Capítulo 22

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Ana abria os olhos lentamente, e aos poucos tomava consciência de tudo o que havia acontecido. Que infeliz ironia do destino, afinal geralmente ela estava do outro lado, observando o paciente acordar, e agora havia tomado esse lugar para si totalmente contra a sua vontade. Seu corpo todo doeu quando tornou a si, parecia até que tinha sido atropelada por um trem. No entanto, não havia perdido a memória e recordava (infelizmente ou felizmente, depende do ponto de vista) cada tormento que havia enfrentado junto com Vitória nas mãos dos dois crápulas. Sim, porque até mesmo Mike estava ali, um fantasma do seu passado que voltara para lhe assombrar. Ela sentiu uma mão segurando a sua e a apertou levemente, antes de abrir os olhos por completo e olhar a pessoa, e seu coração se aqueceu ao ver quem era. 

- Aninha, minha filha! - Exclama seu Edimilson. - Que alegria te ver acordada de novo. 

- Oi, papai - Ana retribui o carinho, abraçando-o com cuidado. - Que bom te ver também.

- Não sabe o quanto nos deixou preocupados - ele desabafa, enxugando uma lágrima no canto do olho. 

- Agora tá tudo bem, eu tô aqui - ela tenta tranquilizá-lo. - Mamãe veio também?

- Sim, ela, Luana, Rafael, Éryka... Todos vieram aqui te ver durante esses dias - ele responde.

- Esses dias? - Ana arqueia uma sobrancelha. - Por quanto tempo eu estive dormindo?

- Três dias - seu Edimilson suspira. 

- E onde eles estão agora? 

- Éryka foi para o seu apartamento, tá lá com Bel, tão tomando conta dos pequenos. Rafael tá com Luana e tua mãe na cafeteria do hospital.

- E Vitória? O senhor chegou a vê-la? - Ana pergunta, receosa, mas recebe do pai uma expressão muito tranquilizadora em resposta.

- Ela tava aqui agora há pouco, mas foi junto com tua mãe e os outros. Que sorte a tua ter encontrado essa moça, minha filha. Ela realmente te ama, não saiu do teu lado um só minuto desde que tu entrou aqui - seu Edimilson fala, com os olhos brilhando. 

Bem nessa hora, dona Mônica entra no quarto, acompanhada dos dois filhos e da nora, que não conseguem conter a surpresa ao verem Ana acordada e aparentemente bem. 

- Filha! - Exclama dona Mônica, correndo para abraçá-la, sendo seguida por Rafael e Luana. Vitória, magra e com o semblante abatido pelos dias intensos de preocupação e estresse que tivera, finalmente sorria de novo ao ver a interação da família. Então, Ana sorri pra ela, como convidando-a silenciosamente a se aproximar. E é o que ela faz, envolvendo cuidadosamente os braços no pescoço da namorada. 

- Meu amor, tu não sabe a alegria que eu tô em te ver de volta - Vitória diz, emocionada. - Achei que fosse te perder - ela sussurra a última parte, enquanto Ana acariciava seus cabelos.

- Tu não vai me perder nunca, Vi. Nunca.

- Brigada por tudo que fez por mim, pela tua coragem, pela tua força. Eu te amo.

- Também te amo.

Envoltas na própria bolha, mal perceberam quando os médicos, dra. Gavassi e dr. Bittencourt, entraram na sala, chamados por Luana. Explicaram brevemente para Ana o que houve, falaram que precisaria manter o dreno de tórax por mais um dia mas que logo seria retirado e que em no máximo dois dias ela teria alta, se tudo continuasse a correr bem. Depois que saíram, foi a vez da família atualizar Ana sobre as novidades. Vitória, que havia sido liberada do hospital dois dias antes, contou tudo para os Caetano, que, chocados com tamanha brutalidade de André e Mike, decidiram ficar um tempo por perto até terem certeza de que tudo estava bem com as duas moças. A cacheada confirmou o que Ana vira, revelando toda a verdade sobre Mike, o que não surpreendeu a médica nenhum pouco, assim como sua família, com seu pai dizendo que nunca tinha gostado mesmo do tal rapaz. A notícia ruim era que ainda não haviam conseguido pegar os dois traficantes, que, de algum modo, tinham conseguido dar uma bela balela na polícia. Não se sabia exatamente como, mas eles fugiram do helicóptero, que, apesar de ter sido interceptado pouco tempo depois da conversa de Almeida com Vitória, Lucas e Júlia, não levava nem sinal dos dois homens, tendo tido cada canto vasculhado por agentes da PF. 

A polícia não desistia de prender Martins e Túlio, trabalhando incessantemente nas investigações, intensificando a fiscalização nas fronteiras e pondo seus melhores agentes em campo. Não obstante, as meninas decidiram tentar seguir a vida e esquecer um pouco do que havia se passado, afinal de contas, não podiam fazer muita coisa. Como previsto, dois dias depois Ana saiu do hospital, voltando para casa, para o carinho da família e da namorada. Até mesmo sua sogra e cunhadas haviam vindo para São Paulo visitá-la, e fizeram uma grande festa de boas-vindas para recepcioná-la quando chegou finalmente em seu apartamento. Por insistência própria, Vitória foi para o apartamento de Júlia nos dias que a namorada passara internada, tendo levado consigo a família e falando que assim daria mais privacidade para os Caetano. Ali, vendo as pessoas mais importantes da sua vida reunidas, Ana Clara não pôde deixar de fazer uma prece de agradecimento a Deus e ao Universo, por todas as novas chances que recebia diariamente. 

Aproveitaram bastante o dia que passaram juntos, fizeram uma noite de pizzas e muitas risadas, com as brincadeiras dos sobrinhos de Ana e as zoeiras de Luana e Ana Beatriz, que haviam se juntado para encabular as irmãs, fazendo piadas que deixavam Ana e Vitória violentamente coradas e querendo enfiar a cara embaixo do travesseiro mais próximo para escapar da vergonha, o que rendia altas gargalhadas dos outros. 

Já tarde, decidem ir dormir, e as meninas, depois de se despedirem de todos, vão para o quarto. Como Ana ainda tinha alguns curativos pelo corpo, Vitória a ajudou a tomar banho, limpou os ferimentos e fez novos curativos, auxiliando-a também a vestir seu pijama.

Quando se deitam, Vitória nota o silêncio da namorada e se vira pra ela, tentando puxar conversa.

- Hoje foi bem lindo, né, amor?

- Aham - diz Ana, bocejando. - Tô muito feliz com todos eles aqui, e em estar de volta, nos teus braços de novo, sem ter medo de alguém vir nos fazer algum mal.

- Nem me fale, Ninha. Finalmente esse pesadelo acabou... E eu tô muito aliviada em te ter aqui, bem, junto comigo. Não faça mais uma loucura daquelas.

- Amor, ir atrás de tu não foi loucura. Eu fui atrás da minha vida, porque se ele faz alguma coisa contigo, é como se fosse comigo. Não sei viver num mundo sem esse sorriso.

- E eu não quero é nem pensar em viver num mundo sem o teu sorriso, vida. Brigada, tá?

- Não precisa agradecer. Fiz isso pela minha vida, não foi? - Ana diz, sorrindo de canto. Como Vitória sentira falta daquilo...

Em resposta, a cacheada apenas sorri, e acaricia o rosto de Ana, se aproximando para um beijo. Ali, nos braços uma da outra, finalmente relaxam, entregando-se àquela demonstração de carinho e, acima de tudo, de alívio, por tudo ter acabado bem. Pelo menos por enquanto...

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