eu realmente não sei

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Silêncio.

Assim que entrou no carro, pensei em me chamar de burro. Não só burro porque cometi erros no passado, mas também porque tenho medo de cometer outros no presente, porém não consigo evitar o fato de que preciso corrigir algumas coisas antes.

E eu também não sei o que aconteceu comigo desde a última vez que assisti nosso vídeo juntos. Sabe, há quanto tempo estou sem me masturbar por conta do Minho? Isso já tem bastante tempo. E então ele só olha para mim e, do nada, dias depois já estou batendo uma como se estivesse desesperado. Eu sou uma negação. Uma completa negação.

E então, silêncio. Senta-se atrás, como carona, e não diz uma palavra que não seja de agradecimento por eu estar ajudando. Confesso, até, estar olhando-o pelo retrovisor interno. Ele está olhando a rua, não quer saber de mim. Ele está desconfortável, incomodado, talvez não vê a hora de ir embora, de chegarmos. E eu não vou negar, sabe? Seu incômodo está me incomodando. E a única voz aqui é a que diz: vire à esquerda na rua tal tal.

Eu quero conversar, mas não sei o que falar. Seria mais fácil se eu não parecesse estar forçando as coisas. Eu não posso falar sobre o clima bipolar que está engolindo a cidade nesses últimos dias, também não faz sentido dizer que as roupas sem graça e desbotadas das pessoas estão na moda, tampouco comentar sobre o programa das dez da noite que está dando o que falar. Eu e Minho nunca fomos de conversa fiada, éramos mais intensos que isso. Mas seria aleatório falar com ele. Então não sei como começar.

— Você sabe aonde estamos indo? — é ele quem pergunta e, meu Deus, eu só percebo que estava segurando o ar até ele falar alguma coisa comigo.

— Mais ou menos — respondo, captando seu olhar pelo retrovisor interno. — Eu joguei o endereço no Google e estou deixando a vida me levar.

— É que... Esse lugar não parece Gangnam. Eu já estive lá algumas vezes e sei muito bem que não é por aqui...

— Como não? — olho para o mapa na tela do meu celular, que está num tripé preso ao painel. — Estou seguindo tudo o que estão me dizendo.

— Gangnam é mais chique que isso — ele observa. Então olho ao redor, notando cada centímetro de onde estamos. Não, isso não é Gangnam.

— M-mas... — tento ver se tem alguma placa ou algo do tipo, mas não consigo ver com facilidade. — Que merda. Onde estamos?

Paro o carro, tiro o cinto e ponho a cabeça para fora, justamente para tentar enxergar alguma placa.

— A gente está em Gangdong — ele me diz. — Não é tão longe, mas... Não é Gangnam, né?

— Que merda, essa porcaria deve ter entendido o endereço errado — suspiro com raiva, suspendendo todo o show do Google para algo sem sentido. — E agora? Eu não sei como chegar lá.

— Tá, eu te ajudo.

— Você sabe?

— De certa forma, sim. Já passei por vários lugares daqui. Então é só seguir minhas ordens.

— Tudo bem — concordo com a cabeça.

Não achei que iria ser assim, nosso reencontro. Não estamos escutando r&b, tampouco The Smiths — aliás, nunca nos encontrei nesta tal banda, mas fico feliz que ele goste. Não estou vestindo meu sobretudo, assim como ele também não está vestindo a jaqueta jeans desbotada. Ele não me chama de abestalhado, eu não o chamo de docinho. Não estamos mais assim. E é louco o modo como tudo mudou.

Vai me dando as instruções, como virar ou seguir em frente. A princípio, estou acostumado com seu jeito apressado de explicar que eu preciso entrar em tal rua, porque provavelmente iremos encontrar outra curva. Só que de repente acabamos numa rua sem saída, daí eu pergunto onde está a experiência dele.

— Bem... Eu acho que passei por aqui, da última vez... — olha ao redor, remexendo-se no banco, tentando a todo custo reconhecer onde estamos.

— E o que fazemos? — encolho os ombros, apertando as mãos no volante.

— Eu realmente não sei — ele decide parar de mexer-se e senta-se largado no banco. Então percebe que talvez fosse errado e decide voltar a postura de antes, como um desconhecido no meu carro. Irônico.

Respiro fundo e pego meu celular outra vez, pronto para dar um Google e confiar nele para sairmos daqui. Eu não gosto de ir em lugares desconhecidos e talvez eu tenha me arrependido só um pouco de não ter chamado um táxi para ir. Ou talvez Seungmin pudesse ser mais específico, tipo explicar com palavras por onde tenho que ir para chegar no lugar. Eu só vou para Gangnam de táxi, então não sei muita coisa.

— O que está fazendo? — Minho pergunta, deslizando rapidamente o corpo pelo banco e aproximando-se de mim. — Vai recorrer ao GPS de novo?

— Não temos muitas opções. Não conhecemos a cidade inteira — seleciono a rota para chegarmos lá.

— Nah — ele faz uma careta, vejo pelo retrovisor interno sua expressão fofa. — Não mesmo, vamos parar afogados no Han!

— Você é ridiculamente exagerado — olho para o seu rosto por cima do meu ombro direito e percebo que talvez ele esteja um pouco próximo demais do banco do motorista.

— Ah, que ótimo. Estou vendo daqui que você escreveu Gangnam errado, então está óbvio que não iremos chegar lá nunca — aponta para o meu telefone, então sou obrigado a checar.

— Ih, merda — apago tudo para corrigir, então Minho resmunga alguma coisa e volta a recostar-se no banco. — Agora está certo.

Ele cruza os braços, mas não responde nada. Fica olhando a rua enquanto as instruções são ditas para que deixemos este lugar amável, cheio de becos esquisitos. Tiro o carro do ponto morto e me recheio com a esperança de que chegaremos logo e rápido, porque não quero mais olhar a cara de tédio e desprezo vinda de Minho.

Sua indiferença ainda está me surpreendendo.

thé et fleurs • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora