Capítulo 36

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Atílio havia saído bem cedo juntos com os peões para buscar o gado, Jamile estava na escola com Luíza. Amélia cuidava dos afazeres junto com Matilde, Guadalupe acordou bem cedo e estava dobrando as roupinhas do bebê, quando sentiu uma forte dor abdominal.

Guadalupe

Eu sinto que chegou a hora, logo hoje que Atílio e nenhum dos outros homens está aqui.

Guadalupe - Amélia, Amélia! - Gritei sorrindo e sofrendo ao mesmo tempo e logo ela chegou no quarto já aos gritos.

Amélia - O que foi menina?

Guadalupe - Chegou a hora, meu filho vai nascer.

Amélia - Fique calma, vou chamar Matilde.

Me sentei na cama, entreguei esse momento a Deus e sei que ele não irá me desamparar. Matilde logo apareceu...

Matilde - Sua barriga abaixou demais em pouco tempo!

Guadalupe - E isso não é normal? Ai ai, Deus a dor está ficando insuportável. - Eu chorava e me revirava na cama.

Matilde - Infelizmente não filha, aqui eu não posso fazer o seu parto.

Guadalupe - Como não pode aqui?

Matilde - Vou te levar para a minha cabana, lá eu posso usar as coisas que tenho e trazer seu filho ao mundo com mais segurança.

Amélia - Não vou permitir que a tire desta casa, isso é loucura!

Guadalupe - Desde que meu filho nasça com vida, eu não me importo com onde possa ser o parto.

Matilde pediu ao único peão que tinha ficado na casa, para que me levasse na carroça até a casa dela. Lá ela disse que havia uma cama especial e com perneiras para deixarem minhas pernas elevadas e abertas para facilitar a saída do bebê, Amélia não saíu do meu lado um só momento.

Matilde - Chegamos Lupe, fique calma.

Me colocaram naquela cama e Matilde abriu minhas pernas, eu estava com muita dor e medo, não queria estar sem Atílio naquele momento tão importante das nossas vidas.

Guadalupe - Vá com ele na carroça, busque Atílio. Por favor traga ele para mim!

Amélia - Não conseguirei chegar a tempo.

Guadalupe - Não importa, avise a ele que estou aqui. Rápido! - Eu implorei aos gritos, senti o cheiro das ervas que Matilde preparava e não sei se para mim ou para o bebê.

Fiquei muito tempo gritando e pedindo a Deus que nosso filho viesse ao mundo saudável, sentia Matilde passar o pano úmido em minha testa limpando o meu suor. Uma dose forte e intensa de dor e força, invadiram meu corpo e meu próprio grito de desespero foi a última coisa que ouvi.

Ester - Princesa, está me ouvindo?

Guadalupe - Mamãe? - Senti ela tocar minha mão, não havia mais dor.

Leonel - Como está se sentindo?

Guadalupe - Feliz, feliz por dar ao homem que eu amo a maior felicidade desse mundo. - Ouvi o intenso choro da minha mãe. - A senhora está emocionada? Onde está o meu filho, eu já posso pegar ele no colo?

Matilde - Me deixem falar com ela, por favor!

Guadalupe - Fala de uma vez, ele não é um bebê perfeito? Não importa, eu vou amar ele do jeito que for.

Matilde - Seu bebê, infelizmente nasceu morto!

Eu não podia acreditar que depois de tanto sofrimento, eu ainda ficaria com as mãos vazias, gritei gritei até minha garganta doer. Senti as mãos de Atílio me conterem em um abraço quente e só ele era capaz de me dar um pouquinho de paz.

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