Capítulo 5: o homem da floresta

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De noite, Aurora encontrou Lise na frente do quartinho onde dormiam, e ela abraçou a filha com força, segurando as lágrimas que queriam fugir os olhos. Não houve palavra alguma, mas a menina sentiu que algo estava errado, porque a preocupação da mãe era percebida em seu abraço apertado. 

— Mãe, o que aconteceu?

Ela colocou a filha para dentro, e se sentaram na pequena cama que dividiam. 

— Não é nada...é só preocupação mesmo.

A jovem não conseguia dizer o futuro de uma realidade que seria dura para uma criança tão pequena. A vida já não era fácil para Aurora, e dizer que o que estava por vir seria mais temeroso, era algo que amargava a boca de Lise.

Da manga de seu vestido, a jovem mãe pegou um pedaço de pão e deu para menina comer. Aquela era a única refeição da criança. 

— Mãe, você não vai comer?

— Eu já comi a minha parte, não vê que tem só metade aí. — Era mentira, mas uma mentira repetida tantas vezes acaba se tornando natural na boca de quem a conta.

E só ao ouvir isso a criança, que já estava com as mãos tremendo de fome, comeu. Naquele dia os seres da floresta não dividiram sua energia, e assim, ela sentia mais fome do que o normal.

Contudo, comeu bem devagarzinho pois sabia que comer rápido não mata a fome. 

Depois, se deitaram lado a lado, esperaram que alguém falasse algo como sempre faziam, contando como tinha sido o dia e o que tinham feito. 

Naquela noite, foi Aurora que puxou o assunto primeiro. 

— Hoje eu vi uma pessoa machucada...

— Aonde estava? — Perguntou Lise pensando que ela tinha visto algum soldado entrando na enfermaria do castelo. 

— Eu vi na floresta.

— Aurora! Eu disse para você não ir mais lá!

— Mas é que não tem nada para fazer no castelo...

— E o que tem para fazer na floresta? Você não sabe quão perigoso é fora do castelo?

— Eu sei...

Lise abraçou de novo Aurora, e ficou olhando a menina, que no escuro da noite, retirava sua máscara e a colocava debaixo do travesseiro. Ela não podia vê-la no escuro, mas sua pequena silhueta era o suficiente para fazê-la pensar no futuro, e novamente começar a se preocupar... ainda mais porque a pequena tinha aquele gênio e fazia o que queria sem obedecer.

As duas se cobriram para dormir. 

— Eu sei que é difícil para você se controlar...você mesma diz isso.

— Sim! Quando eu vou ver já fiz o que não era pra fazer! Eu acho que existe outra de mim dentro de mim.

— Não diga isso! ...você tem que tentar ver o que pode acontecer de ruim se você não se cuidar!

— Eu sei...

— Então me prometa que....não, espera... antes você tinha me prometido que ficaria longe da floresta e mesmo assim foi. Você ainda não sabe manter promessas.

Mesmo no escuro que escondia o rosto das duas, a menina sabia qual era a expressão de desapontamento que Lise tinha. 

As batidas do coração da mãe, que ela podia ouvir no abraço, ecoavam em ritmo rápido marcando a ansiedade e preocupação.

— Desculpa, eu vou tentar mais.

— Não, eu tive uma ideia. Já que você ainda é pequena para manter promessas, vamos fazer assim, toda vez que você for fazer algo, você vai pensar em mim.

A Princesa e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora