Capítulo 29

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No dia seguinte, Ana volta ao hospital, ansiosa por estudar o caso da pequena Daniella, enquanto Vitória vai ao escritório. As duas tinham passado boa parte da noite conversando sobre a garotinha, e a médica, na frente da namorada, perdeu toda a postura de forte que lutava para demonstrar à paciente e sua avó, derramando-se em lágrimas. A cacheada, por sua vez, também estava muito comovida com tudo aquilo, e tentou dar seu melhor suporte à Ana, mesmo que tivesse chorado tanto quanto ela. Ela chegou em seu escritório de óculos escuros, pelos olhos ainda inchados, e foi para sua sala em silêncio, depois de sibilar um rápido "bom dia" para a recepcionista, diferente dos seus tão alegres cumprimentos costumeiros.

Dentro de pouco tempo, Júlia aparece na sala da amiga, acompanhada de Lucas. Os dois haviam ficado preocupados quando Vitória falou que não voltaria ao escritório na parte da tarde do dia anterior, já que ela não havia esclarecido o motivo, afirmando apenas que ela e Ana estavam "bem" e que depois explicaria melhor do que se tratava.

- Oi, gente - fala Vitória, com a voz mais rouca do que o normal. Quando ela levanta a cabeça, já sem os óculos escuros, os amigos logo notam que havia chorado e, pelas olheiras, que também não deveria ter dormido direito na noite passada.

- Vi, tá tudo bem? - Pergunta Lucas.

- Por que você tava chorando, amiga? - Júlia emenda.

- Na verdade, comigo tá tudo bem - ela diz, enxugando uma lágrima que escorreu pelo canto do olho.

- Tem alguma coisa a ver com a Ana? - Júlia pergunta. - Vocês brigaram, foi isso?

- Não, Ana tá bem e a gente não brigou não - ela diz.

- Então, o que foi que aconteceu pra você estar chorando assim? - Lucas questiona. - É algo relacionado com o fato de você não ter voltado ontem à tarde pro escritório?

Vitória assente.

- Ontem, tivemos aquela reunião com o reitor da universidade, o diretor do hospital e os coordenadores de curso daquela garota que vinha assediando a Ana, lembram? 

- Sim, claro que lembramos - afirma Júlia. - E aí, no que deu? Vão denunciar, né?

- Amiga, acabou que, no final, houve uma emergência e biparam a Ninha. A gente nem confirmou nada. 

- Mas o que aconteceu com a tal Cecília? - Pergunta Lucas, curioso.

- Nós ficamos de ver isso depois, porque ela não tem nada a ver com o motivo desse meu abatimento - responde Vitória. - E também, a Ninha não tá com cabeça pra lidar com nada relacionado àquela garota perturbada. 

- Vi, você tá me deixando preocupada - diz Júlia.

- E a mim também - fala Lucas, sério. - O que houve?

- Essa emergência da Ana era a Dani, uma garotinha de 7 anos que estava tendo uma convulsão - diz Vitória, recomeçando a chorar. Os amigos se entreolham, preocupados, mas nada falam, esperando que ela continue. - Meu amor operou ela tem um tempo, de um tumor cerebral em algum nervo central, e ontem fizeram uma tomografia, mas não viram sinal algum de que a doença pudesse ter voltado. Ninha tá investigando tudo, porém acha que foi uma crise isolada.

- E então? - Júlia a incentiva a falar.

- Quando nós voltamos pro quartinho dela, a avó estava lá. E ela contou tanta coisa, nossa... - Vitória coloca as mãos sobre o rosto, suspirando pesadamente. - A mãe da Dani foi abandonada pelo pai da garotinha assim que ele descobriu que ela estava grávida. Quando a menina completou 2 anos, a moça, Jade, o nome dela, morreu num acidente de carro.

- Minha nossa, Vi - diz Júlia, estarrecida.

- E não é tudo. A avó dela, dona Alda, teve que criá-la sozinha com o marido, sem apoio nenhum, porque só tinha a Jade de filha. Ano passado o avô da Dani faleceu, e agora são só as duas - Vitória completa a história, triste.

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