Eu e Minho fomos caminhar entre as ruas de Oia pouco antes do pôr do sol. Ele tentou pegar na minha mão inúmeras vezes, tive de contê-lo ao ocupá-la com alguma coisa — como uma garrafa de água ou até mesmo meu celular. Não quero que crie esperanças sobre nós, porque por mais que seja gostoso segurar sua mão, nunca é apenas segurar sua mão. Ele que impôs isso. Gostaria de exterminar os significados das coisas e dizer que as faço porque quero, não porque elas indicam isso ou aquilo... E eu penso nisso quando tenho a pele ardendo pelo sol, sentado num quiosque ventilado e pedindo bebidas frescas para ajudar no calor.
Minho e eu ficamos em silêncio boa parte do tempo. Provavelmente porque estive quieto desde que saímos e ele me observa na dele. Percebi o modo o qual inclinou-se na minha direção agora há pouco, também o modo que voltou a postura anterior ao perceber que notei. Estou cansado, porque a viagem foi cansativa e ainda fomos explorar alguns lugares do hotel — bastante grande, por sinal — e nos acostumarmos. Tenho em mente ir à praia amanhã, se Minho tiver disposição, por isso pretendo dormir mais cedo hoje para carregar minhas energias.
Além disso, estou um tanto preocupado com a situação em relação a Christopher. Porque ele me mandou uma mensagem uma hora atrás pedindo desculpas por tudo e que queria ter uma chance para conversar. Eu lhe respondi que estou em Santorini com Minho, e que irei voltar à Coréia daqui a alguns dias. Eu pedi um pouco de explicação, sabe... Por que tudo isso?
chris e osmar: não queria terminar com ela, foi a pessoa que mais estive apaixonado na minha vida
chris e osmar: e eu tive de pedir em casamento
chris e osmar: eu amo ela, então mesmo que eu achasse que era cedo demais, eu pensei que poderia lidar com isso
chris e osmar: mas não é só isso, por mais que pareça simples
chris e osmar: é como você estar apaixonado e confortável com alguém, mas surgir outra que faça você querer desfazer aquilo que já está bom e no final você não saber se vai valer a pena, se vai sentir falta de como era antes por algo que você não sabe nem para onde vai
chris e osmar: você também pode herdar uma empresa e sabe bem como isso é complicado, tipo a família e tudo mais
chris e osmar: e eu meio que surtei, porque
chris e osmar: caralho me arrependo de tanta coisa, desculpa han !!!!!
chris e osmar: a gente conversa melhor quando você chegar
chris e osmar: eu nem sei o que falar para minyoung
chris e osmar: enfim, eu vou tentar resolver tudo
chris e osmar: vai curtir sua praia e esqueça disso por enquanto, por favor. odiaria te deixar preocupado e estressado por conta disso. vou fazer de tudo para me redimir
chris e osmar: te amo, fica bem.Essas foram as palavras dele quando conversamos. E, sim, estou preocupado, de qualquer jeito. E não como a torta toda que pedi, por isso deslizo gentilmente até Minho e num gesto peço para que coma. Ele entende e assim faz. Eu me sinto um pouco cansado. Na verdade, em demasia. Acho que vou me jogar na cama quando chegarmos. Já é o segundo suco de melancia que bebo e ainda não sinto que é suficiente para me sentir leve e refrescado. Por último, peço um de maracujá e rezo para que me deixe mais dopado.
— Tá acontecendo alguma coisa? — Minho questiona. — Se sim, posso te ajudar nisso?
— Não, está tudo bem — misturo a bebida com o canudo amarelo de papel, quase do mesmo tom do conteúdo. — Não se preocupe.
— Quer ficar ali vendo o mar? — aponta para a sacada onde podemos ver o mar e o pôr do sol melhor.
— Daqui a pouco — e, quando falo isso, ele põe a mão nas minhas costas e faz um carinho ao movimenta-las para cima e para baixo.
— Hannie... Por que você está tão quieto? Antes você me dizia que não gostava quando eu ficava quieto... agora eu que digo isso — e agora Minho sobe a mão até minha nuca.
— Eu estou cansado e também estou preocupado com algumas coisas... — apoio o cotovelo na mesa e bebo o suco, sentindo os dedinhos dele no meu cabelo.
— Vou ser invasivo se te perguntar o que são essas coisas? — Minho dá um gole no suco verde dele.
— Vai — ponho o pé no descanso de pé da banqueta dele.
— Ok — fica a olhar para o moço que nos serviu, como se estivesse querendo chamá-lo. — Como é mesmo maracujá em inglês?
— Passion fruit — lhe respondo. — Por quê?
— Vou pedir para o moço colocar um pouco de suco de maracujá aqui dentro.
