Capítulo 11: momento feito de nós

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Os rostos de suas amigas fazendo cara de surpresa, o caminho que ela sempre fazia para chegar em seu quarto, com incontáveis corredores de pedra: era isso que Lise via passar enquanto era carregada nos braços de Estéffano. 

Ela imaginou momentos como aquele por muito tempo, pensando em tudo o que diria, e em tudo o que faria. Mas quando o dia esperado chegou, ela nada pode fazer, e pouco disse. Estava paralisada por conta da felicidade que sentia. E tudo era diferente do imaginado, a começar pela sensação de ser carregada, que era desconfortável. 

O homem que a carregava, seu amigo de tantos anos, usava uma armadura de ferro, que fazia ela bater os braços e o tronco contra a superfície dura e fria dela. Mas eram os olhares eram os que mais a incomodava, pois por onde passavam, havia alguém a olhá-los com um sorriso malicioso no rosto. 

Porém toda a sensação ruim, era nada se comparada com a felicidade que sentia, pois finalmente tinha ouvido as palavras tão desejadas saindo pela boca dele. Os anos de espera, desde o momento em que o viu aos 10 anos, até aquele dia, foram suportáveis apenas porque tinham um ao outro.

No entanto, muitas vezes, somente a presença não era suficiente.  

Ao chegarem à porta do quarto, os dois entraram o mais rápido possível, como se quisessem se esconder de um mal que os rondava. As vozes de pessoas que o seguiram, permaneceram do lado de fora por um tempo antes de se silenciarem por completo. Mas dentro do cômodo em que estavam, nada disso importava. 

Ficaram frente à frente, olhando um nos olhos do outro, esperando que alguém falasse primeiro. Havia muito a ser dito, mas ninguém sabia por onde começar. Os sentimentos por anos guardados, não eram novidade para nenhum deles, contudo, era a primeira vez que falavam aquilo em voz alta.

Uma gota de suor percorria o pescoço de Estéffano, escorrendo para de baixo do pomo de adão, e indo para dentro de sua roupa. Lise imaginou por onde mais aquela gota passaria, e o pensamento a fez corar ainda mais. 

Mas antes que ela pudesse tirar aquele pensamento da mente, ele se aproximou dela, e segurou as suas duas mãos.

— Lise... você não tem noção de quanto tempo eu fiquei esperando pelo dia em que pudesse estar assim perto de você.

— Mas você sempre esteve perto de mim. Você abandonou seu nome, perdeu o direito de sucessão de seu pai, e veio comigo para esse fim de mundo... mesmo eu não querendo isso para ti.

— Eu sei, eu sei... mas eu nunca iria me perdoar se algo acontecesse contigo. E a ideia de não saber o que te acontece, é pior que a morte.

Ela ficou em silêncio observando o rosto dele, procurando as semelhanças e as diferenças que tinha de sua fisionomia de quando era criança. Como haviam crescido juntos, as memórias eram tantas, que só de se encontrarem, o coração doía de felicidade pelo presente, e de saudade dos dias passados em uma infância mais tranquila. 

Ela colocou a mão na sobrancelha de Estéffano, em cima de uma pequena cicatriz.

— Lembra quando isso aconteceu? Você tentou pegar a goiaba mais alta do pé, e caiu lá de cima.

— Eu lembro...

— E depois veio para eu cuidar de você, fingindo que nem sentia dor.

— Você disse que a fruta mais do alto era mais doce, por isso queria pegar ela para você.

— Sim, mas eu disse aquilo de brincadeira...

— Eu só fui perceber isso depois, hahahaha... mas mesmo assim, valeu a pena, porque eu pude ver seu rosto preocupado comigo.

A Princesa e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora