eu não estou seguro sobre isso

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Decerto, fatigou-me as óperas italianas. Não que sejam ruins, mas porque para tudo há limites. E enfim, após anos, essa ida e volta havia chegado ao fim.

Me sinto cansado. Um pouco cansado de mim, porque estou, mais uma vez, fazendo o que não deveria fazer. É curiosidade, eu sei. A princípio, tudo bem. Mas se tornou rotina. Então eu percebo que ambos estamos nessa coisa silenciosa, sem nem saber o que realmente estamos fazendo. E ainda vou encontrá-lo depois de amanhã. Ele não sabe que eu vejo, então talvez eu deva apenas fingir.

Toda vez que encho meus stories com um punhado de mídias que exprimem minha opinião acerca de algo ou expõem minha vida particular, eu sei que ele é um dos primeiros a visualizar. Silencioso, calmo, quase invisível. Ele não curte nenhuma publicação, então não quer ser notado. Não participa de lives, não manda direct algum tampouco comenta algo. Mas é só eu abrir minha câmera frontal, escolher um filtro, fazer uma careta, adicionar um texto — "finalmente em casa!" — e postar. Isso já é o bastante. No máximo, minutos. Mas sempre está lá: o nome de usuário dele, constando presença dentre tantos que vêem o que posto.

Eu respiro fundo, abro seu perfil. É privado agora, e eu parei de segui-lo assim que brigamos. Diz que há vinte publicações. Quando eu seguia, tinha sete. O que há de novo que ele postou? Aperto os olhos, fingindo que nunca vi a sua foto de perfil, fingindo que não vi Christopher postar no stories a publicação do Hyunjin com a mesma foto. E essa foto... Bem, ela diz muitas coisas.

Estou prestes a checá-la no tamanho normal quando a campainha toca. E então olho para mim, sentado no sofá, vestindo apenas um roupão, cabelo molhado e pele úmida, olhando a vida dos outros na internet como se isso me interessasse. Não, eu não devo me importar com isso. Eu não vou me importar com isso.

— Ah, oi, Seungmin! — finjo surpresa ao abrir a porta. — Meu Deus, você trouxe uma garrafa de vinho e uma caixa? O que é tudo isso?

— Ah, até parece que Christopher não te contou — revira os olhos e já vai entrando em casa. Eu acho linda essa nossa intimidade. — Você consegue atuar melhor que isso, Jisung.

— Eu sabia que você sabia que eu sabia — falo, fechando a porta.

— Você e seu coreano confuso, como sempre — ele vai andando para a cozinha e eu deixo, indo calmamente até meu quarto.

Acho que vou voltar a dormir lá em cima, penso que não devo me preocupar com minhas bebedeiras. Eu posso me consertar. Vou pensar mais sobre isso.

— Você que me ensinou tudo errado, então — comento, indo diretamente ao closet para pegar algum pijama. Preciso dormir urgentemente.

— Não culpe o professor pela burrice do aluno.

— Tá me chamando de burro, Seungmin? — tiro um conjunto do guarda-roupa e jogo sobre a cama. Eu poderia só ficar de cueca, mas não confio tanto em Seungmin. Ele sabe disso.

— De jeito nenhum, querido.

Xingo silenciosamente e trato de desmanchar o nó do roupão. Às vezes eu tomo banho e esqueço que estou sem roupa. Inúmeras vezes vesti o roupão, passei a noite nele e na hora de dormir, simplesmente tirei e deitei na cama pelado mesmo. A nudez é liberdade, para ser sincero. Liberdade.

— Vem cá, eu posso pegar as taças que estão no... Eita! — o idiota do Seungmin aparece com a garrafa de vinho no meu quarto no exato momento que tirei o roupão.

— Seungmin, filho da mãe! — me cubro outra vez e ele vira-se de costas rapidamente. — Poderia dizer que estava vindo?

— A porta estava aberta, então achei que não seria nada demais — responde. — Aliás, o sol da Itália fez magia no seu corpo. Tá bem moreninho.

— Vai se ferrar, sai daqui! — o empurro para fora do meu quarto, rindo da sua ousadia.

Assim que fecho a porta, tiro meu roupão e visto o pijama. Bege de seda. O tipo de roupa que eu costumava usar em Paris, anos atrás, quando ainda era um estudante e queria parecer bonito para impressionar alguns garotos da república.

— Agora você pode entrar — digo, pois sei muito bem que ele plantou-se na porta do quarto, após a minha expulsão.

— Você é um amor — sorri, me entregando uma taça abastecida de vinho.

Bebo um gole, sigo ao banheiro. Seungmin adentra o cômodo, olhando ao redor enquanto bebe o próprio vinho. Parece até que ele nunca veio aqui, pelo seu rosto. Deixo a taça sobre a bancada e passo a secar meu cabelo com o secador. Eu preciso dormir cedo, já que amanhã voltarei permanentemente ao restaurante e estou um tanto ansioso para isso. Estava morrendo de saudades...

— Deixa que eu faço — arranca o secador da minha mão e passa a secar meu cabelo, aproveitando-se do fato de ser maior que eu. Acho que todo mundo é maior que eu. Triste vida, amigos. — Vem cá... Me confirma algo?

— O que seria? — respondo, fechando os olhos ao sentir o cabelo sendo secado e mais ainda com os dedos dele suavemente roçando no meu couro cabeludo.

— Você vai ao encontro do Christopher no café, depois de amanhã? — ele diz. Ah, céus... Meu estômago embrulha só em lembrar disso. Parem de me lembrar disso. Eu já lembro por mim mesmo, ok?

— Eu não estou seguro sobre isso — respondo, após engolir em seco. — Mas não vou dar bolo no Christopher.

Eu nunca daria bolo no Bang. E eu sei que ele precisa do meu apoio e ajuda agora. Porque, finalmente, depois de anos namorando a Minyoung, ele decidiu pedi-la em casamento.

Foi uma surpresa para mim, claro, pois estava vomitando num pub em Nápoles quando recebi uma mensagem em inglês, capslock, repleta de emojis de coração com um aviso de que ele estava pra casar. Casar. Christopher irá se casar. Nossa, eu quase vomitei outra vez. Mas fiquei feliz por ele, ainda estou. Mal acreditei na manhã seguinte. Casamento. Casamento. Essa palavra deixa um gosto estranho na minha boca, algo metálico e azedo. Casamento.

— Eu vou estar lá, então não vai ser muito desconfortável. Mas já conversamos sobre isso... — Seungmin desliga o secador e deixa sobre a pia de mármore carrara.

Concordo com a cabeça e deixo ele ajeitar meu cabelo antes de me abraçar por trás, olhando-nos pelo reflexo do espelho.

— Tu tá lindo com esse cabelo — conta, quebrando o clima tenso que se formou. Ele aperta levemente uma das bandas da minha bunda e sai do banheiro, carregando consigo sua taça de vinho. — Vem logo, 'que eu trouxe porcaria para a gente comer.

— Caramba, você tem um jeito de flerte da porra! — comento, rindo. Pego minha taça e sigo sua figura maior e rápida até a sala de estar.

Nos jogamos de qualquer jeito no sofá e colocamos algum filme de fantasia para assistirmos. E assim detonamos uma garrafa de vinho inteira e dormimos com os lábios melados de chocolate.

🫖

Enfim, o segundo livro saiu!

thé et fleurs • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora