Capítulo 19: um passado não contado

192 26 33
                                    

O chão frio estava úmido devido a uma goteira no teto, que pingava de tempo em tempo no rosto de uma menina. Deitada em um pouco de palha, ela respirava de forma frágil. Se mexia às vezes, parecendo ter um pesadelo, o que fazia o cabelo loiro mover-se e descobrir seu rosto. 

Era magra, mas parecia já ter 7 anos, e se não fosse pela sujeira que cobria seu rosto e braços, pareceria uma anjo. A única diferença eram seus olhos, de cor roxa, que agora abriam parecendo confusos. O cílios brancos piscavam rapidamente tentando entender a situação.

Barras de ferro grosas e espessas e paredes de pedra, foram as primeiras coisas que Aurora viu ao abrir os olhos. Estava presa. 

— Não pode ser! — Falou indignada se agarrando nas barras de ferro.

— ME TIRA DAQUI! AAAA! — Gritou ela enquanto sacudia as grades.— AAAAAAAA!

— Sshhh! O que está fazendo? Vai chamar a atenção dela! — Sussurrou uma voz ao lado.

— AAAAAAAA! — Ela gritou de novo só para provocar a pessoa que estava ao lado. 

— Sshhh! O que você está pensando?! — Sussurrou novamente a voz.

Estranhamente, era uma voz que a menina conhecia, mas não se lembrava de onde. Ela vinha da cela ao lado, de onde uma mão usando luvas negras apareceu acenando. 

— Quem está aí? — Perguntou Aurora.

— Sou eu... parece que nos encontramos de novo. 

— Quem é? Não consigo te ver. — Falou a menina tentando passar a cabeça pelas barras de ferro para ver quem era aquele que com ela falava. Mas ela era cabeçuda demais, e só conseguiu sujar sua testa com a ferrugem.

— Nos encontramos na igreja, lembra? Mas você... — Um alto som interrompeu a conversa. 

Era o barulho de uma grande porta de metal abrindo. Depois, passos rápidos vieram na direção de Aurora, que ligeiro foi para o fundo da cela tentando escorde-se da pouca luz daquele ambiente. Ela tapou o rosto com as mãos. Era uma tentativa inútil de se esconder, até porque quem se aproximava já sabia o que iria ver. 

— Então está acordada. — Falou uma mulher. 

A menina olhou de canto para ela, pois já sabia quem lhe dirigia a palavra. 

— O que você quer de mim?  — Perguntou sem medo a pequena. 

— Olhe para mim enquanto fala comigo. — Respondeu a mulher. 

Mas ela não se virou. 

— Ótimo, então fique aí e apodreça. — Disse ao dar as costas à cela, e foi logo se afastando.

— Espera! Me tira daqui! — Suplicou Aurora com medo.

— Então, se quer sair daí, se aproxime para que eu possa te ver. 

Não havia outra forma, e por isso, a menina fez o que era pedido a ela. 

— Exatamente como eu pensava! — Exclamou a mulher ao observar o rosto da menina. 

Mas só observá-lo não era suficiente, por isso pegou o pequeno rosto com as mãos, e ficou a analisá-lo, movendo-o de um lado para o outro. Sua unhas roxas penetravam no pequeno rosto.

— É igual... — Falou ela parecendo se lembrar de outra pessoa. 

— Então vai me soltar? — Disse a menina se afastando bruscamente das grades. 

Mas a mulher não respondeu nada. As duas ficaram a se olhar como se medissem forças, prontas para atacar, e ela parecia estar gostando da atitude da menina. Seus olhos azuis se deleitavam daquilo. 

A Princesa e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora