Capítulo XVIII

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Desde que se beijaram no lago, o relacionamento de Isabella e Alexandre tomou um rumo completamente distinto do que era antes, ainda que aparentasse ser o mesmo na superfície. Os dois começaram a compartilhar mais coisas entre si; sentimentos, histórias, emoções. Quase tudo que se pudesse pôr em palavras, e algumas coisas que não podiam. A jovem de olhos azuis sempre fora aberta para compartilhar, entretanto agora era como se não houvesse mais segredo que ela não pudesse compartir com Alexandre, quase. Em contrapartida, o Imperador nunca fora muito aberto em relação a, bem, muitas coisas, contudo ele sempre parecia mais sereno na presença de Isabella. Mas acima de tudo isso, eles passaram a se beijar, e se beijavam muito. Em cada momento que estivessem a sós, em cada situação oportuna e às vezes em situações inoportunas. E ambos se perguntavam, o que faziam para passar o tempo juntos antes daquilo?

Entretanto o tempo não para, e o outono se pôs a correr em cabal delírio. Isabella nunca foi tão ocupada. Tinha suas aulas de dança, etiqueta e diversos, e logo se punha a visitar o mago e o campo de treinamento. Conheceu muitas pessoas, dentre elas mais um dos seis generais de divisão, um rapaz chamado Nisório.

Um homem alto, como quase todos os licryanos, não muito atraente, mas com um nariz bonito e uma pinta do lado esquerdo da boca. Era portador de uma atitude leviana, todavia era um bocado agradável e parecia genuinamente gostar de Isabella.

- Vossa Alteza, você sabia que Caim tem uma pinta em formato de coração na nádega esquerda dele? – perguntou certa vez em tom de brincadeira.

A jovem imediatamente corou ao passo que levava as mãos enluvadas a face e encarava o guarda que se posicionava logo atrás de si; as feições do gêmeo estavam possessas, seus lábios eram como um arco perfeitamente voltado para baixo e seus olhos brilhavam com franco asco. Isabella sentiu um frio subir pela espinha, e então voltou a fitar Nisório que cantarolava sem preocupações.

A única coisa em que Isabella pensava era como ele sabe disso? Mas de sua boca apenas saíram palavras soltas e engasgadas feito – Ora Nisório, você não devia espalhar essas coisas por aí...

- Mas é verdade, foi o Abel que me contou – afirmou ao mesmo tempo que fazia um biquinho. – E depois, eu mesmo fui conferir.

"E por que você conferiria uma coisa dessas? Melhor, por que Abel te contaria uma coisa dessas?" pensou em fúria.

Acontece que aparentemente Nisório adorava zombar de Caim já que suas reações eram engraçadas, esse também parecia ser o motivo pelo qual ele pensava tão bem de Isabella. Ademais, ao que tudo indicava, os gêmeos e ele eram amigos de infância, então possuíam um certa intimidade.

Conforme o tempo passava, o céu se tornava mais cinzento e as árvores mais nuas. Não era impossível ver folhas secas espalhadas pelo chão, ou um vento tão cortante e gélido que fosse capaz ferir os lábios de Isabella. Era o inverno que batia a porta e adentrava as fissuras do palácio. No entanto havia uma beleza que apenas o inverno era capaz de fornecer, e isso era a neve.

É impossível descrever a felicidade da jovem quando descobriu que nevava em Licrya. Seria a primeira vez que ela veria aquilo. Infelizmente, ainda não havia caído a primeira neve, mas Isabella se encontrava quase todas as manhãs espiando pelas portas de vidro cobertas de geada cristalina em seu quarto no intento de encontrar qualquer resquício de algo esbranquiçado pelo chão.

Foi mais ou menos nessa época do ano que a jovem recebeu a notícia de que não mais teria aulas de etiqueta ou de dança.

- Por quê? – inquiriu a Macaff ao mesmo tempo que segurava suas mãos delicadas.

- Ora, porque eu não tenho mais nada para te ensinar, pelo menos, não mais como princesa herdeira – explicou com um sorriso amarelo.

- Mas eu não quero – queixou-se agarrando sua cintura repentinamente.

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