eu também te amo

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Desvia o olhar por meros segundos e os lábios róseos são lambiscados. E então sorri, mas tenta conter-se. Desce o olhar para a própria perna dobrada na areia, depois para mim, e então inclina o corpo para trás. Quero saber no que estás pensando, mas talvez esteja uma bagunça. O que seu olhar quer dizer? Pela primeira vez, eu não faço a mínima ideia do que ele pode estar pensando de mim agora. Não sei se quero tanto saber. Parece-me reluzente. Ele brilha, e como morde o lábio para impedir a si mesmo de alargar os lábios num pueril sorriso diz-me que, talvez, ele esteja radiante com o que falei.

— Você acredita em tudo que digo — eu acabo gargalhando, antes de tomar um gole do vinho branco.

Teu semblante desmorona. Acabo por engasgar e, quando percebo sua expressão nova de raiva e o modo o qual minimamente ergue-se para levantar, puxo-o pelo pulso de volta. Merda. Pensei muito, mas muito alto.

— Calma, eu não quis dizer que estava mentindo... — meu sorriso também não me ajuda em nada, mas eu não consigo parar de rir. Ele acredita em tudo que falo. Ele se transforma com tudo que falo. Isso é engraçado, sei lá. É engraçado. — Eu estava falando de verdade.

— Tá, Jisung... Já entendi que você está bêbado — afasta o pulso da minha mão. — Pare de brincar com essas coisas.

— Eu não estou brincando — acabo tossindo, porque a espuma e a acidez da bebida que me engasguei ferrou com minha garganta. — Só comentei que você reage muito rápido com as coisas que digo, como se acreditasse fielmente nelas. Mas não quer dizer que... Sei lá, eu estive mentindo para você ou coisa do tipo.

— Han, estamos bêbados... — ele consegue levantar dessa vez, só que parece meio enjoado e seus passos na areia expõem quão tonto está.

Pois então Minho tenta caminhar para algum lugar, mas no meio do caminho apoia a mão na lateral da escadaria para a casa e acaba vomitando no cantinho da areia. Ugh, uma imagem que será difícil de esquecer! Essa e as outras trilhões de vezes que Minho vomitou bêbado perto de mim. Lembro-me de quando estávamos a nos beijar e ele quase vomitou em mim, naquele ano. Está na lista dos meus piores traumas da vida.

— Você ainda vai querer beber? Porque quero beber tudo — lhe pergunto.

— Bebe logo essa porcaria! — parece bravo, e enjoado, empurrando as costas contra a parede e apertando os olhos. — Que saco. Eu odeio você. Bebe logo tudo.

Eu acabo rindo no meio do gole, porque lembrei de um meme. Sério, qual o meu problema? "Você já me encheu a paciência! Eu odeio você, eu odeio você!" Isso com certeza está rondando minha cabeça agora. E olha só o drama de Minho porque lhe disse uma bobagem após dizer que o amo. Nossa, mas que ódio! Qual o problema dele em ficar duvidando das coisas? Eu nunca falo isso. Eu nunca falo essa merda. Vontade de jogar meu sapato no mar.

— Oh, Minho... — agora termino o último gole da taça dele. Deixo ambas sobre a areia e tombo um pouco ao levantar-me. Estou ardendo de calor e tenho a leve impressão de que estou falando alto demais. — É sério, cara! Eu estou falando sério!

— Eu vou voltar para a festa — pega próprio par de sapatos, gira os calcanhares e avança pela escada. — Fique rindo aí sozinho...

E o que ele faz? Isso! Justamente! Ele vai embora e me deixa aqui, com cara de idiota, olhando o mar sozinho. Sério, por um segundo eu fico muito puto com Minho. Eu sei que brinquei, mas também não estou sóbrio. Eu não estou brincando com a cara dele, mesmo que pareça que sim. E, sendo assim, levo alguns minutos pensando nisso até tomar coragem de pegar meu sapato, as taças, a comida que ele recusou e voltar à festa. Largo meu sapato em qualquer canto e, descalço e deixando rastros de areia por onde passo, aproximo-me de onde Jeongin e Yongbok estão — fingindo não comer quando, na verdade, deveriam estar servindo os convidados. Olho para o mais novo, cuja capacidade de esconder camarão dentro do bolso da calça é superior a qualquer mágico que já vi na vida. Foi ironia. Sei lá, não estou muito bem.

thé et fleurs • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora