eu posso continuar o que fazíamos ontem?

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« este capítulo contém cenas explícitas de teor sexual. caso não tenha +18 ou seja desconfortável para você ler esse tipo de conteúdo, não será prejudicado no enredo se pular para o próximo capítulo »

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Os sentimentos tépidos em mim não dizem mais que é bobeira. Decerto aprendi deveras com as dores, porém é de imanência natureza que ela nunca é demais. Sinto-me inteiro e tenho a mais. Tenho a sensação de que há alguém aqui, e que não me sinto mais só, como havia aprendido a ser. Temo foder tudo, como feito há pouco. Temo não fazer nada, e torná-lo apenas numa reminiscência de domingo chuvoso ou ensolarado ou qualquer outro dia que esteja num barzinho ou em casa ou em qualquer lugar e tocar aquela dos smiths ou do daniel caesar — porque toda vez que vem o "sim, sou uma bagunça, mas sou abençoado por estar preso a você", lembro do sorriso dele e me pego sorrindo de tristeza — ou quando escutar um mísero "fall apart" que seja, eu desatar em soluços por não tê-lo mais a mim (ainda que esteja em mim). Prefiro ser passageiro nas vidas alheias, não ficar muito, porque tudo me sufoca e fixação é obsessão. Sou obcecado por outras coisas, outras faculdades. Desta vez, porém, desagrego-me para que o azul do mar pegue tudo mais tarde faça o que bem entender. Quero ir mais longe, mas tenho medo de cair. Agora entendi o lance de Ícaro. Entendi.

— Meu protetor acabou —  comenta ele, quando não consigo olhá-lo. Estou enrolado ao roupão e respondendo algumas mensagens que recebi e não vi. — Eu vou virar um camarão frito.

— Você trouxe o restinho, foi? — lhe respondo, sem tirar os olhos da tela.

Sinto quando senta-se na cama e move-se um pouco para perto de mim. Tento achar algo em relação a Christopher ou Seungmin, mas o resultado é nada. Nada novo. Não é sobre eu sentir-me um palhaço em relação a toda a situação, mas sim um amigo preocupado que está tentando ao máximo ajudar e continua sendo ignorado. Eles nem estão recebendo as mensagens, devem ter desligado os dados móveis. E eu detesto tanto isso, porque é exatamente o tipo de coisa que eu faria. É o tipo de coisa que sempre fiz: sumir, desligar tudo e dane-se quem se importa comigo, porque preciso provar a mim que também posso fazê-lo comigo e, sendo assim, recolher-me para meu eu. Só que é difícil ser expectador numa peça que sempre protagonizei. É pesado e angustiante.

— Estava na metade, mas usei demais e ainda dividi com Hyunjin — Minho continua com sua conversa sobre protetores solares e camarões fritos. Eu não estou prestando tanta atenção. Não me sinto mal por isso.

— Hm — é o som que faço, olhando a mensagem do produtor do programa que pergunta-me quando estarei de volta e se podemos marcar uma reunião super importante.

Não respondo por agora, uma vez que mal consigo pensar na resposta com Minho aqui bagunçando meu cabelo molhado, chacoalhando meus ombros, dizendo que tem uma música aí de Christian Leave que ele esteve escutando pensando em mim. E irrompe minhas preocupações com teu ar viril veronil de quem não se importa mais com nada, apenas em sorrir feliz desse jeitinho jeitoso esplêndido e espalhafatoso pra cima de mim. Borda em cantos sombrosos a mais pura e rica alegria, essa gargalhada pueril e aguada e ávida rondando as torrentes interestelares do universo. Pega meu celular, digita a canção e põe pra tocar. Diz que detesta rádio e televisão, mas gosta de vinil e cassete. E a letra da canção diz: você sabe que eu estou apaixonado por você? Eu estou. Você vê como eu estou apaixonado por você? Cada coisa que você faz, faz meu coração parar. Sim, ele para.

E, de repente, já está mostrando-me mais canções. Lentas ou rápidas, perpetuam quando abraça-me por trás e elogia o cheiro do meu xampu, da minha pele. E então beija-me a nuca devagar e fraco, seus lábios ligeiramente encostando em mim. Sinto-me ingênuo, um deus, um poeta livre que só almeja felicidade. E os lábios úmidos resvalam levemente a pele, rumo ao ombro, lento e doce. Gosto da sua espontaneidade em encher-me de carinho. Gosto quando tenta. Ele sempre tenta. Padeço neste teu abraço tímido e solene. É que a gentileza do toque e a leveza dos sentimentos são morninhos, flutuantes, como um banho de espuma após um dia na lama. Eu quero sumir com ele. Às vezes quero sumir dele. Queria que fosse fácil minha ebulição.

thé et fleurs • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora