Eu não sei o que fazer com Minho. Eu bebo mais que deveria, porque estou cansado e não aguento sentir tanto. Mas quanto mais eu bebo, mais sinto. E bebo mais e mais. Quero ficar entorpecido. Eu o amo demais. Eu não sei o que fazer. Às vezes queria desaparecer, ficar invisível. Porque finalmente gostei de alguém. Finalmente amei alguém. E percebi quão doem certas coisas que eu fazia e achava tanto faz. Não é tanto faz. Eu sinto raiva de mim por isso. Sinto raiva por ser tão frio e achar que todos deveriam ser como eu, porque no fim tenho razão. Não é. Não. Não é. Porque quando Minho voltar junto a mim, eu não saberei o que dizer. Se devo dizer algo ou ficar calado. Se devo pegar um táxi e ir para a puta que pariu, onde eu já deveria ter ido há muito tempo. Desta vez não vou falar de amor, não. Vou falar sobre comportamento. Sobre eu e o sentimento. Sobre como eu não gostava, mas agora gosto. Sobre como eu fazia algo que, agora que fizeram comigo, eu me sinto extremamente patético. Não em relação a ele. Em relação a mim. Que incômodo. Grande incômodo. Grande dia. Grande vida. Um brinde a porra nenhuma.
Duzentos e cinquenta euros, um mini MP3 rosa, três camisinhas, um anel de prata, um chaveiro do Snoopy e um smartchwatch de quinta categoria feito de plástico: prêmios do Minho, caso ele fizesse um body shot numa garota na cozinha. Ele nem olhou para mim antes de aceitar. Ficou animado, porque ele bebeu pra caramba e agora não para de dançar por nada. E ela estava lá, radiante, sorrindo, úmida, porque havia saído da piscina há pouco. Não sei por que fizeram essa aposta ridícula com ele. Quando estavam todos prontos, aí sim olhou para mim e fez um sinal de legal e uma meneada na cabeça, como quem quisesse perguntar se estava tudo bem. Dei de ombros, deixei que me empurrassem e ficassem à minha frente. Eu não queria ver direito mesmo.
E a menina deitou-se no balcão da cozinha, o rosto vermelho de vergonha, então provavelmente tinham enfiado ela numa aposta também. Olhei ao redor, vi os celulares erguidos e gritaria como "belly body shot" — quando se bebe, normalmente, tequila no corpo do alguém. Neste caso, na barriga. Eu sei que isso não significa nada, mas... Fiquei incomodado. Digo... É ridículo, sei... Mas fiquei. Eles quiseram fazer um mais clássico, então despejaram um pouco de sal na barriga dela e a fizeram ter entre os dentes um pedaço de limão. Eu acho isso uma coisa muito íntima para se fazer com qualquer um. Sabe... Se ele fizesse em mim, eu não iria ligar. Iria ficar com vergonha, porque seria em público. Mas eu não iria ligar. Mas não. Ele simplesmente aceitou fazer em outra pessoa.
Eu não vi direito quem apareceu com a garrafa de tequila, mas despejaram o líquido nela depois de muita enrolação. Ela teve de se contrair mais, para que não escorresse tanto. E eu vi. Eu vi a exata hora que Minho se curvou, tirou o máximo que pôde da bebida com a língua, segurando o quadril dela com as mãos. Eu sei que ele não estava pensando mais que isso, porque ele só queria ganhar o prêmio e pronto. Mas estava lá, mesmo assim, lambendo o sal polvilhado, depois "bebendo" a tequila do corpo daquela garota. E, para acabar, ainda teve a chave de ouro que era pegar o o limão da boca dela. E, só para deixar claro, teria que usar a boca para isso. É estúpido. Mas está tudo bem, está tudo bem.