— Aqui — despejo um pouco do meu suco dentro do seu e misturo com o canudo azul de papel que Minho está usando. — Resolvido.
— Ah, obrigado — ele sorri.
Também sorrio, como usual. O sol bate em algo e esse algo reflete no rosto do Minho como se fosse ímã. Seus olhos estão claros nessa luminosidade, e o cabelo meio úmido grudado na testa traz um semblante pueril à tua imagem alta e madura. Seus dedos ainda estão em mim, empurram algumas mechas do meu cabelo para atrás da minha orelha. E eu puxo seu suco verde junto a mim para beber, enquanto isso Minho fica cutucando meus brincos como se nunca tivesse visto.
— Ficou bom? — quer saber.
— Ficou — balanço a cabeça, agora deslizando o copo sobre o balcão, na direção dele. — Experimente.
Ele tira a mão de mim e volta a beber o suco dele. Ficamos quietos, ainda que Minho vez ou outra alcance meu joelho nu e faça-me carícias. Eu sacudo um pouco a perna, mas isso não o impede. E, enfim, levantamos para ir à sacada ver o mar e o sol alaranjado descer. Ficamos lado a lado. Eu apoio o cotovelo esquerdo na mureta e fico a olhar o horizonte azul e laranja. O crepúsculo nos beija, nos envolve, e eu caio nesse carinho. Min está com o corpo levemente inclinado para mim, como quem respeita meu espaço, porém ainda quer ficar próximo.
Sinto minhas inúmeras versões querendo zarpar de mim. Eu não as culpo. O horizonte diz que está tudo bem algumas coisas serem pesadas demais, que podemos jogá-las ao mar ou enterrá-las, que eventualmente novas melhores irão surgir. Mas é que é difícil e ninguém entende. Queria viver uma vida que não fosse preciso lidar com metade das coisas que devemos lidar. Talvez eu possa ser mais feliz amanhã ou depois. Pego-me pensativo e estressado. As ondulações marítimas encorpam-se a medida que penso. Não sou deus, sou pirata. Rasgo o mar com minha embarcação e pego o que não é meu para que não fique tão só. Tem coisas que são melhores na consciência. Eu não consigo me livrar de mim.
— Eu acho que recordarei de ti pelo resto da vida — diz do nada, sem olhar para mim. — Talvez sua imagem fique borrada mais tarde... Mas ainda lembrarei de você e de todas as nossas coisas. Às vezes não fazemos ideia do bem que fazemos às pessoas. Muitas vezes marcamos elas e, por mais que a vida seja repleta de pessoas e acontecimentos... Eu sei que me lembrarei de você. De algum modo, se você voar - e eu sei que vai -, vou me perguntar onde anda você e se está bem tanto quanto sempre lhe desejei.
Olho para o seu rosto, embora ele não esteja fazendo o mesmo que eu. Olho seu ombro ossudo querendo escapar da camisa, como sua postura está curvada e o vento que tira sua franja do lugar. A típica franja que ele dizia ser coisa de estudante, mas que usa em qualquer momento casual que viemos a ter. Às vezes olho para ele e me encontro. Não falo em alter ego ou similaridades, de modo algum. É como olhar um espelho que não mostra quem tu és, mas a quem você pode fundir-se. É como se fôssemos almas gêmeas que não eram para ser. Não eram para estarem juntas, grudadas, em par. E não estou sendo um idiota supersticioso que acredita nessas coisas — acredito, até, que minha descrença acerca de tudo talvez seja a única coisa a qual sou fielmente crente.
Minho põe a mão sobre a minha, e ela está quente e suada. Vejo como umedece os lábios com a ponta da língua antes de continuar:
— Você é o tipo de história que eu contaria se alguém chegasse junto a mim e perguntasse: "e como foi sua juventude?" Porque eu iria passar o olho em todas as coisas boas e você estaria lá, ofuscando todo o resto com esse sotaque arrastado, esse corte médio de cabelo e o sorriso de quem não se preocupa com as ordinárias facetas da dor. Você já está acostumado com tudo, mas sei que dói. E você sorri assim: solto, livre, brilhante, como se não doesse em ti as coisas que guarda e não ousa contar a ninguém. E talvez você se torne minha melhor história, porque é a mais triste: o amor é triste... Também é a mais feliz: o amor é alegria. Desesperadamente sei que irá voar para longe de mim um dia. Só espero que lembre de mim, talvez, como um heliporto, para quando sentir falta do chão.
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thé et fleurs • minsung
Fanfiction❝Han sempre preferiu fugir a se entregar ao egoísmo do amor. Minho é só o florista que bebe chá exageradamente e não larga seu bullet journal.❞ #2 LIVRO continuação de café et cigarettes adaptação autorizada capa por yiwah_zetta