Capítulo 33

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 Não estava crendo que ele havia simplesmente saído do quarto sem dizer uma palavra. Eu não o culpo. Pedi isso, escolhi isso. Não podia ter esperado uma reação boa. Mas doía muito mais saber que ficarei longe dele, do que toda a dor que sinto com o câncer. E eu precisaria enfrentar esse hospital sozinha. 

A semana no hospital estava somente começando. Era o primeiro dia pós cancelamento do casamento e eu não aquentava mais ficar sem ver Christian. Mas era algo necessário. Quem sofreria no final das contas seria ele, e eu não partiria em paz sabendo que o motivo da dor, do luto de alguém, é por culpa minha. Eu sabia é claro, que tinha deixado o homem da minha vida escapar por entre meus dedos mais um vez. Sabia que a minha única chance real de ser feliz enquanto vivo foi jogada fora por medo de magoar ele. E eu prefiro que ele sofra agora e quando enfim eu partir ele consiga superar de uma forma fácil, do que ficar feliz com ele agora, e ser o motivo dele não conseguir dormir nos primeiros dias. 

Eu estava terrivelmente entediada no quarto do hospital. Sem poder fazer muita coisa além de pedir ajuda para a enfermeira e ir até ao banheiro. Eu estava fraca até mesmo para ficar de pé sozinha por muito tempo. Algo me dizia que eu não passaria disso. E a única pessoa que provavelmente sorriria e diria que eu melhoraria, era a única pessoa que provavelmente não aparecerá mais. 

- Boa noite Lisa! - a jovem enfermeira disse assim que adentrou calmamente o quarto. 

- Boa noite! - cumprimento ela com um sorriso pequeno.

- Pensei em trazer algumas atividades que você consiga fazer. Imagino que você esteja enlouquecendo aqui sozinha. - ela só podia ser meu anjo protetor! 

- Sim! - falei, em um tom um pouco mais exagerado que o necessário. - O que trouxe? 

- Bem, alguns papéis e algumas canetas. Trouxe também um DVD, a TV do hospital funciona somente com isso. E - ela cochichou - Não diga as outras, mas eu trouxe um chocolate para você. Vi que seu namorado não voltou mais depois de ontem, então quis animar você! 

Eu podia jurar que lágrimas brotavam nos olhos dela, mas tinha certeza que lágrimas agora rolavam pelo meu rosto. 

- Tudo bem Lisa? - ela parecia preocupada, rapidamente indo checar se estava tudo bem. 

- Desculpe. - eu disse. - Desde que comecei o tratamento, é a primeira vez que fico sozinha. - dou um sorriso. - parece besteira, mas ele sempre esteve comigo em cada procedimento, em cada quimio, em cada etapa. E agora eu... - um soluço teimoso escapa, e vejo a enfermeira com um olhar acolhedor, um olhar de quem compreendia. 

- Se sente sozinha. - ela não perguntou, mas afirmou. 

- É. Mas - enxugo as lágrimas. - A culpa é minha. Afastei ele. Mandei ele ir embora. Não ia suportar morrer sabendo que magoaria alguém com isso. 

- Se me permite dizer. Talvez você devesse chamá-lo para cá novamente. Sabe, não é bom magoar as pessoas e acredite em mim eu vejo isso acontecendo diariamente. Mas, se privar do amor, de amar e ser amada. Bom, isso costuma ser muito mais doloroso para ambos. Acredito que se você ficasse com ele, se você partir, ele pelo menos viveria aliviado sabendo que passou o tempo que pode com você. Mas, se você o priva disso, de estar com você... - ela fez uma pausa e me olhou nos olhos. - Talvez ai sim você esteja condenando-o a tristeza e amargura.  

- Iríamos nos casar no próximo mês. Mas eu cancelei. Não acho que ele queira me ver depois disso. 

- Se ele a ama de verdade, com certeza voltará e entenderá seu lado! Enfim, preciso olhar mais alguns pacientes. Mas se precisar de algo é só apertar nesse botão. - ela aponta para um botão verde no lado da cama. - Eu virei rapidamente! 

Quando tudo  vai bemOnde histórias criam vida. Descubra agora