Capítulo 16: o novo risco

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O sol levantou cedo no dia seguinte, como se quisesse acordar Aurora e Lise a tempo para avisar o que estava para acontecer... mas seus raios não conseguiram tirar as duas da cama, pois o cansaço tinha invadido cada pedacinho delas. 

A menina, não sabia porque, mas seu corpo inteiro doía, parecendo até que ela havia tomado uma surra. Até tentou mexer os braços e se levantar quando acordou, mas seus membros pulsavam e se mantinham inertes. Ao seu lado, em um profundo descanso, estava Lise, que nem sequer se movia, e com sua letargia, acabou contaminando Aurora. As duas dormiram pela primeira vez a manhã inteira, como nunca havia acontecido antes.

Os pássaros cantavam melodias tranquilas, e os pequenos insetos as observavam da janela admirando o rosto de ambas. Nem mesmo o som dos passos apressados do lado de fora puderem interromper o sono das duas, que apesar de jovens no corpo, já tinham muito cansaço na alma. 

Felizmente, pareciam calmas, e tinham bons sonhos... talvez estes eram ilusões que suas mentes tinham criado para que elas pudessem, ao menos, imaginar um lugar diferente daqueles que viviam. 

Não posso contar as inúmeras vezes que ouvi Lise, pedindo antes de dormir, que sua vida pudesse ter mais paz, e bonança. Espero que as graças que estou enviando a ela, logo cheguem. 

Contudo, não posso fazer milagres, pois mesmo sendo aquele que governa este mundo, não sou o único que tem poder sobre o mesmo. Não sei como as condições do mundo reagirão à minha mão interferindo nos seus caminhos.

Mas bom, voltando às nossas estimadas.

No início da tarde, alguém bateu pesadamente na porta, tentando arrombá-la, o que acabou acordando as duas em um susto. A menina se desequilibrou e caiu no chão, deixando os joelhos ralados. E Lise prontamente se pôs de pé, empurrando a filha para debaixo da cama para escondê-la. 

As batidas continuaram... BAM, BAM, BAM... a cada uma delas os parafusos da dobradiça pareciam querer saltar.

Não tardou para que a porta fosse aberta e caísse no chão assustando todos que passavam ali perto. 

Duas fileiras de guardas reais que haviam derrubado a porta, abriram caminho para um pequeno homem de nariz arrebitado e cabelo de tigela, que entrou no cômodo com um papel em mãos, e começou a falar.

— Venho em ordem do Rei! — Gritou o homem. 

A mulher paralisou no lugar em que estava... aquela cena toda havia acontecido anos antes, quando ordenaram Aurora usar aquela horrível máscara. O mesmo homem vinha agora dar a notícia de uma nova ordem daquela rainha que sempre pareceu querer se livrar da criança. 

"Se antes foi pedido para usar a máscara, o que vai ser agora?" 

Ela tremia só de pensar nas possibilidade, e seu coração ardia em seu peito esperando pelas próximas palavras que levaram à sentença final. 

— A criança com máscara onde está?

— Que criança?— Respondeu ela se fazendo de desentendida.

Mas o mensageiro não estava com paciência, e prontamente com um sinal, fez com que um dos soldados desse um empurrão em Lise, fazendo-a cair no chão. Aurora, vendo a mãe passar por aquilo, quase saiu de seu esconderijo, mas não o fez pois sentiu-a bloqueando a passagem com o próprio corpo. 

Mas mesmo no chão, ela permaneceu em silêncio. Sua expressão era de raiva, tanta que sua vontade era voar na cara daquele homem e arrancar seus olhos com as próprias mãos.

Porém se manteve em silêncio, porque o que mais importava que a sua raiva era Aurora, e por isso, respirou profundamente tentando se acalmar. 

Diante do silêncio, o mesmo soldado segurou Lise pelos cabelos e a ergueu do chão. Ela tentou se soltar batendo no soldado, mas era inútil, por isso, começou a fitar o homem com cabeça de tigela intensamente. Seus olhos o penetravam sem medo ou receio, fazendo-o querer encará-la de volta em uma silenciosa disputa.

A Princesa e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora