— Eu não te vi vindo... — Disse o dono da mão que era estendida em auxílio à Lise.
Ela olhou para o homem que estava à sua frente, e sem querer, o fez corar. Só então ela percebeu que seu cabelo estava solto e formava ao seu redor, uma coroa que se estendia até o chão onde ela estava sentada.
O homem, que era mais velho que ela, porém ainda jovem, tinha os olhos azuis escuros como o mar, cabelos longos reluzentes. No rosto, uma feição bela e simples, que o tornava simpático. Mas não era hora de ficar olhando aquele estranho.
Então se levantou o mais rápido que pode sem aceitar a ajuda do estranho. Continuou seu caminho sem nem mais trocar um olhar sequer com ele. O estranho ficou sem jeito no mesmo lugar em que estava, como se a vergonha o paralisasse.
Contudo, ao chegar a sala em que Laura estava, ela logo percebeu que ele a seguira, pois Laura, que polia os móveis com cera, rapidamente franziu a testa se perguntando quem era aquele homem bem trajado.
Conhecidas que eram, e usando os poderes telepáticos que só as mulheres conhecem e possuem, Laura logo entendeu a situação por meio de alguns olhares trocados.
— Que bom que você chegou! Preciso que vá polir os móveis da sala ao lado. Pode ir por essa porta.
A colega de trabalho estendeu um pano e cera, e empurrou-a pela porta do lado. Era a salvação de Lise.
— Com licença? Espera só um pouco.... — Dizia o homem seguindo as duas mulheres.
Mas felizmente, Laura deu um safanão em Lise e a jogou para a outra sala conseguindo fechar a porta. O homem, sem saber porque aquilo acontecia, ficou esperando alguma explicação.
Lise tinha ficado feliz com aquilo, e agradeceu por ter Laura, que era uma amiga rápida e prática. Ela saberia lidar com a situação.
— Precisa de algo meu senhor? — Disse Laura de um jeito educado.
— Eu gostaria de falar com sua colega...
— Infelizmente ela está ocupada com trabalho agora mesmo.
— Mas será rápido, eu só preciso saber o nome dela.
— Creio que não vai ser possível. — Falou de cabeça baixa.
— Como ousa falar assim comigo? Eu sou um nobre! Mesmo que esse não seja meu feudo, eu tenho muito mais direito sobre as coisas e pessoas aqui do que você!
Laura tremeu na base, mas decidiu que não recuaria. Estancou seu corpo firme e levantou o rosto.
— Não é que eu esteja tentando ir contra a vontade de Vossa Senhoria... é só que as criadas que se atrasam para o trabalho são açoitadas... e eu creio que o Senhor não quer vê-la ser açoitada.
Ele ficou quieto ponderando aquela meia verdade. Depois de um tempo, pareceu aceitá-la, e fez um último pedido a criada.
— Por favor passe essa mensagem à sua amiga. Diga a ela que se ela precisar de ajuda, eu posso tirá-la daqui, posso dar uma vida melhor a ela.
Laura acenou que sim, mas seu rosto parecia entender muito mais do que estava escondido por trás daquelas palavras.
— E diga a ela meu nome. É Fernando.
— Pode deixar meu Senhor. Agora, se você me der licença, tenho que voltar ao meu trabalho.
— Sim, sim...
Nisso, ele se dirigiu à porta, e logo sumiu da mesma forma que havia surgido. Laura foi até a porta ao lado, e bateu de leve chamando Lise.
— Ele já foi... pode abrir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Princesa e o Dragão
Historical FictionEm outro mundo, num passado longínquo, os humanos construíram uma sociedade distante da natureza, cercada por grandes e magníficas construções, que enchiam os olhos e o orgulho de quem as visse. Mas, o esplendor escondia o preço que foi pago para al...