Estava lá. Imóvel. Exceto por seu peito que subia e descia vagarosamente. Deitado na relva, coberto de sangue, e inconsciente. Devia estar ali a algum tempo, pois uma poça de quantidade considerável de sangue tinha se formado ao redor de seu corpo fazendo-o parecer quase morto.
Da distância que Aurora estava, parecia ser um homem alto, usando um longo roupão negro de tecido. Tinha o corpo com dois braços e duas pernas, parecendo muito uma figura humana, só que com um tom de pele diferente das pessoas que ela conhecia. Em seus dedos, longas unhas negras que lembravam garras.
A menina, que nunca havia visto tanto sangue, ficou em choque por um tempo, olhando aquele ser ali caído. Só quando ela ouviu um gemido sair dele, foi que percebeu que ele ainda estava vivo.
Sua respiração lenta foi interrompida com uma tosse. Ele se engasgava em seu próprio sangue.
A menina saiu correndo assim que despertou de seu transe.
Correu tão rápido que suas pernas se trançavam umas nas outras como se quisessem sair de seu corpo e dar no pé dali deixando-a para trás. Felizmente, a floresta abriu o caminho e todas as árvores saíram de seu campo de visão, e foram encolhendo suas raízes para ela passar o mais rápido possível.
Atrás dela, a vegetação se fechava como um escudo vivo formando uma proteção para o caso dela ser seguida pela criatura.
Seu corpo tremia de medo ao lembrar a cena que tinha visto.
Só quando ela alcançou a abertura no muro do castelo, que seu coração começou a se acalmar. Mas a imagem que tinha visto, ela não conseguia esquecer.
Aurora seguiu andando pelos jardins do castelo, sem rumo, apenas movendo-se para distrair os pensamentos. Seus pés descalços, estavam pretos e cheios de sangue, porque ela havia sem querer pisado na poça que se formava em volta daquela criatura.
Perdida na chocante imagem que tinha visto, acabou indo para um lugar em que nenhum ser vivo ia por vontade própria.
Só ao perceber as flores roxas plantadas no chão que se deu conta que estava no palácio da segunda Concubina Real: Eudíase.
As flores roxas eram aconitum, um tipo de planta que apesar de muito bela, possuí veneno que pode levar a morte. Estavam ali plantadas porque eram de serventia à Concubina Real em seus divertimentos diários.
O susto ao ver as flores a fez dar um salto e cair no chão, dentro de um arbusto cortado em forma de cisne. Ainda bem que isso aconteceu, pois minutos depois, Eudíase apareceu andando pelo jardim.
Era acompanhada de 6 empregadas, duas segurando um guarda sol, e outras a seguindo solenemente. Aquela mulher ostentava mais luxo e riqueza em seu modo de viver que a própria rainha.
Ela era a mulher mais falada em todo reino, conhecida tanto por sua beleza, que nela coexistia em igual proporção à sua maldade.
Entre as folhas do arbusto, Aurora pode ver seu semblante e ficou encantada, quase se esquecendo de sua maldade. Seus olhos com expressão triste, eram de um azul tão claro que pareciam de vidro, e seu cabelo era de um tom castanho escuro. Os lábio bem definidos, assim como o corpo, traçavam a elegante figura.
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A Princesa e o Dragão
Historical FictionEm outro mundo, num passado longínquo, os humanos construíram uma sociedade distante da natureza, cercada por grandes e magníficas construções, que enchiam os olhos e o orgulho de quem as visse. Mas, o esplendor escondia o preço que foi pago para al...