Capítulo XXII

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O salão estava escuro e o chão embebido de algum tipo de líquido – não dava para ver direito. – O corpo de Isabella parecia produzir luz própria e brilhava apenas o suficiente para ser visto. Não usava seus vestidos de tecidos extravagantes, apenas sua jeans, tênis e moletom habituais. Ela deu algum passos tentando se localizar, seus estrépitos eram asfixiados pela umidade do chão. Não tinha ideia de onde estava. Escrutinou um pouco o cômodo, mas não encontrou nada, então decidiu ir embora.

Duas portas grandes com desenhos triangulares se projetaram da escuridão. Elas também brilhavam. Isabella começou a andar em sua direção, entretanto parou ao ouvir um ruído baixo.

"Que barulho é esse?" perguntou a si mesma olhando ao redor.

A jovem fechou as pálpebras róseas no intento de concentrar-se; era um som quente e abafado, ecoava em intervalos regulares e era provindo do tórax – era o barulho de um pranto sincero, um fragor tão familiar a Isabella.

Ela olhou ao seu redor a procura do responsável pelo som e viu uma criança de cócoras, sentado acima de um pequeno monte colorido que a jovem não soube identificar. Ela cerrou os olhos cerúleos com o objetivo de ver melhor, conseguindo discernir alguns formatos – uma cabeça, uma mão, um braço – e assim percebeu que aquela criança estava sob corpos finados e que o líquido que preenchia o salão era o sangue deles que escorria incessantemente.

Um primeiro pensamento a mandou sair dali imediatamente, só que seus pés não obedeceram. Ao contemplar a porta, Isabella teve a impressão de que se fugisse daquele salão, ela nunca mais seria capaz de retornar e isso a consumia de angústia por algum motivo.

A jovem se aproximou da criança, os defuntos já não lhe incomodavam mais. O garoto ergueu a cabeça, seus olhos rubros brilhavam como o lago de sangue sob seus pés.

- Por que está chorando? – indagou com um sorriso cálido.

- É porque estou sozinho – respondeu fungando, ele se esforçou para impedir suas lágrimas de continuarem rolando.

As palavras saíram dos lábios de Isabella por si mesmas, e ela se surpreendeu com isso – não sabe que tem a mim, Alexandre?

A jovem voltou a contemplar o garoto, entretanto ele não estava mais chorando e não era mais uma criança. Alexandre sorriu para ela e começou a sumir ao interim que o aposento a sua volta se despedaçava e transformava-se em um quarto em tons pastéis.

Isabella respirou, abriu os olhos e comtemplou o seu teto repleto de videiras retorcidas. O barulho de seu sangue sendo bombeado ecoava feito tambores em seus ouvidos. Ela moveu os dedos lentamente, então os braços e as pernas; ainda podia sentir seu corpo. A jovem olhou em volta – estava deitada em sua cama. Seu guarda-roupa massivo ainda estava ali. Sua penteadeira, poltrona e sua mesinha. Tudo ainda em seu devido lugar. – Aparentemente a história que Rowa lhe contara ontem fê-la ter sonhos estranhos.

Saber sobre a vida de Alexandre não fez com que seus sentimentos para com ele mudassem, conquanto fê-la pensar em muitas coisas; coisas como o certo e errado, amor e ódio, luxúria e solidão, morte e vida. A história do Imperador girava em torno de tais antíteses em um ciclo interminável. E seu sofrimento não mostrava um fim eminente.

Se os olhos eram as janelas da alma então as de Alexandre estiveram sempre trancadas a sete chave.

Será que um dia ele se mostraria para si? Era uma pergunta que assombrava Isabella, só não mais que uma das possíveis respostas.

O aposento ainda estava escuro, mas já eram sete horas da manhã. As noites de inverno eram mais longas. Uma luz cinzenta e azulada adentrava a alcova, formando quadradinhos no chão devido a porta de vidro. O céu era uma parede grossa de cimento. Se a jovem pudesse tocar as nuvens elas definitivamente se mostrariam sólidas e congeladas.

O Imperador VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora