eu não posso demorar

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Prazeres não são eternos, mas a eternidade é formada pelas suas sementes mal plantadas. Sinto-me pouco resolvido, os raios solares me parecem tortos agora, porque eu não consigo enxergá-lo de camisa de algodão com um rabisco minimalista em seu peito esquerdo. Pois então não desejo mais nada que não seja apenas ficar bem quieto e deixá-lo ser o primeiro campeão, o primeiro a falar. Se eu pudesse dizer, diria que gostaria de sair contigo para um passeio neste verão, bebendo um smoothie de manga e poderíamos falar sobre um festival de filmes o qual estou ansioso para ir.

É que me lembro da sua imagem franzina, curvada, opaca, com seu cigarro de marca e a fumaça esvoaçante fazendo-me abanar as mãos e afastar o rosto. E eu lembro bem de quando cortei o cabelo, porque pensei em fazer uma tatuagem com a citação de uma das canções da banda que apresentou-me: "no, don't mention love (oh, i think i'm in love)" — sim, Rush And A Push And The Land Is Yours de The Smiths, porque escutei algumas quando me apresentou a banda e eu nunca entendi o porquê de tantas canções com nomes tão grandes.

Recordo-me da desistência quase instantânea, que na verdade veio após eu ter decidido brincar com ambos versos da canção ao usá-los como contraste: "i say: don't mention love. but i mean: oh, i think i'm in love" ou "don't mention love" riscado e logo abaixo o "oh, i think i'm love" como uma mudança de planos. Pareceu-me interessante nos dez primeiros segundos, porém a amargura das circunstâncias tiraram a graça. Eu nunca me entenderia.

Porque não quero sentir que abandonei meu eu, ao explicar a quem beija-me o corpo, que na verdade a tatuagem que guardo tão guardada quanto os dias vergonhosamente solitários, se trata de eu dizer que não, amor não, mas do nada aparecer apaixonado. É como você dizer aos seus pais que terá cuidado ao sair com seus amigos, e que voltará cedo e bem. E de repente você é atropelado pelo seu melhor amigo, bêbado, no carro esportivo do tio dele. As coisas saem do controle.

— Que surpresa te ver aqui, já que da última vez você meio que saiu correndo — e seus braços se cruzam na barriga.

— É que eu não posso demorar — explico calmamente, sentindo o ardor do calor do meio-dia estrangulando minha pele. — Eu vim bem rápido saber de uma coisa...

— Tá, pode dizer — ele relaxa os ombros.

— Eu vi o convite que você fez. Na verdade, você mandou por e-mail... — vou dizendo. — Eu achei maravilhoso.

— Sério? Ah, que bom — ele sorri. E eu não vou mentir, eu fico bem boiola com isso. A existência do seu namoro não muda o fato de que eu ainda o acho fofo por ser meio tímido.

— Sim. Ah, você fez bem rápido. Digo, de acordo com o tema grego...

— Eu já estava com o modelo pronto, então só fiz colocar algumas coisas típicas gregas, mudar a fonte e algumas informações e... Pronto, terminei — ele dá de ombros. — Fiz na força do ódio, então que bom que gostou. Christopher amou.

— Sim. Eu vim falar justamente disso — tiro a franja dos olhos e prendo atrás da orelha.

— Oh, era só isso?

— É... — estreito os olhos, tentando entender o que ele quer dizer. Bem, não vou dar atenção, porque meu foco não é esse. — Eu gostei daquela fonte grega que você usou. E os desenhos. Você fez?

— Ah, os doodles? — ele questiona. — Só fiz os doodles, os desenhosinhos, mas a fonte eu consegui da internet. É nisso que está interessado?

— Uhum — concordo com a cabeça e apoio os cotovelos no balcão. — Você poderia me passar o nome da fonte? E talvez possa me passar os desenhos também, porque talvez eu venha precisar.

— Putz, eu não estou com o laptop agora, Han — ele coça a nuca, como quem estivesse a lamentar. — Está em casa. Eu não me lembro o nome da fonte também, porque eu tinha baixado várias e aquela ficou melhor.

thé et fleurs • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora