Capítulo II

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Seu dia de folga foi o dia mais difícil para Isabella.

Uma manhã mórbida e uma tarde sem vida.

A labuta do dia a dia, as dores durante a noite que nunca a deixavam dormir, a grande dificuldade em se adaptar, a junção dessas coisas era tortura; mas sentar na saída dos fundos da mansão das empregadas enquanto observava o castelo se erguer como uma joia na grama viva, sem nada para fazer e com muito o que pensar era uma tortura ainda maior.

Ela olhou para suas roupas - uma saia vermelha e longa, botinas marrons que lhe batiam na canela, meia calça preta e grossa e uma blusa branca de botões, com mangas bufantes. Todas as roupas de Isabella eram de segunda mão, não que isso a incomodasse, pelo contrário, a jovem estava agradecida que algumas empregadas acabaram por dar-lhe suas roupas mais antigas quando perceberam que a jovem de olhos azuis chegara ao palácio com nada além de roupas 'estrangeiras' no corpo.

Isabella encostou sua crina no umbral da porta, ela ouvia o som de pequenos passos, o barulho de maçanetas girando e murmúrios jubilosos dentro do casarão. Não havia muito o que se ouvir do lado de fora, nem mesmo o canto de pássaros, apenas o farfalhar das folhas das árvores e o som do vento batendo contra as paredes das acomodações.

Um estrépito de pernadas aproximou-se de onde a jovem se encontrava e uma senhorita de cabelo negros colocou-se de pé ao lado de um saiote vermelho.

- Isabella, eu e a Faizel estamos indo à cidade, quer ir conosco? – indagou Clementina observando-a com expectativa.

A jovem loira cruzou os braços como se fosse desmoronar e mordeu seu lábio inferior. Isabella não se sentia segura o suficiente para sair das acomodações ainda, ela precisava de mais tempo.

- Não. – Sua voz saiu entrecortada, mas Clementina não era alguém que perceberia essas coisas.

- Certeza? – Isabella assentiu com a cabeça. – Que pena, quer que eu traga algo para você? Você acabou de receber pela semana, não é?

Isabella pensou com a languidez de um idoso ao ínterim que contemplava as folhas que tripudiavam no ar em diferentes tons de verde, sentindo algo muito pesado em seus ombros e em suas pálpebras róseas.

- Por que você não trás algumas roupas para mim? – Então ela pôs seu dedo em riste e apontou para Clementina. – Pode pegar metade do dinheiro que está no meu baú, só não compre nada desnecessário.

A senhorita de cabelos negros assentiu: - Tem algo de especifico que você que você quer que eu traga?

- Não. – Sua fala soou como um suspiro. - Eu só preciso de algo que seja meu. Preciso de algo que prove que minha existência é real.

A senhorita de crina negra olhou-a em desarranjo, expressão que não tardou a desvanecer pois Clementina não podia ser uma pessoa complicada ou não seria ela.

- Ainda que eu não entenda, não se preocupe! Pode deixar comigo! – Então Clementina sorriu largamente e saiu tão depressa quanto chegou, deixando Isabella tão sozinha quanto no início.

E embora sua vontade fosse correr em direção a sua colega quando uma sensação de solidão a atingiu, Isabella permaneceu ali com seus pés bem enraizados no solo.

Então ela começou a pensar e a balbúrdia de seus pensamentos não a deixou perceber que o som de passos e vozes havia cessado e o tilintar de pequenas gotículas de uma calha foi o que sobrara de ruído naquela residência.

"O que farei da minha vida de agora em diante?" meditava, então tamborilou os dedos nas coxas.

Seu futuro era incerto, mais do que incerto, era quase inexistente. Sem escolaridade, sem apoio e sem conhecimento não havia muito o que Isabella pudesse fazer além de continuar como uma empregada.

O Imperador VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora