas árvores se estendiam do chão com suas copas vermelhas e laranjas. As folhas que caíam dessas árvores vestiam o lago de um longo e exímio tapete rubro que se movia conforme o tremeluzir das águas. O conjunto de todas essas coisas formava uma das paisagens mais pulquérrimas que a jovem já vira.
- Eu não sabia que tinha um lago aqui – comentou com Caim enquanto seus olhos brilhavam como lápis lazúlis.
- É que você nunca passa por aqui, Vossa Alteza.
- É mesmo?
- É mesmo.
- Bem, não acha que um passeio de barco aqui seria incrível?
- Seria normal, acho.
Embora aquele tivesse sido um comentário que Isabella fez por capricho, não se demorou para que Alexandre realmente a convidasse para um passeio de barco naquele mesmo lago.
A jovem de olhos índigo espiou o imperador por cima das páginas de seu livro. Os olhos encarnados de Alexandre se moviam de um lado para o outro acompanhando o ritmo de suas mãos.
Isabella adorava o rosto dele, ainda que outros o considerassem aterrador. Gostava do formato de suas sobrancelhas levemente franzidas. Gostava de seus cabelos negros partidos ao meio, criando uma espécie de coração com sua face longa e mandíbula angular. Também gostava de seus lábios rubros harmoniosos e tentadores. E gostava ainda mais de seus olhos afiados e vermelhos. Olhos que guardavam uma gentileza que quase ninguém notava.
- O que foi? – indagou o Imperador sem desviar sua atenção dos papéis em sua mesa.
- O que foi, o quê?
- Você está me olhando tanto, imagino que queira falar alguma coisa.
– Como sabe que eu estou te observando? – indagou meio indignada. – Você nem tirou os olhos do papel.
- Seria estranho eu não notar com você perfurando a minha testa. – replicou estreitando os cantos da boca. - Então, por que estava me observando?
- Nada em particular – mentiu.
- É mesmo? – Isabella assentiu.
Não parecia que ele estava particularmente interessado no assunto pois não insistiu em uma réplica.
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O Imperador Vermelho
Romance"Ele ascendeu ao trono em degraus de sangue". Quando Isabella foi misteriosamente teletransportada para uma realidade completamente distinta daquela a qual a jovem conhecia e que, como regalo, estava sob o constante ataque de bestas mágicas, ela não...