Capítulo 15

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Enquanto voltavam para a casa, a chuva ficou bem mais forte, e, apesar de estarem se divertindo a brincar nas poças, o instinto de cuidado que era parte intrínseca de Ana começou a falar mais alto.

- Vi, vamos nos apressar, senão a gente vai acabar pegando um resfriado dos bravos - diz a médica.

- Tá bem, minha doutora - responde Vitória, dando beijinhos de esquimó na namorada, que sorri, puxando-a pela mão enquanto correm. 

Lá chegando, elas jogam as roupas encharcadas por qualquer canto, correndo para um banho quentinho. 

- Vamos, amor, vem comigo - fala Ana, conduzindo Vitória até o chuveiro. O frio era tanto que os corpos das duas estavam enrijecidos, mas logo relaxaram quando a água quente fez o primeiro contato com eles. Era impressionante como o grau de intimidade entre elas avançara tanto em tão pouco tempo, pois, mesmo que a advogada estivesse praticamente morando na casa da namorada desde o ocorrido com o tal traficante que trabalhava para André, não tinham tido um contato mais próximo como estavam tendo durante aqueles dias na serra. 

Aproveitaram o banho para admirar uma a outra, trocando carinhos inocentes e singelos, e saíram em seguida, logo agasalhando-se bem em pijamas de frio felpudos e entrando debaixo das grossas cobertas da cama. Ana acendeu a lareira e falou que iria buscar algo para que elas comessem. Logo voltou trazendo uma bandeja que continha duas xícaras fumegantes e pãezinhos com geleia. 

- Humm, o que tem aí? - Vitória perguntou, esticando a cabeça para tentar ver o conteúdo das grandes xícaras.

- O mais apropriado para um clima desses: chocolate quente. 

As duas comeram sem pressa e se deitaram, abraçadas, apreciando a bela visão das gotas que molhavam a janela do quarto, quando Ana quebra o silêncio.

- Sabe qual foi o exato momento que eu me apaixonei por ti? - A médica pergunta para a namorada, que sorri. Vitória amava o fato de Ana ser uma pessoa extremamente romântica e carinhosa com ela, apesar do tal apelido de Coração de Gelo.

- Não sei. Qual foi, meu amor?

- Quando tu chegou no hospital, depois da queda, eu tava de plantão na Emergência e fui receber a ambulância que te trazia - Ana olhava para cima, vagamente, parecendo relembrar o dia em que conhecera Vitória. - Tu tava cheia de machucados, mas, mesmo assim, não pude deixar de reparar nessa beleza tão singular. Quer dizer, ninguém poderia, né? - Vitória cora com o elogio. - Mas foi exatamente quando eu abri teus olhos pela primeira vez, pra avaliar teu reflexo pupilar, e vi essas íris cor de Marte, que eu soube que já tava perdidamente apaixonada.

- E o momento exato em que eu me apaixonei por ti foi quando abri essas mesmas íris cor de Marte e vi, ali, a pessoa que tinha me salvado, com lindos olhos cor de jabuticaba, o rosto de traços tão delicados e o sorriso tão iluminado e perfeito - Vitória se declara também. - E a cada dia que passa eu me apaixono mais por ti, mesmo que aqui dentro já exista um sentimento tão enorme que é imensurável. 

- Eu te amo, Vi.

- Eu também te amo, minha Ninha - responde Vitória, puxando a namorada para um beijo. Quando perceberam, suas roupas já estavam jogadas por qualquer canto do quarto e se amavam ali, ao som da chuva que caía lá fora, banhando o mundo de graças. Ao observar Ana dormir algum tempo depois, Vitória fez uma prece de agradecimento por tê-la em sua vida. Lembrou de André e de tudo o que passara com ele, por causa dele, e percebeu que, sem notar e com intenções completamente diferentes, ele, de certa forma, havia ajudado-a, fazendo com que conhecesse o amor da sua vida, mesmo que em circunstâncias tão fatídicas. Decidiu não se preocupar com tudo o que acontecia naquele momento e pôs de lado André Martins, seus comparsas, o assassinato de Conrado e todos os transtornos gerados por essa cadeia de acontecimentos, e entregou-se ao sono, segura, nos braços do seu amor. 

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