eu preciso conversar contigo

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Deito na cama e encaro o teto. O telefone em mãos, quero ligar para alguém. Não estive com Minho o dia inteiro. Nem mesmo no almoço não nos encontramos. Ele deve estar ardendo de saudades. Eu estou ardendo de saudades. Era para ser uma brincadeira, mas foi crescendo, absorvendo-me. E absorvido, vejo-me tentado a mandar-lhe um e-mail, se puder vê-lo. Ele vive em mim e, caso soubesse, começaria a questionar-se estar num ermo coração. Talvez seja. Pensei nele no final da tarde, aleatoriamente. Li apenas a lista de sobremesas e, ao encarar o Paris-brest, seu sorriso arregaçou minha mente. Eu, tão racional, de repente sorri do nada ao lembrá-lo em Paris. De tudo. De nós.

Mas não falei com ele, também não acho que devo falar. Amanhã falo, não precisamos estar com o outro a todo tempo. Não suporto. E estou deveras exausto, ainda mais porque amanhã é o casamento e ocupei-me cozinhando e rindo de Hyunjin durante esses dias. Os dois valeram a pena. Os resultados foram ótimos.

E... Alguém acaba de bater à porta. Se for Hyunjin, é bom atentar-me ao soco.

— Oi — Minho está com a franja preta cobrindo metade dos olhos. — Eu preciso conversar contigo.

Não veste calça nem bermuda. Apenas uma cueca azul-marinho. Sua camisa é de um supermercado que, em 2015, comemorou quinze anos de existência. Ele nem entra nem nada. Apenas olha-me, encostado à porta, esperando eu lhe dizer alguma coisa que confirme ou rejeite a sua proposta. Ele tem esse ar leve e fresco que faz-me sentir confortável e bem-vindo.

— Ahn... Pode dizer — coço minha nuca.

— Vem comigo ao meu quarto — é o que me diz.

Sigo seu corpo esbelto pelo corredor e, já perto do seu quarto, pouso a mão em seu quadril enquanto caminha. Acho que ele estranha isso, porque de repente me olha sem entender. Eu só estou tentando ser carinhoso, mas fica parecendo que sou uma sósia.

— Bem... É sobre o Chanie... — começa ele, abrindo a porta do quarto. Começo o abraçando por trás, quando noto alguém deitado na cama de Minho. Afasto-me. — Eu e Hyunjin estamos fazendo algumas conclusões.

Ah, não... Hyunjin está aqui.

— Olá, Han — ele sorri para mim, acenando com as mãos.

— Hyunjin... — aproximo-me da cama e até toco seu ombro como consolo em vista das brincadeiras que tenho feito para me vingar dele. Ele afasta-se de mim, como quem tem aversão a meu toque.

— Você não se desculpa porra nenhuma — ele diz. — Mas eu não vou dizer que não teve motivos. Só que, se você quiser brigar, a gente faz isso seis da manhã ali nas pedras do mar e vê quem mata o outro primeiro e deixa a onda levar o corpo.

— Vocês são intensos — Min fecha a porta, depois tranca. Isso chama a minha atenção. Significa que o negócio é sério mesmo? — Mas o foco não é esse.

As luzes estão desligadas, apenas o abajur está aceso. Olho a cama: o notebook está estampando um player com algum anime e há embalagens de doces espalhadas. Como o dia que ficamos no terraço. Olho para os dois: Minho só de cueca e camisa e Hyunjin que só está de calça. Não sinto-me enciumado com isso, porém chega a ser um pouco desconcertante, de fato, perceber que estão fazendo o tipo de coisa que fizemos juntos e acabamos aos beijos. Sabe, achei que era algo que ele estava disposto a fazer somente comigo, não com qualquer pessoa.

— Christopher veio falar comigo agora mais cedo — Minho senta-se ao lado de Hyunjin. — O Hyun estava cochilando, mas escutou também.

— Uhum — Hyunjin concorda com a cabeça. — Já estamos observando algo há bastante tempo, mas acho que você não, Han.

thé et fleurs • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora