Capítulo XXI

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Algumas semanas depois de seu aniversário de onze anos, Alexandre foi convocado para a sala do trono.

Ele se dirigiu para lá, nem muito ocioso nem muito rápido, sentindo o vento frio beijar-lhe a pele como um velho conhecido. E apesar da antítese, aquele tempo lhe aquecia os ossos. Fazia-o sentir mais vivo.

Alexandre abriu as gigantescas portas de madeira marrom escuro produzindo um baque ensurdecedor. Janelas com desenhos mosaicos das mais variadas cores se estendiam na parede direita do aposento, permitindo que a luz de inverno lhes atravessasse e enchesse o salão de cores. Na parede esquerda, havia pelo menos cinco tapeçarias gigantescas, uma do lado da outra, todas estampando a begônia negra em fundo vermelho, a bandeira de Licrya. Seu pai já estava ali, no fim da sala sentado em seu trono descomunal e coberto por ouro e filigrana. Usava uma capa de pele marrom escuro com um cheiro fétido de monstro apodrecido. Tinha a tez ao redor de seus olhos vermelhas, dentes amarelados e unhas quebradas na carne. Aqueles eram alguns dos claros sintomas do uso contínuo de xifta, uma droga importada do reino de Acrillion. E pela perna inquieta do Imperador, dava para perceber que ele estava em estado de abstinência.

Alexandre não era estúpido o suficiente para não saber pelo que ele fora chamado; era óbvio que o Imperador o havia convocado para castigar-lhe pelo que aconteceu com seus irmãos. Dava para ver isso só de comtemplar seus olhos negros brilhando com fúria, medo e inveja.

Alexandre foi levando sua vida daquela forma. Sempre diligente, sempre às escondidas, sempre na escuridão. Apenas esperando o momento certo de escapar. Entretanto, ele se descuidou, deixou que a raiva tomasse o melhor de si e fora descoberto. Agora pagaria o preço por isso e decerto não seria nada aprazível.

Do lado esquerdo de Ikaros estava a primeira conselheira Eleanor. E ao se ajoelhar em frente ao seu pai, ele foi capaz de trocar olhares com ela e reconhecer seu semblante de ressentimento e repreensão. Alexandre não deixou que aquele tipo de coisa o afetasse, afinal, não era nela que Nero planejava mijar.

- Meu filho caçula, é tão bom vê-lo. – Alexandre sentiu seu estomago revirar.

- Vossa Majestade – cumprimentou sem mostrar qualquer sentimento.

Ikaros sorriu. – Acho que você já deve ter ideia do motivo de eu tê-lo chamado aqui.

- De forma alguma, Vossa Majestade.

- Eu soube o que aconteceu entre você e seus irmãos mais velhos – foi explicando com calma, não era possível ouvir um traço sequer de descontentamento em sua voz. – Quem poderia imaginar que você tinha tal talento.

Alexandre não respondeu, então Ikaros prosseguiu – quem te ensinou a invocar Sepulcral?

- Eu aprendi sozinho, Vossa Majestade.

- Mentiroso! Não tem como você ter aprendido um feitiço daquele nível soz... – explodiu de repente, no entanto se acalmou e limpou a garganta. – Bem, meu filho, se você diz, eu só posso acreditar em você.

Alguma coisa não estava certa. Alexandre olhou para Eleanor em busca de reposta, entretanto ela apenas balançou a cabeça com certa melancolia.

- Eu imagino que que você já saiba que nosso setor militar tem tido sérios problemas com a falta de soldados, armas e suprimentos.

"Estão com problemas porque você tem desviado dinheiro do setor militar para seu bolso" ruminou cerrando o punho, entretanto só conseguiu respondeu um acho que eu ouvi falar.

- Nesse tipo de situação eu tive que fazer uma escolha difícil – murmurou com os ombros caídos. – Coisas de Imperador, você não entenderia – E deu ênfase no você não entenderia em uma espécie de zombaria.

O Imperador VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora