eu estou de ressaca

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Eu não me lembro de ter chegado em casa, de ter feito alguma coisa, de ter deitado na minha cama, de ter trocado de roupa. Mas meu despertador rasga meus tímpanos e eu percebi que talvez eu não tenha dormido nem míseras duas horas. Seungmin está apagado no sofá da sala de estar e, enquanto tropeço nos meus próprios pés ao caminhar, não encontro Christopher nem Mark. O alívio de não terem dormido na minha casa inunda meu corpo, porque significa que estávamos cientes de alguma coisa. E Seungmin está aqui, porque... Bem, é Seungmin, né? Já estou acostumado em encontrá-lo em lugares inusitados.

E obrigado ao Han de ontem que bebeu pra cacete, porque eu acho que estou tão tonto que não paro de piscar os olhos para saber se ainda estou vivo ou minha alma decidiu vazar do meu corpo. Seria muito mais fácil se eu não tivesse compromissos hoje, pois eu poderia jogar meu corpo sobre Seungmin e procrastinar com ele. Mas não.

Eu me sinto ridiculamente pesado com tudo isso. Meu corpo está uma desgraça. E quando falo desgraça, quero dizer que os exercícios foram para o quinto dos infernos e eu estou de pé por puro ódio. Amor nunca me faria levantar da cama com tanta vontade quanto eu fiz.

Meu cabelo está suado, mas eu não tenho forças alguma para lavar. Hoje eu vou sair vestido de lixo. Conheço inúmeros memes que poderiam facilmente me definir agora, mas até para pôr um boné na cabeça estou com preguiça e indisposição. Acho que ainda estou bêbado. Sério. Não é possível que estou com tanta vontade de xingar e chutar as coisas. Isso é normal? Parece que esqueci como é beber até esquecer exatamente tudo.

Porque eu esqueci exatamente tudo. E meu medo é de ter feito muita merda. Tipo, olha só a zona que está minha cozinha! Está uma bagunça! Como assim? Que porra é essa...

— Oh, Seungmin... — cutuco ele no rosto. — Porra, quem foi que fodeu minha cozinha?

— Sai, menino... — ele abre os olhos por alguns segundos, mas logo vira o rosto e ajeita-se melhor no sofá. — Foi você.

— Ahn???

— Você — repete, resmungando. Ah pronto. Minha cozinha está uma zona e o culpado sou eu? — Disse que ia fazer o negócio do chocolate e depois melou tudo. Tchau, deixa eu morrer aqui.

Seungmin cobre o rosto com um edredom que claramente pertence a um dos quartos superiores — o que me faz questionar por que raios ele não dormiu lá, ao invés de ficar no sofá — e eu sou obrigado a voltar para a cozinha. Sim, tem rastos de chocolate para todos os cantos e alguns pedaços de cereja no balcão. Agora estou me perguntando que porra eu fiz quando cheguei em casa.

Assim que abro a geladeira, penso que vou surtar e desmaiar, mas na verdade ela está organizada como sempre. Tem uma caixa com uma anotação na tampa: cereja, cappuccino, noz moscada e coco. Quando abro, dou de cara com quatro espécies de trufas de chocolate dentro. Ah, claro. Claro, claro, claro... Era de se esperar. Era realmente de se esperar. Que ódio disso.

Tiro a caixa da geladeira, respiro bem fundo ao caminhar para a sala de estar. Seungmin já está acordando e eu me surpreenderia se não acontecesse após a minha cutucada de outrora.

— Seungmin... Eu aparentemente fiz isso para o Minho — apareço à sua frente, mostrando o que contém na caixa. Ele senta-se no sofá e dá uma olhada, apertando os olhos por conta da claridade que nos incomoda.

— Pro Minho? — questiona, como quem não acredita.

Jogo meu peso para a perna esquerda e respiro fundo ao passar a mão na têmpora. Esse histórico meu está me fodendo. É eu bêbado confessando que estava me apaixonando por ele quando estava na China. Eu bêbado ligando para ele no ano passado para perguntar como é que tava indo, se sentia o mesmo que eu. Eu bêbado mandando áudio e mensagem para ele da China. Eu bêbado falando cada coisa, fazendo cada coisa... Nossa, que ódio.

— Tá, qual a probabilidade de eu ainda gostar dele? — pergunto honestamente. Vamos lidar com fatos, né? Não vou ficar enrolando, estou simplesmente de saco cheio.

— Do Minho?

— Não, da minha mãe — faço um gesto como se estivesse prestes a acariciar sua cabeça com o punho fechado e com força. — Obviamente, né?

— Você estava achando que não? — Seungmin levanta-se do sofá e tomba um pouco para o lado. É, nós realmente estamos destruídos hoje. — Filho, eu já tinha certeza disso há tempos. Tu tá fodido já, migo.

— Você está tirando uma com a minha cara, Seungmin? — cruzo os braços, observando a luta dele para chegar ao banheiro.

— Han, eu estou de ressaca, não tenho humor nem paciência para ficar brincando com a sua cara agora — me responde. E é por isso que eu o sigo até o banheiro. Me encosto na porta e olho para dentro da caixa de chocolate outra vez. — Eu vou mijar. Você vai mesmo ficar assistindo? Ou vai me ajudar? Eu mijo e você segura.

— Credo, Seungmin! Isso foi muito nojento. — finjo um vômito e afasto-me da porta, puxando-a comigo.

— Eu sabia que se eu falasse isso você ia fugir na mesma hora — me responde lá de dentro. — Valeu, hein?

— Inferno, Seungmin! — lamento do lado de fora, prestes a me jogar no chão de raiva. — Eu acredito que só seja vontade de pegar ele. Deve ser né? Da outra vez, começou assim.

— Se você quisesse só pegar o Minho, não teria preparado nada para ele comer — meu amigo vai dizendo, sua voz reverberando no banheiro, misturada com o insulto que são seus jatos de urina no vaso sanitário. — Teria chegado lá num desses cropped que você usa, levantado o braço de propósito, convidado ele para alguma coisa e no final você ia fazer de tudo para que ele te beijasse ou, caso esteja realmente desesperado, você mesmo iria agarrar ele. Jisung, você já não é novidade para mim.

Isso é um ataque? Sim, com certeza. E ele deveria saber que eu não tenho padrão de investidas quando me interesso por alguém, só que às vezes um método acaba sendo mais utilizado. Eu não gosto de ser resumido dessa maneira e aposto que esse idiota está fazendo para me irritar, só porque acordei ele.

— Eu não estou tentando ficar com ele, então não se preocupe em me ver de cropped, pois não vou estar flertando com ele nem nada do tipo. É só vontade mesmo. Deve ser.

E então Seungmin abre a porta de repente, enxugando uma das mãos com a toalha.

— Você está errado, mas não está preparado para essa conversa, meu jovem. Aproveite sua ilusão — ele dá um leve aperto na minha bochecha direita e passa por mim antes que eu possa pensar em algo para responder.

Ah, pronto. Era o que me faltava... Ressaca e a possibilidade de gostar de alguém. Não, não é isso. São os resquícios da vontade tentando me assombrar. É cada coisa que me acontece, viu...

thé et fleurs • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora