Capítulo 27

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O dia seguinte amanheceu de uma lentidão inquietante. Ana foi para o hospital e Vitória para o escritório, mas antes de saírem a médica prometera avisar à namorada logo que o dr. Pascoal confirmasse a reunião, para que ela pudesse participar, ajudando a contar o ocorrido. Os amigos de Cecília estavam incrédulos com o que acabaram descobrindo, quando a menina chegou em casa em prantos e lhes contou o que houve, mas no fundo sabiam que a amiga estava passando de todos os limites e, conhecendo o temperamento calmo da dra. Caetano, viram logo que Cecília deveria ter cometido uma falta muito grave. Acompanharam a médica sem sequer tocar no assunto, e notaram pela sua feição o quão incomodada ainda parecia, relacionando automaticamente ao que acontecera no dia anterior.

Por volta das 11h da manhã, o diretor médico do hospital bipa Ana e comunica que arranjou a reunião para depois do almoço, e, logo em seguida, ela liga para Vitória, para que viesse. Em decorrência disso, os alunos foram dispensados de suas obrigações no hospital pela tarde, já que não se sabia que horas a tal reunião terminaria. Não obstante, depois da prova prática que teriam, a qual Cecília obviamente não fizera, por ter seu destino ainda incerto naquela instituição, ficaram por ali mesmo, na cafeteria, curiosos em saber como findaria aquela história toda. Não demorou muito para que Vitória chegasse, indo direto para o consultório de Ana Clara. Elas almoçaram juntas e seguiram para a sala de conferências do hospital, para dar início às discussões, e Vitória tentou prestar seu melhor apoio à namorada, que estava tensa. 

Lá chegando, viram Cecília, de aparência triste e abatida, sentada ao lado de um homem e uma mulher, que presumiram ser seus pais. Do outro lado da mesa estavam o reitor da faculdade da menina, seu coordenador de curso, a dra. Gavassi e, na ponta, o dr. Marcos, que, após fazer as devidas apresentações, logo se pronuncia sobre o assunto que os levou a todos ali. 

- Bem, estas são a dra. Caetano e a srta. Vitória Falcão, advogada e namorada de nossa médica - inicia ele, indicando que elas sentassem nos dois lugares vagos, ao lado do reitor. - Já que estamos todos aqui, vamos começar. Eu convoquei esta reunião para esclarecer algo gravíssimo: um caso de assédio. A dra. Ana Clara Caetano nos reportou, ontem, que a interna Cecília Müller vinha perseguindo-a constantemente desde que começaram a preceptoria.

- Desculpe interromper, senhor - diz o reitor. - Mas posso fazer uma pergunta à dra. Caetano?

- Claro - confirma ele.

- Dra., se já faz um tempo considerável, por que não nos comunicou nada? - Pergunta ele.

- Senhor, eu tinha plena ciência de que essa era a atitude certa a se tomar - começa Ana. - No entanto, sabia que a interna com certeza seria expulsa, quando tão grave acusação se confirmasse. Então, achei de bom tom conversar com ela primeiro, porque achava que isso seria o suficiente. Aparentemente, não foi.

Ele assente, compreensivo.

- Cecília - começa o homem que estava sentado ao lado dela, presumivelmente seu pai - , essa história toda que sua preceptora está contando é verdade? 

A garota nada falou, permanecendo com a cabeça baixa, claramente envergonhada. 

- Vamos, fale! - Ele se exalta. - Você sabe muito bem que quem cala consente!

- Calma, Pedro - diz a mulher que deveria ser a mãe de Cecília. - Está assustando a nossa filha.

- Isso é o mínimo que ela merece, depois de nos fazer passar por tamanho desgosto - ele esbraveja. - Fale alguma coisa, Cecília! - Pedro Müller grita novamente, e a filha começa a chorar.

Vendo a tensão na sala aumentar, o dr. Pascoal tenta intermediar a situação.

- Senhores, por favor, tenhamos calma - diz ele.

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