Coisas de mãe

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O sentimento de medo e impotência é algo realmente inexplicável.
Ser mãe é desafiador demais. Totalmente sem avisar, você está em situações que te deixam vulneráveis, que te fazem perder o chão e fazem você pensar mil coisas ao mesmo tempo.
Eu nunca me vi como uma mulher frágil, apesar de reconhecer minhas fragilidades. Sempre fui atrás do queria e buscava mais. Independente do que fosse encontrar pelo caminho. O medo não era um sentimento presente na minha vida.

Hoje, todos os dias eu sinto medo. Medo de não ser uma boa mãe, de não saber entender as vontades dela, medo de não conseguir ser 100% presente em algum momento, medo dela não ser uma criança feliz. MEDO!
Esse é o sentimento que me rondava 24h.
Só quem é mãe vai conseguir me entender.

O amor mais avassalador é esse. Você se doa em tempo integral. Você não vive para se dedicar às necessidades do bebê. Você abre mão das suas vontades, para fazer as vontades de alguém que acabou de nascer.
O ditado é muito certo: Nasce um filho, nasce uma mãe.
Na verdade, aqui a mãe nasceu no dia do primeiro positivo. Desde lá, eu sabia que o meu antigo EU já não existiria mais e que agora seríamos sempre NÓS. Até o fim da minha vida.
...

Chegamos ao hospital, e eu simplesmente não conseguia concluir uma frase em inglês. Parecia que minha mente havia bloqueado qualquer coisa. Eu não lembrava os meus dados, o meu nome completo. Um apagão na minha cabeça.
A Maya ainda estava quente, mas dormindo. Eu não soltava a mãozinha dela nem por 1 segundo.
Eu não pensava em nada, não queria ver nada na minha frente. Só um médico.

Fomos atendidas de forma excelente na recepção. A Nina resolveu tudo, e em poucos minutos já estávamos na sala da médica.
Ela via meu desespero e só pedia para eu me acalmar.
Eu estava tentando, eu juro que eu estava.
A Maya chorava, e eu chorava junto.

Eu: "A mamãe aqui minha filha. Calma, a mamãe aqui"  - Ela se acalmava e sugava com mais força sua chupeta.

A médica deixou ela completamente sem roupa para avaliar ela inteira. Fez ausculta e graças a Deus, nada. Na garganta, também nada. Por último, avaliou o ouvidinho dela.. BINGO.
Estavam inflamados.

Dra: "Olha mamãe, sabemos o que a sua bebê tem. Uma inflamação média no ouvidinho. Chamamos de otite. Esse é o motivo do choro e da febre. É uma dor muito forte"

Eu: "Meu Deus. E o que causou isso? Eu fiz alguma coisa de errado?"

Dra: "Calma. O ouvidinho dos bebês são muito sensíveis. Nesse fase, é muito comum acontecer. Pode ser o frio, pode ser que tenha entrado água. Nós vamos medicá-la aqui e deixá-la em observação pelas próximas 12h. Essa febre precisa diminuir. Se tudo der certo, hoje mesmo ela vai para casa"

Eu: "Meu Deus. Vão precisar furar ela?"

Dra: "Infelizmente sim"
...

Me vi numa situação desesperadora. Minha bebê estava sofrendo de dor, por culpa minha. Eu me sentia a pior mãe do mundo.
A Nina me abraçava e tentava me acalmar. Eu não conseguia não sofrer vendo ela ali com a medicação na mão. Com certeza a pior dor que já senti na vida. Tiraria dela e passaria para mim.

Liguei desesperada para o Brasil para falar com a pediatra dela, que foi super gentil e me acalmou. Disse que na idade da Maya isso acontecia demais, por conta da agitação no banho, ou por conta da mãozinha no ouvido. O procedimento era básico para diminuir a febre.
Ainda com tudo isso, eu não conseguia me acalmar. Só pensava no que eu poderia ter feito de errado e quando poderia ter começado. Se eu tinha notado cedo. Ou se ela estava sofrendo há mais dias.
Minha cabeça parecia que ia explodir.

O início da vida a dois (JADRÉ) - PÓS BBBOnde histórias criam vida. Descubra agora