Prólogo

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- Tu é um cínico, André! – Vitória gritava, grossas lágrimas rolando pelo seu rosto. – Como eu pude ser tão idiota assim? Por isso os telefonemas misteriosos, aqueles caras esquisitos e parecendo mafiosos indo no escritório todos os dias, suas saídas repentinas no meio da noite...

- Olha só a vida que você tem, Vitória! E tudo isso eu quem te dei! – O rapaz respondia, tentando impedir a mulher de passar.

- Eu trabalho, seu crápula! Boa parte das coisas aqui também são frutos do que eu ganhei trabalhando honestamente! Some da minha frente, seu mentiroso! Eu vou embora, não quero te ver nunca mais!

- Você só sai daqui se eu deixar. E, agora, eu digo que não – o homem se pôs na frente da porta, cruzando os braços.

A moça o empurrou e conseguiu correr, arrastando uma mala, mas ele a alcançou. Depois disso, escuridão...

Hospital Geral de SP, 22h50

- O que temos? – Perguntava a dra. Ana Clara Caetano a uma enfermeira que a conduzia pelos corredores gelados do hospital.

- Queda de dois lances de escada. A paciente é uma moça, 26 anos. Suspeita de TCE com Glasgow 12, fratura em epífise de rádio e ulna e múltiplos ferimentos.

Nesse momento, a jovem médica, que já se encontrava paramentada, pega sua lanterna para avaliar o reflexo pupilar da paciente e se depara com uma das mulheres mais lindas que já vira. Mesmo completamente machucada, a moça parecia emanar uma singela beleza, que captaria o olhar até mesmo do mais distraído dos seres. De longos e loiros cachos, com uma pele branquinha e traços perfeitos, ela já atraíra a atenção da dra. Ana, penalizada por vê-la naquela situação, mesmo sem sequer conhecê-la. Mas foi somente quando a médica abriu os olhos de sua paciente que sentiu sua alma ser tocada. Jamais vira íris tão lindas, com uma cor tão singular. Elas lembravam vagamente a tonalidade do planeta Marte.

- A tala estabilizou momentaneamente as fraturas e já vamos cuidar dos ferimentos – começou Ana. – Mandem preparar a sala de TC, vamos levá-la para lá. O Glasgow está rebaixando pelo que vi agora, já em 11, então precisamos avaliar o grau do TCE, que, por meu exame, já é diagnóstico praticamente certo.

- Tudo bem, doutora. Vamos cuidar de tudo.

- O prontuário dela já está preenchido? – Perguntou Ana.

- Sim, os paramédicos encontraram os documentos na bolsa dela e preencheram. Aqui está – a enfermeira entrega a ela uma ficha.

- Vitória. Vitória Falcão. – Ana lê, muito mais para si do que para qualquer pessoa que estivesse naquela sala – Que nome lindo... – Sussurra, tão hipnotizada por ele quanto pela dona.

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