Alguns dias depois do acidente, Ana, ainda com a perna engessada, teve alta do hospital e voltou para casa, para o carinho de sua família. Seus pais iriam ficar para ajudar com os preparativos do chá revelação do bebê, assim como a mãe de Vitória, e os outros voltariam em tempo para a festa. A polícia havia entrado em contato com as meninas, afirmando que a perícia encontrara fios de cabelo no carro dos dois bandidos, e os testes de DNA comprovavam que fosse de Deco, mas nada além disso, o que os levou a crer que ele realmente tinha morrido e tido o corpo carbonizado na explosão, sem nem terem ideia que ainda estava por aí, maquinando maldades. Não demorou que a notícia fosse divulgada, e André, ao assistir a "própria morte" no jornal, ficou estranhamente satisfeito, explicando aos seus comparsas que, ao acreditarem que ele estava morto, a PF não o perseguiria mais, dando-lhe assim carta branca para fazer o que bem entendesse sem que suspeitassem dele.
Ana ainda sentia a perna doer um pouco, e obviamente incomodava-se em ter que andar de muletas, mas foi se adaptando. Dani, vendo a mãe naquele estado, perguntou para ela e Vitória sobre o que havia acontecido, e elas lhe explicaram da maneira mais tênue possível, falando que logo sua mamãe Ninha poderia voltar a brincar e correr com ela pela casa.
Naquela dia específico, aconteceria o chá revelação, e as meninas estavam muito ansiosas em saber o sexo do bebê, embora não tivessem preferência por um ou outro. A casa estava cheia com os parentes e alguns amigos delas, e Vitória corria de um lado para o outro, atendendo ligações e explicando como queria tudo, vez ou outra falava com Ana para checar a opinião dela, enquanto tentava tomar café-da-manhã para ir ao salão de festas, quando escuta o barulho de coisas caindo, seguido de um resmungo, e vai até a cozinha olhar do que se tratava.
- Droga - Ana balbuciava, olhando a bagunça que estava na pia.
- Ninha - Vitória chama a atenção dela, que se vira para encarar a esposa. - O que houve, vida?
- Eu sou um desastre, Vitória - Ana diz, batendo a mão em um copo e o derrubando no chão com uma certa força. - Foi isso que aconteceu.
- Para de bobeira, amor - Vitória se aproxima dela, tentando ajudá-la.
- Não é bobeira, Vi. Eu tô cansada - confessa Ana, suspirando. - Tu tá tendo que fazer tanta coisa sozinha, tá cuidando da Dani e das coisas da festinha do bebê e ainda tendo que tomar conta de praticamente tudo aqui em casa e das coisas do teu trabalho... Eu deveria estar te ajudando, mas, ao contrário, tô sendo só um estorvo mesmo, pra ti e pra todo mundo. Não posso trabalhar, não posso fazer nada por causa da droga desse gesso. Tô praticamente uma inválida.
- Ninha, eu não vou deixar tu ficar falando essas barbaridades sobre ti - Vitória fala, séria, acariciando o rosto de Ana. - Tu não tem culpa do que aconteceu, e nem me venha de novo com essa história de estar estorvando em nada, viu, Ana Clara?
Ana a olhava com os olhos marejados.
- A gente tá feliz que tu tá aqui, Ninha. Já pensou se acontecesse algo pior naquele acidente? Eu não aguentaria, a Dani não aguentaria, teus pais e irmãos também não. Então para de dizer que tu tá atrapalhando, princesa. Tu só tá em recuperação e precisa de cuidados, é só isso - Vitória sorriu, o sorriso que desmontava Ana todinha.
Ana colocou as muletas encostadas no balcão da pia e abraçou Vitória, e ela retribuiu com cuidado, segurando a esposa para que ela não caísse.
- Tu vai querer ir comigo no salão de festas ver como tá ficando tudo lá?
- Claro, amor. Vamo levar a pequena? - Ana agora pareceu se animar um pouco.
- Ela já deve tá até pronta, vida - Vitória fala, rindo, quando logo uma pequena criaturinha invade a cozinha, pulando e chamando as mães.
- Mamãe, mamãe! Vamos logo! - Falava Dani, afobada.
- Calma, pequena - diz Vitória, se abaixando para ficar na altura dela e arrumando seu lacinho. - Cadê teus avós?
Logo dona Mônica, dona Isabel e seu Edimilson aparecem.
- Estamos aqui, minha filha - diz dona Isabel. - Nós já vamos lá?
- Vamos sim - responde Vitória. - Cês podem ir descendo com ela na frente? Eu vou só ajudar Ninha a trocar esse pijama e já vamos também.
- Claro, Vi - seu Edimilson confirma. - Vem, pequena - ele chama Dani, que pula nos braços do avô, e os dois saem alegres e satisfeitos, fazendo Ana e Vitória sorrirem bobas.
As meninas passam o resto daquele dia na companhia da família, checando todos os detalhes da comemoração. Bárbara, melhor amiga de Ana e que já havia chegado no apartamento das meninas há alguns dias, foi junto com Ju e Lucas pegar o resultado do exame, então estavam à frente de boa parte da organização do evento, que não demorou a começar.
Ana e Vitória estavam com vestidos soltos e leves, em tons pastéis, sendo o da médica na cor azul e o da advogada na cor rosa. Elas se divertiam muito, e Ana até se esquecia da indignação que tivera por ainda estar andando com o apoio de muletas, quando finalmente chega a hora de saber se viria por aí um garotinho ou mais uma garotinha. Júlia, Lucas e Bárbara haviam encontrado uma maneira peculiar de fazer o anúncio: soltariam fogos de artifício na parte externa do salão de festas, que se iluminariam na cor azul se fosse um menino e na cor rosa se fosse uma menina, embora o assunto das cores no geral tenha causado grandes discussões de Ana e Vitória com todos, pois as meninas achavam errado limitar uma pessoa a uma cor, e falavam que o filho ou filha poderia usar qualquer cor que quisesse, mas, bem, usar justamente o azul e o rosa foi a maneira mais divertida que os amigos encontraram de contar para as mamães.
- Muito bem, gente, vem todo mundo aqui pra fora! - Bárbara gritava, convocando a todos. - Bora lá, Lu - falou para o amigo, que já estava com um rojão na mão, enquanto ela tinha outro e Júlia filmava tudo.
- Cuidado com o que cês tão fazendo, hein, bando de louco - diz Ana, rindo, enquanto estava do lado de Vitória e de Dani.
- Não se preocupa, Aninha - grita Bárbara. - Essa tem o selo Bárbara Firmino de qualidade.
- Se é por isso que eu tô preocupada - fala Ana, enquanto a amiga revira os olhos.
- Então, gente, vamo lá? - Pergunta Lucas, e todos começam a contagem. Parecia até um réveillon. - 5, 4, 3, 2, 1...
E soltam os fogos, que iluminam o céu de São Paulo, tingindo tudo de rosa, enquanto, apropriadamente, tocava a música A Cor é Rosa, de Silva, e Ana e Vitória se abraçavam, muito emocionadas, e envolviam Dani no abraço, tendo seus amigos e família, também emocionados, aplaudindo e comemorando ao fundo.
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Sanity Line
Romance"Aqueles olhos... quando os vi pela primeira vez, soube ali que não teria mais volta, e que eu seguiria sua dona para onde quer que fosse..."