Capítulo 20: Fuga e separação

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Uma corrida contra a morte. 

Era isso que Lise sentia que fazia enquanto passava desesperada pelos corredores do castelo para chegar ao seu quarto. Seus passos eram rápidos, e ignoravam o fato dela estar de salto alto. Apesar de estar feliz por conseguir ir ver sua filha, sentia que algo estava errado, e olhando ao seu redor, sua suposição foi se confirmando verdadeira.

Quanto mais próxima ela chegava do lugar onde os empregados ficavam, mas pessoas conhecidas a olhavam de forma estranha. 

Não era para menos, pois a moça tinha se transformado em uma beldade de cabelos ruivos nunca antes vista. O que havia acontecido com ela? Um bom banho e roupas caras haviam trazido à tona a verdadeira beleza que estava apagada pela pobreza. 

Tinha os cabelos vermelhos de fogo, longos até a cintura, que formavam cachos revoltados. Os olhos eram verdes como capim, e pareciam mais claros, pois sua pele era um pouco bronzeada por conta do trabalho no sol. Tinha seios fartos que sempre estavam sufocados nos uniformes de limpeza, e uma pequena cintura. 

Sua expressão quase sempre era preocupada ou triste, mas isso não a deixava menos bela.

Ela era provavelmente a mulher mais bonita daquele feudo, e Fernando estava feliz de colocar seu dinheiro nela em forma de joias e roupas, pois assim, ela seria sua. Os olhos daquele homem tinham esse talento de achar as mais belas mulheres, as quais ele colecionava como objetos. Cada um tinha seu uso...

Bom, mas voltando para Lise, ela corria em direção ao seu quarto, onde, como prometido, Aurora estaria esperando-a para que as duas saíssem dali. No caminho, viu alguns guardas revistando cada cômodo, e o dela, não era exceção. 

Ao chegar na soleira da porta, dois homens tinham revirado todo o quarto, e as duas camas estavam viradas de cabeça para baixo. Aurora não estava lá, o que a princípio deu um alívio em Lise. 

Mas depois, formou uma mancha escura em sua mente, que foi aumentando como uma trovoada. 

— Licença minha Senhora. — Falou o guarda ao passar por ela, fazendo uma reverência como se ela fosse uma nobre. Mas ela não percebeu nada disso. 

Estava em outro lugar, muito distante dali.

As vozes a sua volta ecoava longe. 

Seu quarto estava revirado, mas de uma forma inusitada, aquela janela ainda emitia um reflexo no chão que formava uma pequena aurora boreal. Mas ela não mais parecia acolhedora como antes. Era fria, e distante. Tudo era igual, porém diferente do que já foi. 

Alguém tocou-a no ombro chamando-a de volta para a realidade. Era Diva. 

— O que faz aqui? Não vai com Fernando?

Ela usava roupas parecidas com as dela, com diversos entalhes. E cheirava a flores, um perfume diferente daquele cheiro comum do gueto que a mulher sempre tinha. Olhando-a daquele jeito, ela parecia bonita.

— E você, porque está assim? 

— Eu vou junto! — Respondeu a colega segurando firme as duas mãos de Lise. 

— O que?! Vai junto? Como assim?

— Ora, não é que eu queria me gabar, mas eu também tenho lá meus talentos e belezas. 

— Não, não é isso que eu quero dizer. Eu só, eu só...

— Pensou que era só você e ele? — Falou Diva soltando as mãos da colega. Seu olhar naquela hora era novo, uma forma de expressão não vista antes. 

— Sim.

— Olha, o Fernando não é homem de uma mulher só. E você não precisa se preocupar, porque eu estou indo pra ter uma casa melhor mesmo, eu nem gosto dele. Claro que o homem não é de se jogar fora, mas não é como se eu tivesse me apaixonado. 

A Princesa e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora