Ele era diferente de tudo o que podia se esperar.
Aurora congelou sem poder respirar. Sentia que se o fizesse, aquele segundo terminaria, e ela teria que fugir dele. O vulto se agachou à sua frente, e lançou à espada para longe, o que espalhou sangue por todo chão. Ficou em silêncio olhando o rosto da menina da mesma forma que ela fazia com ele.
Os dois permaneceram em silêncio, tentando ignorar o perigo que os perseguia.
— O que aconteceu com você? — Perguntou ela finalmente. Reunia toda a coragem que tinha, e segurava com força a barra de sua roupas. Sua alma tremia por dentro.
— É muito ruim? — Respondeu a criatura com outra pergunta, parecendo triste.
— Eu não sei... é mais como se você não tivesse um rosto.
O amigo ficou olhando para o chão procurando fingir que estava bem.
— Me desculpe se te assustei... é por isso que eu não tiro a máscara. — Disse ele se levantando e olhando para o lado. Talvez já soubesse que ela se assustaria.
— Então você tinha a chave esse tempo todo? A chave da máscara? — Perguntou Aurora ainda tremendo.
— Sim... — Estranhamente, seu corpo foi encolhendo, parecendo que a tristeza o apagava. Até que ele ficou do tamanho de uma pessoa normal.
— Eu sou assim, e não sei porque. Não me lembro como fiquei assim...
Os dois ficaram em silêncio sem olhar um para o outro. A menina começava a se perguntar se ele era a estranha presença que estava um tempo atrás perseguindo-a, mas ficou com medo de perguntar.
Ele dava medo. A menina tentava ignorar seu rosto, mas não conseguia fazê-lo de forma sincera.
— Mas eu ainda posso te ajudar a sair daqui. — Falou firme olhando a menina.
Ela tremia sem saber o que pensar daquela criatura, porque nunca tinha visto algo como aquilo. Enquanto isso, os gritos e passos no castelo se aproximavam deles.
Mesmo com medo, queria viver, e se para isso fosse preciso andar de mão dadas com elx, ela faria. Queria sair dali, ver sua mãe e dizer que estava bem. Queria fugir.
Então, depois de respirar profundamente algumas vezes, olhou o vulto e disse.
— Vamos sair daqui!
O amigo pareceu sorrir, mas ela não sabia ao certo se sorria ou não, porque ele não tinha face. Logo depois, colocou seu capuz tentando se cobrir da melhor forma que podia, mas não conseguiu esconder o que era.
Os dois correram o mais rápido que puderam, lado a lado sem olhar para trás. Alguns empregados do lugar indicavam o caminho, e pareciam não ter medo da criatura. Talvez já estivessem acostumados com aquela aparência.
Aurora tentou olhar o vulto de novo, mas logo desviou a visão por medo de ser notada.
O amigo era diferente de todas as criaturas mágicas que ela já tinha visto. Não tinha pele ou carne alguma, mas sim uma forma magra e branca. Suas órbitas eram vazias, não haviam olhos para ver, mas ele consegui enxergar.
Os dentes estavam sempre à mostra em sua mandíbula, porque ele também não tinha lábios. No lugar do nariz, um orifício em formato triangular. Ele era um esqueleto que andava. Parecia ser humano, mas se fosse, teria que ter morrido a muito tempo atrás.
Na verdade ele tinha morrido a centenas de anos atrás, e por isso, tudo o que o tornava humano, tinha se decomposto. Seu rosto, seus braços, suas pernas, tudo, tinha se desfeito.
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A Princesa e o Dragão
Historical FictionEm outro mundo, num passado longínquo, os humanos construíram uma sociedade distante da natureza, cercada por grandes e magníficas construções, que enchiam os olhos e o orgulho de quem as visse. Mas, o esplendor escondia o preço que foi pago para al...