E ele faz tudo isso, só para constar. Sorri para ela, o que me faz questionar algumas coisas. Ao redor, pessoas vibram e gritam, porque acharam que ele não iria fazer. Pelo menos, é o que entendo de alguém que está falando em inglês perto de mim. Estou aqui plantado, ao lado da porta do banheiro, com um copo de vodca na mão pensando no que devo pensar. Porque eu detesto o fato de ter ficado incomodado em vê-lo com outra pessoa, ainda que não fosse uma situação romântica. Mas era extremamente sensual, por isso estou chateado. Acho que, se fosse quatro anos atrás, eu seria Minho e meu namorado seria eu. Porque eu era bem idiota e dizia que, se não me incomoda, devo fazer, ainda que incomode meu parceiro. Eu não me detesto, mas... Estou desapontado. Vou beber mais.
— Jisung! — Minho alcança meu pulso numa das minhas voltas que dou pela casa, porque não pude ficar lá vendo sua comemoração e recebimento do dinheiro e o resto dos artefatos. — Vamos para o terraço!
Ele me puxa ao terraço e, percebo, está enfiando no bolso alguma coisa das que ganhou. Eu nada digo. Quando chegamos a um canto mais isolado, observo a piscina lá embaixo.
— Você quer ver o que ganhei? — ele começa a tirar do bolso da calça.
— Um bocado de apetrecho que, se você me dissesse que queria, eu teria comprado e poupado a vergonha e exposição — respondo, mas só agora percebo que saiu meio rude.
— Era só uma brincadeira — ele ri, mostrando-me o MP3 rosa de glitter prata. — Foi por diversão mesmo. É legal participar de coisas sociais e conseguir fazer besteiras. É patético, mas... Quando vai ser a próxima vez, né?
— Minho... — respiro fundo, evitando olhar os itens que ele ergue próximo ao meu rosto. Parei de acompanhar quando mostrou os pacotes novos de camisinha. — Eu não sei o que fazer com você.
— Mas o que eu fiz? — ele arregala os olhos. — Era brincadeira.
— A gente poderia fazer essa brincadeira lá no quarto, eu e você, e eu te daria qualquer coisa que quisesse.
Minho enfia as porcarias de volta no bolso da calça, tudo enrolado junto, estufando o jeans. Eu amo quando ele usa jeans. Ele usa jeans sempre.
— Mas, Jisung... Você não é a única pessoa do mundo... — ele praticamente sussurra, como se estivesse com medo de falar isso. — Foi meio esquisito, eu sei, mas... Se eu for sair e beber e me divertir com outras pessoas, eu posso... Você não pode ser meu único amigo.
— Amigo, né? — eu estou maluco para esfregar isso na cara dele depois. Nossa senhora, minhas cordas vocais estão vibrando de excitação.
— Você é meu amigo, antes de qualquer coisa.
— E depois de qualquer coisa?
— Quê? Onde você quer chegar?
— Tá, então... Você me deu a liberdade de fazer o mesmo com outras pessoas também, né?
— Você ficou bravo? — se Minho estivesse sóbrio, ele saberia que me abraçar agora é o mesmo que atirar na própria cabeça.
— Sério, me larga. Estou com calor.
— Desculpa, então? — ele joga os braços ao redor dos meus ombros. Eu encosto o rosto no seu peito e, sei, eu deveria estar super puto agora... Mas eu também abraço. — Desculpa, me desculpa. Me desculpa mesmo, eu não vou repetir. Eu sinto muito, Jisung.
— Só... Não precisa agir assim... Você poderia conversar comigo antes — digo, agora realmente me afastando, porque o calor está demais.
— Tá bom...
— Parabéns pelos prêmios.
— Valeu.
Minho suspira enquanto nos encaramos. Eu gostaria de ser mais honesto agora, falar as coisas que quero falar. Mas não vale a pena. Há sempre algum conflito e, honestamente, é cansativo demais. Muito cansativo.
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thé et fleurs • minsung
Fanfiction❝Han sempre preferiu fugir a se entregar ao egoísmo do amor. Minho é só o florista que bebe chá exageradamente e não larga seu bullet journal.❞ #2 LIVRO continuação de café et cigarettes adaptação autorizada capa por yiwah_zetta