Capítulo 14: a volta está longe de acontecer

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A semana que se seguiu depois de Aurora ter ido àquela estranha igreja, foi como todas as outras. Lise acordava cedo para ir ao trabalho, e a menina ficava solta a andar pelo castelo, descobrindo estranhos rumores e vendo as mais diversas situações. 

As únicas mudanças que haviam acontecido na rotina das duas, era que Aurora ia todos os dias ver aquele estranho da floresta, ajudando-o a se recuperar, e depois alimentava o pássaro que quase tinha sido morto pelo príncipe. E Lise recebia todos os dias uma cesta com alimentos diversos. 

De início, a mulher pensou naquele gesto como algo incômodo, que ela deveria acabar antes que sua situação se complicasse com a inspetora. Mas depois de alguns dias, percebeu que aqueles alimentos eram o que salvava Aurora e ela da fome. 

Com isso, dentro de um mês, sua filha passou a ter o peso ideal para a sua idade, não mais parecendo desnutrida. E a menina logo notou que sua mãe também ganhava um certo peso, principalmente na região da barriga, que agora parecia maior e mais protuberante.

A quantidade de comida era tanta, que até mesmo o homem da floresta, Gael, recebia alguns pães, e assim, parecia melhorar mais rapidamente. 

Certo dia, no caminho para encontrar Gael, Aurora se deparou com uma cena que ela não sabia como descrever. 

Ele estava ajoelhado na frente de um pequeno riacho olhando seu reflexo, parecendo que estava a lavar seu rosto. Mas ao colocar a mão na água, esta se tornou completamente escura, formando uma mancha negra que ia cobrindo todo o riacho. 

Então, o seu reflexo na água mudou de forma, mostrando a imagem de outra pessoa em seu lugar. Era um homem, um pouco mais velho, de cabelo grisalho e óculos circulares pequenos, usando um terno. De repente, o reflexo começou a falar. 

— Você está parecendo muito melhor, Vossa Excelência. 

— Sim, logo poderei voltar e continuar meus planos.

— Mas quem está ajudando-o a se recuperar? Algum mago conseguiu encontrar sua localização?

— Não... e é melhor que não o façam, pois estou dentro da barreira de um feudo humano.

— ESTÁ DENTRO DE UMA BARREIRA?! Você sabe o quanto isso pode te enfraquecer?!

— Sim, sim... mas eu não tenho opção agora. Ou eu fico aqui até me recuperar totalmente, ou tento escapar e corro o risco de ser pego.

O homem no reflexo ficou em silêncio, parecendo pensativo, e Aurora, que tudo assistia, escondida atrás de uma árvore, estava confusa sem entender o que aquilo significava.

— Mas me diga, quem está ajudando a Vossa Excelência? Temos que pagar este humano pelo que fez. Não é qualquer pessoa que estaria disposta a ajudá-lo.

— É uma criança.

— Uma criança humana?

— Sim, eu não sei bem ao certo se é humana ou não... ela tem uma energia diferente.

Os dois ficaram novamente em silêncio, até que Gael, soltou um suspiro preocupado, como se lembrasse de algo.

— Ela me faz lembrar ele.

— Não me venha falar daquele erro de novo! Vossa Excelência sabe muito bem o destino de um filho mestiço, e não queremos mais aquela criança por perto.

Gael parecia confuso ao ouvir aquilo, como se um passado transformado em presságio lhe fosse dito... mas aquilo era algo que ele não queria aceitar. Sua expressão de preocupação se tornou cada vez mais tensa. 

Ele via o passado se repetir em sua mente.

Então, Aurora que estava tentando se afastar dali, porque percebeu que estava ouvindo algo que não deveria, sem querer pisou em uma folha seca que fez um alto barulho crocante. 

A Princesa e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora