Aurora não ouviu ao pedido do homem, que queria que o deixasse em paz, e se aproximou com a água que trazia. Os olhos dele a fitavam com uma mistura de raiva e desconfiança, fazendo-a sentir um calafrio nas costas, pois o olhar de um animal ferido sempre é o olhar de quem pode te ferir.
Mas ela não recuou, e logo estava ao seu lado. Sem nada dizer, despejou devagar o líquido na ferida o que fez o paciente soltar um gemido de dor. Contudo, ele começou a sentir um alívio conforme a água escorria, e intrigado com aquilo, deixou a menina continuar o que estava fazendo.
Ao terminar, ela o olhou em silêncio, esperando algum tipo de comunicação, para saber se poderia prosseguir com os cuidados, ou não. Mas ele nada disse, e nenhum movimento fez.
Seus olhos vermelhos já não a ameaçavam, pareciam apenas intrigados com o que acontecia. Eles lembravam rubis, e pareciam perfurar seu pensamento.
Reunindo coragem, sentou-se ao seu lado, e começou com suas pequenas mãos a retirar os pedaços de tecido que haviam colado no machucado por conta do sangue seco.
Estranhamente, aquilo não provocava dor alguma, o que fez o ferido ficar ainda mais intrigado sobre a criança que o ajudava. '"Como pode um ser tão pequeno saber limpar uma ferida como essas?" Pensava ele ao vê-la tranquila mesmo frente à uma fratura exposta.
"Como ela pode ainda estar de pé se meu sangue é venenoso aos humanos? Até mesmo o ar da floresta deve ter sido afetado por mim..."
A menina, depois, pegou um punhado de folhas que havia colhido do chão e começou a colocá-lo em cima do ferimento, mas o homem, desconfiado do que seria aquilo, a empurrou para longe.
— O que é isso?
— São ervas para a ferida...
— Como você sabe disso?
— Minha mãe já cuidou de um monte de gente ferrada que nem você... soldados. Eu vi e aprendi.
— E como posso acreditar em você? Isso pode ser algo venenoso.
— Pra que eu ia colocar veneno em você? Eu nem te conheço! Se você fosse meu inimigo, daí que eu tentava te matar....mas nem te conheço!
O homem nada disse, espantado com a fala irritada da menina.
— Podia muito bem deixar tu apodrecer aqui, mas vim ajudar!
Aurora ficou nervosa, e com um pouco de raiva. "Como pode ele ser tão teimoso!" Pensava olhando-o. Estava nervosa pela situação, e nisso, o medo se transformou em raiva. Suas pequenas mãos tremiam o tempo todo, mas ele fingiu não perceber.
— Aqui ó! Cheira as ervas pra tu ver o cheiro de remédio que elas tem! — Disse colocando a mão com as folhas à frente do nariz do homem.
Realmente, o cheiro era como o de um remédio comum, e com o olfato aguçado que ele possuía, logo descartou a chance de ser envenenado.
— VIU?! Agora posso continuar?
— Pode...
Apesar de os dois estarem desconfortáveis com a situação, ela continuou a tratar o paciente com a mesma eficiência de antes, e ele ficou sem entender o gesto daquela pequena criatura.
A cada momento, ela o intrigava mais e mais, e assim, começou a olhá-la atentamente.
— Porque usa essa máscara? — Foi a primeira coisa que veio à mente dele.
Ele podia ter ficado em silêncio até que tudo terminasse e eles nunca mais se viriam, mas a curiosidade o traiu, e assim, antes mesmo que percebesse, seus lábios já haviam dito aquelas palavras.
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A Princesa e o Dragão
Ficción históricaEm outro mundo, num passado longínquo, os humanos construíram uma sociedade distante da natureza, cercada por grandes e magníficas construções, que enchiam os olhos e o orgulho de quem as visse. Mas, o esplendor escondia o preço que foi pago para al...