Seu corpo inteiro doía como se ela tivesse tomado uma surra... mas o pior de tudo era a visão turva que a impedia de ver o onde estava. Aurora forçou os olhos enquanto se colocava sentada, e logo percebeu que estava em uma cama.
— Como você está se sentido? — Perguntou alguém ao seu lado.
A voz, que parecia não ter um gênero definido, vinha de um vulto que estava sentado à sua frente. Como a visão ainda voltava aos poucos, ela não conseguia ver direito quem falava com ela. No entanto, não sentiu medo daquela pessoa.
— Quem é você? Onde estou? — Perguntou a menina ainda confusa.
— Estamos na Igreja.
Foi o que ele disse sem preocupar em responder sobre quem ele era. Tal fato alarmou a menina, pois pessoas que não querem se identificar, é porque querem esconder algo. Talvez esconder a si mesmas.
— Quem é você?! — Repetiu firme.
Aurora esticou o corpo assim que recuperou a visão, e com isso, pode ver onde estava, bem como a pessoa à sua frente.
Era um cômodo em madeira simples, onde os únicos móveis, além da cama, eram uma pequena mesa com pena e tinta para escrever, e uma cadeira. Tanto a mesa como a cadeira pareciam ter sido usadas por muito tempo, e tinham marcas que indicavam que alguém esteve ali escrevendo por noites e noites.
Aa cama tinha cheiro de pó, e parecia não ter sido usada por um bom tempo, pois ainda era rígida como se tivesse um colchão novo. No entanto, o resto do cômodo era impregnado pelo cheiro de tinta, indicando que quem vivia ali tinha costume de dormir pouco.
Nas paredes, haviam pequenos ganchos que eram usados para segurar mudas de roupa, porém todos estavam vazios.
Sentada perto dela, estava uma pessoa adulta usando um roupão que cobria o corpo inteiro, com um capuz. No rosto, algo que assim que ela colocou os olhos, se identificou. Era uma máscara de ferro, que ela já tinha visto nas pessoas que ficavam nas masmorras do castelo.
A máscara era fechada quando o prisioneiro chegava para cumprir sua pena, e somente o carcereiro tinha a chave para abri-la. Sua estrutura de metal tinha espaço para boca e olhos, contento um cadeado na parte de trás. No entanto, ela não conseguia ver os olhos ou boca daquela pessoa.
Aurora e a pessoa usavam máscaras, assim estavam presas ao fato de não poderem revelar quem eram. Era uma semelhança nunca antes sentida por ela, mas que guardava uma diferença em si, já que escondiam o rosto por motivos diferentes.
— Você é um prisioneiro? — Foi a primeira coisa que ela perguntou ao ver a face coberta pela máscara de ferro.
— Não... eu fui, a muito tempo atrás. Mas agora nem mais os carcereiros se lembram porque me prenderam.
— Então, quem é você?— Perguntou de novo a mesma questão.
A figura se manteve em silêncio, e as duas pessoas usado máscaras ficaram se interrogando qual seria a expressão que a outra estaria fazendo naquela situação. A menina nunca tinha se deparado com outra pessoa que não pudesse mostrar o rosto, e aquilo a fez pensar como era para os outros falar com ela sem ver o seu.
Os pensamentos falavam mais que as bocas, apenas o som das fagulhas da vela que iluminava o ambiente faziam barulho naquele momento.
Até que a figura, como se resolvesse um problema mental, tomou atitude para esclarecer tudo.
— Eu não sei quem eu sou...eu me esqueci. — Disse pausadamente e em tom baixo.
Sua voz tremeu como a de uma criança assustada.
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A Princesa e o Dragão
Historical FictionEm outro mundo, num passado longínquo, os humanos construíram uma sociedade distante da natureza, cercada por grandes e magníficas construções, que enchiam os olhos e o orgulho de quem as visse. Mas, o esplendor escondia o preço que foi pago para al...