Quando tudo vai bem

Capítulo 34

- Dói Chris... - estávamos em uma conversa dias após ele vir me ver e eu decidir que ficar longe dele não é uma opção. - Tudo dói. Respirar dói, comer dói, fazer quimioterapia por quatro horas dói, tentar vários procedimentos e não dar certo dói; vomitar as tripas todos os dias,  dormir a maior parte do tempo, não consegui sair dessa cama de hospital. Tudo isso dói. Mas nada dói tanto quanto ver você me olhando assim. Com pena. E o pior, dói saber que eu vou causar uma dor em você. Dói saber que não consigo ficar longe de ti e isso vai causar uma ferida em ti que eu não queria que tivesse. Eu queria ser sua cura e não sua dor... 

- Lisa... - Christian enjuga uma lágrima que escorria por meu rosto. - Não ligo se vou ficar triste. 

- Mas eu ligo Chris. 

- Olha. - ele diz, se ajeitando na cama. - Eu não quero que se case comigo forçada. Se você quiser, o pedido ainda está de pé mas, se não quiser... Ao menos me deixe ficar perto de você. Te perdi por tempo demais. Não quero perder você de novo. Não quero deixar você agora Lisa... Eu sei que isso não é sobre mim, só que, eu realmente não quero dar as costas pra você agora. 

- Chris... - lágrimas continuavam rolando pelo meu rosto. 

- Não precisa dizer nada agora Lisa. 

- Chris eu quero ficar com você. Eu ainda acho que é egoísmo da minha parte mas eu não consigo ficar longe de você. E eu... Nunca me senti tão sozinha como me senti nos dias em que me afastei de você. Parecia que aquela época havia voltado. E eu entendi. Eu entendi que preciso que você fique. Se quiser é claro. Mas não acho que eu queira um casamento. 

Eu consegui ver o brilho no olhar de Christian desaparecer por completo naquele exato momento e uma pontada de arrependimento ressoou pelo meu corpo. Fechei meus olhos tentando esconder que isso também me incomodava. 

- Tudo bem. - ele sorriu sem mostrar os dentes. - Estou feliz por ficar com você de qualquer jeito. 

Duas semanas tinham se passado. Eu havia decidido ficar no hospital por agora. Não queria incomodar Christian e eu estava fraca demais para ficar em casa. Christian vinha todos os dias ficar comigo. Fazíamos o que conseguíamos. Ele trouxe um piquenique até o quarto do hospital. Ele  dançava comigo - mesmo eu ficando mais apoiada nele do que de pé - e estávamos indo muito bem de novo. 

Chloe e Piter adotaram um cachorrinho, acho que é bem séria a relação dos dois. Eles também estão bem presentes agora. Minha mãe não para de chorar. Sempre que entra no quarto ela desaba e eu consolo ela em todas as vezes. 

- Ah querida. - minha mãe dizia, enquanto entrava pela porta do quarto - Eu sinto muito amor. 

- Está tudo bem mãe, eu estou bem. - eu mentia em todas as vezes. Eu sabia que era errado, mas dizia a ela que eu ia me recuperar logo. Mas acho que ela suspeita da verdade. 

- Eu amo você Lisa. Você é a melhor filha que eu poderia ter! 

- Eu te amo também mãe! - eu fazia carinho em sua mão, enquanto ela enjugava os olhos com a mão livre. 

- Me desculpe por chorar. 

- Não peça desculpas mãe. Pode chorar se quiser. 

- Você é tão forte meu amor! Eu te amo tanto... - ela soluçou 

- Você me ensinou a ser forte lembra? - ela sorriu 

 "seja forte Lisa. Sempre seja forte. O mundo é cruel mas se você for forte e gentil você passa por qualquer coisa" 

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- Eu não sei o que fazer Chloe... - Lisa havia ficado de encontrar sua mãe durante o dia no hospital, e eu marquei de conversar com Chloe e Piter. 

Já faz algum tempo desde que me colocaram nessa situação. E eu sinceramente não sei mais o que fazer. Não tem um único dia que eu não pense sobre isso. Sobre a notícia. Sobre... 

- Acho que ela merece saber a verdade Chris... - Chloe dizia 

- Eu concordo, não é justo com ela. Mas entendo o seu lado também. - Piter rebatia. 

Eu estava a poucos de enlouquecer. Ver Lisa naquela situação me deixava louco. Eu não consiga dormir direito, eu só pensava se ela ainda estava respirando. Levantava de minuto em minuto pra checar se estava tudo bem. 

Lisa era tudo para mim. Não aguentava vê-la sofrendo. Ela dizia que estava tudo bem. Mas eu sei que ela finge ter uma força que ela mesma sabe que não tem. Ela é a mulher mais forte que eu conheci, e mesmo assim, essa situação conseguiu ser ruim o suficiente para fazer com que ela precisasse fingir que estava bem. Eu sabia que ela não estava, sabia que ela mentia sobre isso. Sobre não estar com medo. Era tudo mentira. Assim como as vezes em que digo que sei que ela vai melhorar...

Somos dois mentirosos nesse mundo de dor e sofrimento, onde mentir sobre o que sabe e sente é melhor do que ser sincero. 

- Você devia contar. Eu posso ir junto. Nós podemos ir. 

- Não sei Chloe. Eu... acho que no fundo ela sabe mas... Contar assim eu não... não quero eu... Não sei o que fazer.

- Você sabe o que fazer. Ela precisa saber. 

- Eu sei. Eu vou contar para ela amanhã. Amanhã com certeza eu vou falar pra ela. Desculpa gente. Precisava desabafar sobre isso com alguém. Eu ia enlouquecer. 

- Sabemos disso. - Piter disse. -  Você não tem que passar por isso sozinho cara. Somos amigos dela também. 

- Obrigado! Isso é importante pra ela. Ter vocês. 

- E é importante para ela ter você também! - Chloe disse por fim, me dando um abraço de despedida.